Por Egon Heck, Secretariado Nacional – Cimi
Reverberando o movimento indígena, os Kayapó, em audiência com o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disseram que caso os parlamentares insistissem na aprovação da PEC 2015, semanalmente povos de todo o Brasil se fariam presentes em Brasília para protestar e dizer não ao projeto.
Nesta semana, os povos Suruí, Cinta Larga, Arara, Puruburá, Wajonô, Karitiana, Guarassungue, Oro Waram Xijein, Oro Mon e Oro Waram farão ouvir o seu grito contra a PEC 215 e todas as iniciativas anti-indígenas tramitando no Congresso, no Executivo e no Judiciário. São os povos indígenas de Rondônia mobilizados. Os problemas e desafios contra os quais estão lutando são múltiplos. Porém, a “questão que envolve tudo é a terra, a demarcação e proteção”, afirma Agenor Karitiana.
Durante essa semana terão audiências e contatos com diversos órgãos e instituições dos Três Poderes. Conforme Agenor Karitiana “já lutamos muito. Enfrentamos inimigos perigosos. Fomos aos poucos construindo nosso movimento e organização. Vimos que o inimigo nosso está muitas vezes dentro do governo. Os que deviam proteger nossos direitos são os que tentam impedir a demarcação de nossas terras”.
Para o indígena, a postura do governo federal faz o jogo do fazendeiro. “Hoje temos novas lutas contra as PECs, contra os projetos de REDD, captura de carbono, que vem ameaçando o território Suruí, provocando conflitos internos. Mas nós vamos falar duro na defesa dos nossos direitos e denunciar o que ameaça nossos povos”, afirma.
Agenor luta pelos direitos de seu povo e dos povos indígenas desde o período da Constituinte, na década de 1980, e ressalta a importância desse momento e a grande participação dos jovens e das mulheres. “Olha aí, esse é meu filho e aquele é filho de Eva Kanoé e Piau, lá de Sagarana”. E avisa: “No início de abril vamos fazer uma grande Assembleia dos povos indígenas de Rondônia. Vamos fazer ouvir o nosso grito e cobrar do governo nossos direitos”.
Terra, o problema número um
Dentre os principais problemas, ressaltam os indígenas a paralisação do processo de demarcação das terras dos povos Cujubim, Miguelem, Wajoro, Puruburá, Cassupá, Kaririana, Kaxarari, além da extrusão da Terra Indígena Rio Negro Ocaia.
É grave a situação de invasão dos territórios indígenas em Rondônia, por madeireiros, empreendimentos do governo federal, incluindo pequenas centrais hidrelétricas.
Outro grande problema que enfrentam os “povos resistentes” (aqueles que saem do silêncio imposto pela colonização) de Rondônia é a morosidade no reconhecimento étnico, caso dos povos Guarasugwe e Chiquitano, além da documentação dos povos Cujubim, Miguelem, Warojo, Puruburá e Cassupá. Eles vêm cobrar do governo, por intermédio do Ministério da Justiça e Funai, agilidade nesses processos e a garantia dos direitos coletivos, especialmente à terra, mas também saúde e educação, entre outros.
Vítimas da borracha, dos garimpos, dos madeireiros e da colonização
A partir da década de 1960 e principalmente de 1970, houve a invasão massiva e sistemática dos territórios indígenas em Rondônia por projetos de colonização, pela expansão da frente agropecuária e garimpeira. O grande estímulo a essas invasões se deu a partir da construção da BR 364, que cortou as terras de vários povos e forçou a rápida e irresponsável “pacificação” de vários povos. Basta lembrar a terrível chacina dos Cinta Larga, do Paralelo 11, a mortandade dos Pacaás Novos – Oro Wari, da região de Guajará a Mirim.
Um relato da época menciona que no início da década de 60 o contato precipitado com os Pakaa Nova – Oro Wari fez com que o povo fosse reduzido de 3 mil para menos de 500 indivíduos (Folha do Acre 17/07/1963). “Confirmando reportagens por nós divulgadas, a fome, a doença e aventureiros inescrupulosos estão dizimando os índios Pacaás Novos, que habitam as selvas de Rondônia. De um grupo de 400 selvícolas restam apenas 91, em estado precário. Essas foram informações prestadas à imprensa pele Dr. Noel Nutels” (Alto Madeira, Porto Velho, 16-03-1962).
Poderíamos elencar inúmeros casos de violência e extermínio dos povos indígenas de Rondônia. Mas eles sobreviveram a todas as formas de violência, e hoje estão em Brasília, trazendo seu grito da selva e do massacre aos responsáveis pelo Estado brasileiro.