Samarco, “a melhor mineradora” do Brasil

Ministério da Verdade

Memória também é um recurso escasso no nosso país: em julho, a Samarco foi eleita pela QUINTA VEZ, sendo a TERCEIRA CONSECUTIVA, “a melhor mineradora do Brasil” pela revista Exame.

Abre aspas:

“O Diretor-Presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, recebeu o prêmio ao lado de outros funcionários da mineradora. Na avaliação do executivo, o tricampeonato obtido reflete o bom trabalho que vem sendo feito pela empresa, aliado a um planejamento criterioso e envolvimento com diversos públicos e parceiros. “O ano de 2014 foi marcante para a Samarco. Inauguramos nossa maior expansão, um investimento de R$ 6,4 bilhões, concluído dentro do prazo e orçamento previstos, e que aumentará nossa produção em 37%. Somente em 2014, mesmo em período de ramp-up das novas plantas, alcançamos a produção de 25 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro, um aumento de 15,4% em relação a 2013. A entrega desse projeto e o prêmio de melhor mineradora certamente materializam nossa convicção na importância do planejamento bem feito e da execução precisa”.

Em um período de queda do preço do minério de ferro em todo o mundo, a Samarco teve, DISPARADO, o melhor resultado do setor: R$ 2.8 bilhões em lucro líquido, o QUINTO MAIOR DO PAÍS ENTRE TODAS AS EMPRESAS, como já destacamos aqui no Miniver. Um resultado, inclusive, muito melhor que a da própria Vale, que controla a empresa: em 2014, a Vale lucrou R$ 219 milhões.

Como a Samarco conseguiu um resultado tão expressivo no cenário mundial atual? “Otimizando processos, melhorando a gestão, sendo mais eficiente e sustentável”? Todos jargões do mundo executivo excessivamente usados. Na pressão pelo aumento constante de produção e por lucros maiores, enriquecendo os acionistas, a verdade é que um dos fatores que explicam esse “fenômeno” da Samarco é a própria redução de custos a qualquer preço (literalmente), caso das barragens.

Esta matéria publicada na própria Exame pós-Mariana faz um mea culpa:

“Enquanto companhias mineradoras do mundo inteiro reavaliam a forma de armazenar dejetos após mais um terrível vazamento em uma barragem, a solução poderia ser tão simples quanto drástica: gastar muito mais.

As imagens das enxurradas de lama em cidades e rios poderiam ficar no passado se as minas utilizassem diferentes tipos de armazenamento, como a remoção de água ou a construção em terrenos mais estáveis.

Embora isso possa custar até dez vezes a mais para empresas já pressionadas pela queda dos preços, o custo é muito mais alto quando as coisas saem errado.

Os custos de limpeza do vazamento ocorrido no dia 5 de novembro na Samarco, a joint venture de minério de ferro da BHP Billiton e da Vale, provavelmente superarão US$ 1 bilhão, além de anos de produção perdida, disse o Deutsche Bank.

“A falha é muito mais cara do que fazer as coisas do modo certo”, disse Dirk van Zyl, professor de Engenharia da Mineração na Universidade de Colúmbia Britânica e um dos três especialistas em um painel sobre o rompimento de uma barragem ocorrido no ano passado no Canadá.

O vazamento da Samarco, que expulsou uma enxurrada de lama para as comunidades abaixo, ocorre um ano após a mina da Imperial Metals em Mount Polley, Canadá, também ter vazado bilhões de litros em lagos e rios. Uma característica comum a ambos os casos foi a fluidez dos dejetos.”

¨Fazer as coisas do jeito certo” custa caro, muito caro. Um custo, nesse caso, dez vezes maior que os acionistas da Samarco não estão dispostos a arcar, exceto quando sua falha, negligência e omissão ficam evidentes e precisam pagar o preço no mercado internacional. Jac Nasser, presidente do conselho de administração da BHP, após contratar uma investigação externa sobre o acidente, demonstra preocupação com a queda das ações, mas confia que “o mercado é cíclico”. Ou seja: logo logo a empresa consegue se livrar do problema e da pressão midiática para retomar o “crescimento”, como, de fato, normalmente acontece.

Nasser também comentou que acionistas da BHP têm demonstrado preocupações com a sustentabilidade dos dividendos da mineradora anglo-australiana, num momento de queda nos preços das commodities e após o incidente em Minas Gerais.

Segundo Nasser, a BHP revisa seus dividendos regularmente, sempre levando em conta que é preciso priorizar um balanço financeiro forte.

“No contexto dessa economia global desafiadora, vimos uma queda significativa nos preços das ações de empresas de recursos minerais este ano, inclusive no preço de nossa própria ação”, disse Nasser, durante reunião anual de acionistas em Perth, no Estado da Austrália Ocidental.

“Como vocês, estamos decepcionados com o atual desempenho de nossa ação… no entanto, o negócio de recursos minerais é cíclico”, acrescentou.

Se depender dos esforços de parte da sociedade brasileira, Nasser, não tão rápido.

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