Refinaria: sonho, de quem?

João Facundo*, O Povo On Line

Não entrarei nos méritos econômicos e/ou políticos que a decisão sobre a desistência da implantação da refinaria no Ceará carrega, mas, gostaria de lembrar uma relação que não se mede economicamente e muito menos através das obscuras práticas políticas. Refiro-me, ao desrespeito que foi criado às tradições indígenas que ainda resistiam nas terras que foram “desapropriadas” para a construção da infraestrutura que abrigaria tal conjunto. 

Aproximadamente por cinco anos travou-se luta jurídica e social para que o “progresso”, na região de São Gonçalo do Amarante, não ocultasse os povos que historicamente residiam naquelas terras, seja por antropólogos, seja pela própria tribo Anacés. Em 2010, um estudo feito pelos pesquisadores Max Maranhão Piorsky e Isadora Lidia Gonçalves, a pedido da Petrobras, afirmava que “implantação da Refinaria Premium II trará (ria) consequências irreparáveis”, ao modo de vivência da população indígena local. E os mesmos pesquisadores encerravam afirmando serem “contrários à implantação da refinaria Premium II”.

Para o grande capital a relação dos indígenas com a terra não é compreensível. E isso se dá basicamente porque para o capital especulativo a terra é uma mercadoria e não importa o que e nem quais as relações que com ela se estabelece. Assim, para o(s) governo(s) os índios e suas terras são sinônimos de atraso e de entrave para o um pseudo “desenvolvimento”. Desta forma, no processo de desapropriação a busca por alternativas que preservasse o arcabouço histórico do povo Anacés tornou-se um questão de “perca de tempo”. A pergunta que volta e meia se coloca de quem realmente ganharia com esse empreendimento, foi diversas vezes tergiversada com a resposta que seria o “povo do Ceará”.

Vejam vocês! Foi-se a refinaria, foi-se uma parte da população Anacés retirada de suas terras… O acordo hora estabelecido dos índios com o governo não foi chancelado por um conjunto de ideias nas quais a preservação de sua história fosse o marco principal, mas, por uma pressão do estado. O povo Anacés convencido de que o mal já estava para acontecer concordou com o “mal menor” e a duras penas com algum benefício.

Por fim, se para alguns a refinaria representou um sonho de superávit nas contas do estado ou em diversas contas particulares, para os Anacés foi um pesadelo que não teve fim. Estão fora das terras onde pisaram seus ancestrais, suas memórias.

Como diria Chico Anysio: “Melhore mundo moderno, mundinho de m….”.

*João Facundo, teólogo.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.