Nia McAllister – Rio On Watch
Neste mês de outubro o Rio de Janeiro organizou oficialmente a sua primeira Semana Lixo Zero. Organizações e comunidades em todo o Rio sediaram workshops, palestras, debates e atividades relacionadas à conscientização sobre o lixo zero entre 21 de outubro e 1 de novembro. O Brasil desperdiça R$8 bilhões por ano com o descarte incorreto de lixo que pode ser reciclado. A Semana Lixo Zero trabalha para demonstrar e encorajar práticas de redução de lixo que podem ser amplamente aplicadas pela população.
A Semana Lixo Zero é um conceito reconhecido internacionalmente que estimula o diálogo e ação para limitar a quantidade de lixo produzido. No Brasil, o Instituto Lixo Zero Brasil organiza a Semana Lixo Zero em cidades de todo o país ha vários anos. No entanto, 2015 foi o primeiro ano em que o Rio de Janeiro sediou os eventos.
A intenção por trás da Semana Lixo Zero do Rio é incentivar a “sociedade a refletir sobre a gestão de resíduos“, diz o organizador Egeu Laus. Egeu, designer e produtor cultural, lidera o Viajantes do Território, grupo colaborativo que se concentra no desenvolvimento sociocultural na região do Porto. Enquanto os eventos foram focados sobre os temas da reciclagem e gestão de resíduos, a semana manteve uma estrutura flexível para permitir que todos os grupos e comunidades participantes organizassem seus próprios eventos e projetos sobre qualquer assunto promovendo um diálogo sobre lixo zero.
A Semana Lixo Zero do Rio incentivou a participação de pessoas de diversas áreas. Para facilitar uma partilha interdisciplinar de idéias e práticas relacionadas com resíduos, a sensibilização é importante para unir “gente de profissões diferentes, de áreas diferentes, porque cada um tem uma visão diferente do assunto“, disse o organizador Egeu Laus. Ao Encorajar o diálogo entre os diferentes grupos e indivíduos, as “conversas são melhores, produzindo ideias e sugestões mais apropriadas“.
Vozes internacionais e locais dialogaram durante a semana de ação. Uma variedade de discussões públicas foram realizadas durante toda a semana, como o evento Porto Sustentável. O evento foi organizado no Museu de Arte do Rio na região do Porto para discutir a questão do lixo depositado nos oceanos do mundo e para olhar por soluções para reciclagem de resíduos. Pal Martensson, diretor da Aliança Internacional do Lixo Zero (Zero Waste International Alliance) apresentou o Parque Alelyckan na Suécia, que classifica e revende objetos reciclados doados pela comunidade. Especialista em poluição marinha, Capitão Charles Moore apresentou o as ilhas de lixo que se acumularam nos oceanos do mundo, como resultado de métodos impróprios de descarte de resíduos. Com a urgência associada à poluição da Baía de Guanabara na corrida até as Olimpíadas de 2016, conversas e soluções para reduzir a poluição da água são fundamentais.
A Semana Lixo Zero também incentivou projetos e movimentos dentro de favelas em toda a cidade. Rio das Pedras, uma comunidade na Zona Oeste, realizou vários eventos para a Semana Lixo Zero, incluindo um desfile de moda apresentando roupas feitas de materiais reciclados e uma caminhada de sensibilização sobre a importância de manter um ambiente limpo para ter uma comunidade limpa.
A Semana Lixo Zero também serviu para fortalecer as iniciativas comunitárias existentes. A moradora e ativista Cleusa da Cruz Florenço, em Rio das Pedras, afirma que as práticas de lixo consciente já estão funcionando em sua comunidade. Depois de ler um relatório citando a sua comunidade como a mais suja na área de Jacarepaguá, Cleusa criou o projeto Patrulhinha da Limpeza. Jovens participantes do projeto caminham pelas ruas da comunidade com apitos, chamando a atenção para quem joga lixo nas ruas. A intenção é aumentar a conscientização da comunidade sobre o problema do lixo, incentivar o descarte adequado do lixo, e eventualmente ensinar as pessoas a separar adequadamente o seu lixo antes de jogá-lo fora. “Nossas ações já acontecem há algum tempo e não vão parar“, diz Cleusa.
A Semana Lixo Zero trabalhou para introduzir e conscientizar toda a cidade que a gestão do lixo e sua redução devem ser considerados diariamente. Embora o lixo seja jogado ‘fora’, os resíduos que são produzidos permanecem no meio ambiente. “Vivemos em um sistema fechado, não existe ‘fora‘”, diz Egeu.