Fotos revelam que supressão vegetal foi feita ‘pela metade’ na represa da UHE Teles Pires
Alexandre Alves, Olhar Direto
Milhares de peixes morrerão no lago da Usina Hidrelétrica de Energia (UHE) Teles Pires, no município de Paranaíta (860km ao Norte de Cuiabá), devido à supressão vegetal (retirada da biomassa na área a ser alagada) não ter sido feita corretamente. O alerta é do biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Philip Fearnside.
“Com a estratificação da água no lago, com muito material verde se decompondo, a morte de peixes será inevitável. Os peixes são sensíveis à falta de oxigênio, que é o que ocorrerá com a água desse represamento”, falou Fearnside, em entrevista por telefone ao Olhar Direto.
A reportagem sobrevoou a usina neste domingo à tarde e constatou (conforme as imagens) que não foi feita a completa retirada de árvores e galhadas derrubadas nas áreas impactadas pelo represamento. Em alguns trechos, nota-se, inclusive, que a inundação está atingindo floresta em pé – denunciando que o serviço foi feito ‘pela metade’.
O pesquisador Philip, que acompanha os impactos ambientais da UHE Teles Pires desde o seu licenciamento, estima que mais de 50% da biomassa não foi retirada. “A usina não cumpriu as condicionantes ambientais. E do ponto de vista da empresa, ela foi autorizada pelo Ibama a encher o lago e fez isso o mais rápido possível”, comentou Fearnside, que também é membro da Academia Brasileira de Ciências.
Em um artigo publicado no dia 12 de janeiro de 2015 no portal Amazônia Real, o biólogo aponta que um parecer do Ibama relata os resultados de simulações realizadas pelos proponentes, indicando que, após o enchimento, com exceção do período de maior vazão (janeiro, fevereiro e março), a água seria estratificada e essencialmente sem oxigênio em todas as partes do lago analisadas. “O parecer do Ibama recomenda que a empresa hidrelétrica escolha locais apropriados para cavar valas para enterrar grandes quantidades de peixes mortos”, pontua o pesquisador.
A Licença de Operação (LO) foi expedida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente no dia 19 de novembro de 2014. Desde então, a UHE Teles Pires ficou livre para fazer o enchimento do lago. E isso foi feito rapidamente. Ontem (18 de janeiro), em um voo sobre a usina, já foi possível constatar que a represa está praticamente cheia, com seu vertedouro eliminando a água excedente.
Para o pesquisador, o que está sendo feito nas usinas em território amazônico, como a Teles Pires, em Mato Grosso, e a Belo Monte, no Pará, “mancham ainda mais a imagem do Brasil perante a comunidade internacional”.
Outro lado.
Olhar Direto entrou em contato nesta segunda-feira de manhã com a assessoria de comunicação da UHE Teles Pires, que respondeu no final da tarde informando estar contactando os diretores de meio ambiente da usina para se posicionarem sobre o assunto.
A usina foi construída com custo de R$ 2,4 bilhões, financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Após entrar em completa operação com todas as turbinas, terá capacidade instalada de 1820 megawatts.
Fotos: Alexandre Alves – Olhar Direto