Festividade realizada no Assentamento Carlos Lamarca reúne centenas de pessoas de diversas localidades e firma importância do trabalho comunitário
Maria Aparecida Terra – Brasil de Fato/CPT
Após as festividades de final e começo de ano, outra festa toma conta de várias comunidades rurais de São Paulo, Minas Gerais e outros estados; e mantêm vivas as tradições da cultura popular: a Festa da Folia de Reis.
Foi o que aconteceu no Assentamento Carlos Lamarca, do MST, no último sábado (10). Organizada pelo grupo Terra Prometida, em parceria com outros assentados e assentadas, a festa juntou pessoas do próprio assentamento, de comunidades vizinhas e de outras cidades para compartilharem o resultado dos trabalhos realizados nos dias anteriores.
A festividade é organizada com certa antecedência e conta com a ajuda de todos. De cunho religioso, para José Erculano, mestre do grupo de Folia de Reis, a festividade vai muito além disso, uma vez que pessoas de diversas religiões também participam.
Todos os participantes ajudam na construção do evento com o que chamam de “prenda”, uma espécie de doação, seja comida, dinheiro ou força de trabalho, por exemplo. “Não é só um momento de confraternização, é um momento de partilha mesmo, porque não importa o tamanho da prenda que as pessoas dão, o importante é a partilha dela no dia da festa, quem deu um boi, quem deu um quilo de arroz ou uma lata de óleo, vai participar do mesmo jeito, sem diferença entre quem deu uma coisa ou outra”, explica Erculano.
Bruna Aparecida, que canta e toca reco-reco no grupo, fala sobre a importância da folia de reis para a cultura popular e, no caso do Terra Prometida, para o MST. “Tem uma importância muito grande porque é uma manifestação que somos nós mesmos que fazemos. No nosso caso de uma relação política até, porque a gente vai para áreas que são externas, para as comunidades ao redor. Nos apresentamos em outros espaços que não são do MST e a gente consegue levar, colocar o movimento, colocar a questão da produção cultural que existe dentro do movimento e também mostrar para as pessoas que a cultura pode ser produzida nesses ambientes também, por nós”, explica.
Para a cantora, a festa também é uma forma de apresentar as manifestações culturais para dentro do próprio assentamento. “Eu mesma não conhecia o que era a folia de reis antes de participar do grupo. Pra mim foi importante porque passei a conhecer isso e valorizar. Eu só conhecia as histórias que meu pai e outras pessoas aqui do assentamento contavam, que já tinham inclusive participado de outros grupos de folia”.
Segundo ela, a folia serve também para um propósito de resgate e posterior valorização de festas tradicionais que acabam se perdendo em alguns espaços. É o que se mostra nas pessoas que acompanham o grupo quando passam nas casas, quando as famílias abrem as portas para recebê-los ou quando as crianças – tendo que definir um tema para um trabalho escolar – escolhem a folia. Foi a partir de um desses trabalhos, por exemplo, que o grupo foi convidado a se apresentar na escola da cidade mais próxima ao assentamento.
É unânime entre os integrantes a importância da criação do grupo e de ter dado continuidade. Nesse ano, o mesmo completou 11 anos de existência. “Agora a gente vê que as crianças acompanham, têm crianças no grupo que são palhaços, crianças que no dia da festa se vestem a caráter para também participar e a gente sabe que isso é uma semente que é plantada, significa que isso não vai ser esquecido”, finaliza Bruna.