Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Já estamos tão acostumados com esse tipo de visão, que não deveria haver muito a acrescentar à foto acima ou às outras que a acompanham. Devastação, crateras no solo desmatado, água empoçada em meio à lama… Só que neste caso o que as imagens retratam é parte de uma Terra Indígena já demarcada. Uma área perto de Caucaia, no Ceará, onde fica a Aldeia Capoeira, dos Tapeba. E uma terra que, embora sem a documentação definitiva, já está em poder dos ‘índios’, pelo menos teoricamente.
Lá vivem cerca de 12 mil indígenas, como tantos e tantos outros neste Brasil aguardando que as autoridades resolvam cumprir as leis e respeitar a Constituição de 1988. Enquanto isso não se dá, a verdade é que eles continuam reféns de toda a sorte de pressões e degradações. A ponto de, em alguns casos, chegarem a colaborar com aqueles que desrespeitam seus direitos.
Assim, na foto acima a desolação é resultado da extração de materiais minerais, areia e barro que provavelmente serão empregados na construção civil. Na imediatamente abaixo, vemos um trecho no qual o desmatamento é recente e as crateras ainda não chegaram a ser cavadas.
As três próximas imagens nos mostram outro lado não menos violento da destruição: um riacho, afluente do rio Ceará, que está sendo sumariamente aterrado. A pequena barragem já está quase completada, o riacho interceptado pelo barro. Nas duas fotos seguintes, o lamaçal substituiu o que um dia foram as suas margens, certamente cobertas de mata ciliar.
No Norte e no Centro-Oeste, são ruralistas, madeireiras, mineração e grandes projetos governamentais, começando pelas barragens e hidrelétricas, os que mais atingem os direitos dos povos indígenas. Neste Nordeste historicamente dividido, partilhado, às vezes quase que sucateado, muitos dirão que, onde o ‘progresso’ expulsa mesmo a população ‘branca’, para a indígena a situação não poderia ser melhor…
Essa ‘naturalização’ é inaceitável, tanto em relação aos não indígenas como a eles. Os Tapeba não podem continuar a ser encurralados e submetidos a tantas formas de sujeição, que acabem sendo levados ao intolerável: a participar da mercantilização da natureza e da destruição do território que é seu de direito, contribuindo para inviabilizar, eles próprios, a reconquista do seu modo de vida tradicional.
Que essa situação seja interrompida, investigada, e que os responsáveis por ela paguem por seus crimes, é o que devemos esperar e exigir!