Socorro, um policial matou um surfista!

por Maister F. da Silva*, Sul 21

Todavia…

Sucumbe uma nova vítima de uma das polícias mais violentas do mundo, o diferencial é que desta vez o assassinado não é um invisível, mas sim um surfista de renome internacional. É comovente como a grande mídia explorou a sua morte, causando uma comoção nacional traduzida em mensagens e posts nas redes sociais por pessoas que por muitas vezes conhecem o surfe apenas pela televisão e provavelmente nunca terão a oportunidade de vivenciar uma competição desse esporte. Desviou-se o foco que o assassino é um legítimo representante do estado, que carrega consigo a tarefa de “garantir a segurança da população”.

Talvez eu seja criticado por escrever essas palavras, respeito o luto, a dor e me solidarizo com a família como milhares de brasileiros, mas a morte do surfista não abalou um tiquinho da minha rotina diária, abala-me, indigna-me, diariamente a rotina da polícia brasileira de ceifar a vida de milhares de jovens durante todo o ano. A diferença é que a morte juvenil, além da idade, tem cor e negro não é digno de ser notícia nacional nem quando é morto em massa.

E essas centenas de famílias que diariamente têm seus filhos assassinados não merecem a solidariedade e a cobrança da população por uma solução urgente? Talvez não, são apenas jovens negros descendentes de escravos, descendentes da primeira geração em massa de sem-terras produzida no Brasil, favelados, negros e invisíveis. Somos descendentes de um povo a quem tudo foi negada terra, educação, moradia, saúde, dignidade, liberdade. A liberdade nos foi dada, é verdade, liberdade de vender nossa força de trabalho em troca de um salário “digno” que não permita sair da base da pirâmide social – estudos do DIEESE comprovam que negros ocupam os cargos de menor qualificação e consequentemente de menor salário – e a liberdade de morrer “livre” sem sofrer as “inconveniências” da velhice.

Assim encerro esse breve partilhar de meu sentimento acerca desse genocídio não declarado da população negra no Brasil, e apesar do alvo principal dessa indignação ser a policia é necessário ir muito além, o processo passa por uma ampla reforma e distribuição das riquezas do país, reconheço os avanços nas políticas públicas de inclusão da comunidade negra, sobretudo no âmbito do acesso à educação, mas ainda há muito a ser feito, por que além de viver queremos uma vida digna, com acesso à terra, moradia de qualidade e empregos que possibilitem um salário digno de fato.

Infelizmente esse capítulo dessa triste realidade não acaba aqui, muitos ainda escreverão relatos indignados sobre esta mortandade que sepulta mais que pessoas, sepulta sonhos de futuro, sonhos de liberdade.

E essa é a justificativa de iniciar meu relato com TODAVIA…

*Maister F. da Silva é militante do Levante Popular da Juventude.

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