Ana Clara Jovino – Adital
Moradores da Vila Autódromo, comunidade que faz fronteira com o Parque Olímpico, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, estão sendo removidos pela Prefeitura desde ano passado. Para a operação, a polícia é acionada para retirar os moradores. Algumas casas já foram demolidas com vistas à realização das Olimpíadas de 2016, na cidade.
A Prefeitura do Rio de Janeiro começou a desocupar a comunidade, em fevereiro de 2014, reassentando e pagando indenizações às famílias deslocadas. Quem não preferiu as indenizações está sendo transferido para um conjunto de prédios chamado Parque Carioca, a alguns quilômetros da Vila.
Apenas um ano antes, em 2013, o Plano Popular da Vila Autódromo havia ganhado o prêmio internacional “Urban Age”, que reconhece iniciativas criativas para as cidades. O Plano era um projeto de urbanismo, mas nunca foi implantado. Atualmente, a Vila Autódromo se encontra em um cenário de guerra, com a maioria das casas já em ruínas após as demolições promovidas pela própria Prefeitura do Rio. Os moradores lutam como podem, se reúnem para tentarem achar soluções, mas não são mais fortes do que a força da polícia.
“A tática da Prefeitura é o medo, é não dar informações aos moradores, para deixá-los com medo”, denuncia Julia Bustamante, integrante do Comitê Popular Rio da Copa e Olimpíadas, movimento que desde os preparativos para a Copa de 2014, no Brasil, lidera ações para denunciar e impedir violações de direitos humanos por causa dos megaeventos esportivos, em especial nos setor de habitação e mobilidade urbana. Julia conta ainda que a polícia surpreende os moradores da Vila, cercando a área na madrugada e derrubando as casas quando eles saem. “Teve um caso de uma mulher, que saiu de casa e quando voltou sua residência estava derrubada; ela é diabética e perdeu todos os seus remédios”, conta a ativista.
Outro caso que mostra como a Prefeitura vem violando os direitos humanos dos moradores é o de Heloisa Costa Berto, a candomblecista Yalorixá Luizinha de Nanã, que está correndo o risco de perder sua casa de Candomblé Yle Axe Ara Orun Yaba Jiy. Lá, são cultivadas árvores sagradas e ervas indispensáveis para os cultos.
Heloisa não se considera dona da casa, ela se considera responsável pela casa que declara ser um centro espírita. “Sou zeladora dos santos e é em nome deles que eu negocio. Nada me pertence. Porém, a minha responsabilidade é muito grande”, explica a religiosa.
Ela disse que está em negociação com a prefeitura há mais de um ano. “O ano de 2014 foi um longo ano, com encontros constantes com o negociador da prefeitura, lembro-me da segunda reunião que tive com ele, eu havia tido meses de encontros e avaliações com um advogado da área imobiliária, especialista em avaliações. Levei a documentação, ele olhou e jogou o documento na mesa em minha direção e disse: ‘Isso não vale nada’”, relata a candomblecista.
Segundo Julia Bustamante, a Prefeitura quer remover os moradores da Vila Autódromo porque é próximo a Vila Olímpica e é um local de especulação imobiliária. “Os moradores são um incômodo para eles, o interesse deles é que as pessoas não fiquem perto”, afirma.
Julia informa ainda que o argumento utilizado pela Prefeitura para retirar os moradores é a alegação de que se trata de um espaço para obras e vias públicas. Além disso, ela afirma que a Prefeitura está gastando mais com as indenizações do que com uma possível urbanização da área. “Gastaram cerca de 95 milhões só com as indenizações”.
Os moradores, em parceria com o Comitê Popular Rio da Copa e Olimpíadas, estão organizando um evento para reafirmar a vida que construíram ao longo dos anos e o direito a permanecer na comunidade. É o “Ocupa Vila Autódromo”, que conta com uma agenda de atividades culturais na comunidade. A próxima atividade acontece no próximo sábado, 21 de novembro, o II Festival Cultural #OcupaVilaAutódromo, que está com a programação sendo construída.
Confira a programação completa aqui: https://www.facebook.com/events/484174938412379/
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Foto: Os moradores lutam como podem, se reúnem para tentarem achar soluções, mas não são mais fortes do que a força da polícia.