Por Yakuy Tupinambá, em Índios Online
Estou sem saber por onde começar é como se não houvesse mais nenhuma força, é como olhar para além do horizonte e não sentir mais a esperança que algo de bom possa surgir e contemplar a todos, sinto minha carne sendo dilacerada, ás raízes da minha história sendo arrancadas, o que vem na lembrança são ás palavras da minha avó, quando comentava que havia sido tirado o seu direito de ser amamentada pela sua mãe, pois foi arrancada a força dos braços dela e a partir desse momento ás lágrimas começavam a brotar em seus olhos e a voz ficava embargada e não conseguia falar mais nada, o que víamos era a dor da perda do direito á liberdade e de ser quem ela era, pois viveu 09 décadas sem direito a mostrar seu rosto e sua voz.
Vem-me a lembrança dos anciões que conheci através dela ainda na minha infância, que quando se encontravam conversavam quase sussurrando como se estivessem com receio de serem ouvidos, e muitos deles enveredados no alcoolismo sem perspectiva alguma de ter direito a viver com dignidade, mas me lembro muito bem quando falavam de 07 léguas em quadras que tinham direito e que foi tomado pelos coronéis do cacau, no período da implantação da lavoura cacaueira regada a sangue dos nossos parentes. Essas 07 léguas em quadra eu descobri há pouco tempo que no século XVIII, o Marquês de Pombal expediu uma medida através da Coroa Portuguesa, que onde houvesse aldeamento jesuíta era para demarcar 07 léguas quadrados para a permanência dos índios que ali viviam.
Fico aqui imaginando como se sentiria essas pessoas que vivem hoje, em algum lugar deste território se sentindo donos do chamado Brasil, que possui algum bem imóvel, ou até mesmo móvel adquirido pelo dinheiro que transforma os bens naturais em mercadorias particulares e asseguradas pelas regras que criaram e estabeleceram em forma de Leis e nos enfiaram garganta adentro nos obrigando a respeitá-las como se fossem nossas ou da nossa cultura se sentir dono da Mãe Natureza, subjugando-nos a cultura ocidental, uma cultura perniciosa que vem causando a destruição da Natureza e da essência humana, se houvesse uma inversão na história, obrigando-os a passar pelo que passamos ver tudo aquilo que acreditam possuir ser retirados a força e ver sua história ser renegada, assim como, ver suas mulheres sendo estuprada, gente tombando ao chão sem vida, outros sendo dominados e transformados em escravos, tratados como se fossem bichos da forma como muitos tratam os animais que existem na Natureza, como se não tivessem importância alguma.
Hoje, estamos vivendo um momento bastante delicado dessa guerra que se alonga 515 anos, a iminência da aprovação dessa PEC – 215, o tiro de misericórdia dos ruralistas para acabar de vez com os povos indígenas do Brasil, com os quilombolas e reservas ambientais, tudo porque a existência dos mesmos impede a exploração desenfreada que vem causando a morte do Planeta Terra, sem nenhuma preocupação com as futuras gerações, eles não estão preocupados com os seus descendentes se terão água para beber, alimentos naturais para se alimentarem ou oxigênio para respirar, porque em seus olhos só enxergam cifrão – dinheiro – é o famigerado desenvolvimentismo e progresso, o homem ao longo de alguns séculos quando uma minoria resolveu apreender os bens naturais e intitular-se dono, vem sendo preparado sutilmente para afastar-se de si mesmo tornando mais fácil ser dominado, porque nessa condição a rendição é automática sem que haja necessidade de alguém lhe apontar uma arma, ele mesmo se entrega. Tudo foi meticulosamente criada e preparada, muitas das estratégias foram e ainda são passadas como verdadeiras obras divinas, tudo acontece com o consentimento de “Deus”.
Tudo em nome de um PODER efêmero, onde a política, a religiosidade e o dinheiro são partes, o mesmo hipnotiza e narcotiza as pessoas que se prendem a necessidade de tê-lo ou mesmo de se aproximar, funcionam como um encantamento que acreditam trazer a felicidade eterna.
Apelamos ao Povo Brasileiro, que ainda não se rendeu a esse sistema, ou que já percebeu que estamos vivendo um caos e que beiramos o fim, para juntarem-se a nós contra essa PEC – 215, que não diz respeito somente a questão indígena, quilombola e reservas ambientais e sim a todos os seres vivos desse planeta, nos ajudem a preservar a Mãe Natureza e todas as formas de vidas que ainda existem, o futuro de nossas crianças e das vossas crianças e das que estão por vir depende da ação em conjunto de todos nós, vamos dizer em voz uníssona a esse Congresso formado por essa assembléia que ai está que quem decide sobre nossas vidas somos nós e que queremos viver e os que ainda nascerão terão o mesmo direito.
A pior formação que o Congresso Brasileiro teve na sua história é essa que ai está, deveria ser dissolvido, o eleitorado brasileiro tem co-responsabilidade nisso tudo que está acontecendo, e temos muito mais ainda em coibir as ações nefastas dos abomináveis parlamentares, eles precisam perceber que em um regime democrático o PODER emana do Povo, eles apenas representam e como não estão nos representando como deveriam e sim legislando em causa própria ou apenas de pequenos grupos precisamos mostrar nossa insatisfação e fazê-los parar.
Desde já, convidamos a todos unir em torno da MOBILIZAÇÃO NACIONAL que acontecerá no dia 11 de novembro contra a PEC – 215 – A PEC DA MORTE.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.