Depois de sucessivos julgamentos e até cancelamento de veredicto, acusados de serem mandantes do crime continuam soltos
Por Beth Begonha, Rádios EBC
Dom Erwin Krautler é uma das maiores lideranças da amazônia. Sempre trabalhando junto às populações tradicionais, ele próprio é obrigado a viver sob escolta policial permanente tantas as ameças de morte sofridas ao longo dos anos por causa de sua defesa da floresta e dos pobres que nela habitam.
O bispo acompanha de perto o trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que revela que quase 70% dos crimes motivados por conflitos agrários aconteceram na Amazônia Legal. Aliás, os dados da CPT são estarrecedores. De 1985 a 2013, a justiça recebeu 768 inquéritos de assassinatos no campo na região amazônica. Apenas 5% desse total chegou a julgamento, segundo a CPT. Pior: somente 19 mandantes receberam algum tipo de punição, sendo que a maioria responde às acusações em liberdade.
A irmã Dorothy foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005 no PDS Esperança, um projeto de assentamento cuja filosofia era o desenvolvimento sustentável, onde a selva exuberante, convivia com áreas de plantação dos assentados. Os moradores, no entanto, vinham sendo assediados por madeireiros, que os coagiam com ameaças e a presença constante de pistoleiros rondando o assentamento.
Dorothy Stang vinha denunciando a violência e as ameaças de morte há pelo menos um ano. Em 2004 a religiosa esteve em Brasília, por mais de uma vez, onde ofereceu denúncias ao Ministério da Justiça, à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, e participou da CPI Mista da Terra, na Câmara Federal. Nada disso adiantou para evitar seu assassinato. Ela foi alvejada, pelas costas, com seis tiros, e seu corpo tombou sobre a terra pela qual lutara até a morte. Em sua mão, a Bíblia que carregava e que leu para os executores antes de virar-se e dar seus últimos passos.
Presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Bispo do Xingu, Dom Erwin Krautler é o entrevistado do Amazônia Brasileira desta quarta-feira (11). No dia 12, presidirá a cerimônia religiosa pela passagem do aniversário de morte da Irmã Dorothy, que será realizada no Centro São Rafael, em Anapu, onde está o túmulo da religiosa.
Na entrevista, Dom Erwin conta toda a história da irmã Dorothy no Brasil desde sua chegada no Pará onde se apresentou a ele dizendo que “gostaria de trabalhar com os mais pobres dentre os pobres” até o momento final quando tombou no chão que tanto amava. Já ameaçada de morte, havia deixado explícito seu desejo de que caso isso acontecesse, de ser enterrada no Pará no lugar onde vivia com a população assentada: os mais pobres dentre os mais pobres.
Ele fala do próprio cotidiano de andanças pelas perigosas estradas da Amazônia, faz um balanço dos últimos 10 anos na região, da situação atual dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável, e do sonho de Dorothy, a irmã que, segundo ele, “não foi enterrada: foi plantada”.
O programa Amazônia Brasileira vai ao ar a partir das 08h na Rádio Nacional da Amazônia, em rede com a Rádio Nacional do Alto Solimões, onde é transmitido ao vivo às 05h. A produção e a apresentação são de Beth Begonha.
Ouça AQUI.
Foto: A missionária norte-americana Dorothy Stang, assassina em 12 de fevereiro de 2005.