Por Gustavo Horta
De fato o afã capitalista pelo dinheiro, que tantos defendem com tamanho vigor, vem a destruir vidas, patrimônios, histórias – individuais, familiares e sociais – e natureza de forma permanente e recorrente aqui nas Minas Gerais, desdobramento de administrações irresponsáveis e, quiçá, criminosas, destas mineradoras que mais se assemelham a uma garimpagem mecanizada avassaladora.
Aqui em Minas Gerais há um episódio assim dramático com uma regularidade que me enoja.
Mas, liga não. Esta última de Mariana foi apenas mais uma barragem de rejeitos de uma mineradora que desabou. Na verdade, desta vez, foram duas, simultaneamente e em cascata. Liga não. Só mais uma entre tantas, mais uma, só mais uma…
Fico a pensar se ‘barragem de rejeitos’ seria mesmo a denominação correta. Talvez o mais apropriado seria um ‘capacitor’ de rejeitos capaz de armazenar os ditos cujos e despejá-los em descargas amiúdes.
De todo jeito, de qualquer forma, liga não. Apenas mais algumas vidas e famílias destruídas, alguns mortos, tantos ou nem tantos… Outros desaparecidos, soterrados naquele mar fétido de lama tóxica e quimicamente contaminada até o talo. Liga não. Prejuízo para a população, para o povo, pretos, pobres, putas… povo, como sempre. Liga não.
Já, já veremos, e, é claro, já começamos a ver, o desfile de autoridades com seus ares pesados de ‘pré-ocupação’ – tardia e inútil não o fosse -, com sua solene condolência inócua, hipócrita e cretina. Políticos de distintas hierarquias, defesa civil, bombeiros, socorristas e outras tantas entidades como CREA, e outras ditas idôneas, que abrirão rigorosos inquéritos para apurar as responsabilidades.
Inquéritos que, como bem sabemos, não dão em nada, não resolvem coisa nenhuma, apenas servem para alimentar uma mídia cretina e vassala e entorpecer o povo que sofre e se compadece.
Até quando? Quantas mais haveremos de ver?
Liga não. Ainda nada aconteceu diretamente com você, né não? Foi, desta vez, só um distrito de Mariana, como já ocorrera com um outro distrito de Itabirito, um outro de Itabira, um outro de Nova Lima (ali, na verdade, foram dois.), um outro…
Liga não. Coisinha de nada, né não?