Sofia está deitada, mas não consegue dormir. A história de Riso, atingido pela lama da Samarco em Barra Longa, não lhe sai da cabeça. Ele sonha com a volta ao trabalho. E reivindica um Carrinho de Cachorro Quente da Samarco. Mas a ideia não dá certo. A empresa acha o preço caro: quatro mil e oitocentos reais. ‘É um Carrinho melhor’, Riso se justifica. Mas não adianta. O Capital faz conta de cada centavo. Duro igual pedra. Dizem-no sem alma. Enquanto Riso quer trabalhar pra tocar sua vida, os donos da Samarco querem retomar a exploração de minério em Mariana e, para isso, precisam guardar cada real próprio, usar o cofre do Estado em nome do ‘ocorrido’ – apelido dado pela empresa ao crime – e embolsar algo em torno de meio trilhão de reais.
Sofia se vira na rede, fica de lado, encolhida. E sente que, finalmente, o sono a vai tomando. Mas um riso incontrolado e repentino a invade. Lembra-se de uma coisa boba, mas não se aguenta. Durante o dia, na Rua, alguém tinha chegado perto dela e feito um comentário sobre a situação de Riso: ‘não fica bem para um empresário empurrar um carrinho pela rua’. A resposta dela vem na ponta da língua: ‘a lama da Samarco é tão forte que quebra até preconceito’! (mais…)