Incra/BA
No Dia Nacional da Consciência Negra, nesse 20 de Novembro, o Território Quilombola de Iúna tem o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado no Diário Oficial da União (DOU) pelo Incra/BA.
A comunidade de Iúna, formada por 39 famílias remanescentes de quilombo, está localizada numa área de 1,4 mil hectares, a 18 quilômetros da cidade de Lençóis, no Território de Identidade da Chapada Diamantina.
No relatório, os remanescentes de quilombo narram a história de chegada ao local por sistema de moradia, trazem a mística religião do Jarê, os espíritos das florestas da Chapada e os contos sobre os encantados.
Esse é o vigésimo sétimo relatório técnico publicado no estado, sendo o sétimo em 2015. O relatório é a peça mais complexa para a regularização fundiária de um território quilombola, formado por um conjunto de documentos que aborda a história de formação e ocupação do território, considerando a ancestralidade, a tradição e a organização socioeconômica.
Formação
Iúna fica num marimbus, uma área pantanosa, alagada, semelhante ao pantanal com biodiversidade, fauna e flora específica. As famílias chegaram ao local na seca que assolou o Nordeste em 1932, fugindo de outros quilombos.
“A maioria é oriunda da comunidade de Remanso, muito conhecida em Lençóis”, pontua o analista em reforma e desenvolvimento agrário, Itamar Vieira, integrante da equipe que elaborou o relatório.
“Na época, as famílias foram recebidas nas terras num método denominado ‘sistema de morada’, muito comum no nordeste, que substituiu o sistema escravagista”, explica o analista.
Nesse tipo de sistema, concede-se espaço de moradia para a família, com direito de pequenas roças e, como contrapartida, os novos moradores dão sua força de trabalho não remunerada ao dono da terra.
Assim, os remanescentes de quilombos, ao longo dos anos, foram estabelecendo laços de parentesco e vizinhança e formando a comunidade de Iúna.
Encantados
As famílias de Iúna cultuam uma religião própria da Chapada Diamantina, o Jarê, baseada na cura, e já teve um curador, Rosalvo, um quilombola muito conhecido.
Segundo Vieira, o Jarê é uma mistura do catolicismo, candomblé e xamanismo nativo, baseado na crença dos espíritos da Chapada.
“Antigamente, pessoas vinham até de outros estados, acampavam em Iúna em busca da cura, por meio dos conhecimentos das ervas e das incorporações, ou seja, os “encantados” que o senhor Rosalvo recebia”, explica Vieira.
Uma nova linha de ligação mística passou a existir na comunidade, além da de sangue, devido aos encantados. Foram os filhos e netos de pegação.
“Os recém-nascidos eram chamados filhos de pegação, o que os davam outro grau de parentesco, uma ligação mística”, conta Vieira. É que Dona Jovita, a parteira tinha o encantado “Véio Nagô”.
Produtividade
Banhada pelos rios Iúna e Utinga que se encontram e formam os marimbus, as famílias remanescentes de quilombos plantam, nos períodos de vazante, banana, mandioca, feijão, abóbora e quiabo.
Além disso, elas praticam o extrativismo de dendê, palha de buriti e do buriti que são abundantes na região. E ainda pescam para o próprio consumo.
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