Há espaço para pingue-pongue e os Jogos Olímpicos? SOS Vila Autódromo: espaços públicos sob ataque

Pressões psicológicas intensificam na Vila Autódromo após demolição da mesa de pingue-pongue da comunidade, e com o parque infantil sob ameaça.

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O estresse psicológico sobre os moradores da Vila Autódromo, ao lado do Parque Olímpico de 2016, continua a aumentar enquanto as escavadeiras são agora uma presença regular na comunidade. No início da semana, a Vila Autódromo viu sua mesa de pingue-pongue, amplamente utilizada e feita a mão pelos moradores, esmagada em segundos. O evento é visto como um ato simbólico de pressão e intimidação para com os moradores remanescentes que resistem à remoção, apenas uma semana depois de cinco casas terem sido demolidas, sem aviso prévio, em 23 de outubro.

Como aconteceu com as demolições da semana passada, nenhum aviso prévio foi dado sobre as pretensões pela prefeitura. O morador Luiz Carlos disse que a demolição “começou às 7h30, sem qualquer aviso. E porque ninguém estava lá [perto da mesa], tiraram tudo”. Incluiu também uma cerca que os moradores tinham colocado para proteger a mesa e o parque infantil do lado, no sábado, 24 de outubro.

Luiz continuou: “[A Olimpíada] é um mega-evento esportivo e não faz sentido, eles estão destruindo uma mesa de tênis que foi feita para as crianças da comunidade. É um contraste incrível”. A mesa era valiosa para a comunidade. Luiz disse: “Nós fazíamos churrascos e a mesa de pingue-pongue ficava ao lado para que todos pudéssemos jogar… nós tivemos até um torneio”.

A construção de uma outra mesa de pingue-pongue foi prometida pelo administrador da obra um dia depois que a original foi demolida. Até agora nenhuma atitude imediata foi realizada pelos trabalhadores da obra. Luiz acha difícil compreender isso “quando eles podem construir estes grandes edifícios em dias”.

Agora, como resultado, há temores crescentes na comunidade sobre a remoção de seu primário e único parque infantil, que fica ao lado. “O parque infantil está lá, por enquanto, não se sabe até quando, mas está na linha [de demolição]–e pode ser o próximo”, disse Luiz Carlos. O proprietário do quiosque que fica em frente do parque infantil, que oferece lanches aos trabalhadores do Parque Olímpico, acredita e tem certeza de que o parquinho será demolido em breve.

Como indicado na página da Vila Autódromo no Facebook, para uma comunidade que já tem tão pouco, esse é um ato de “covardia, truculência e mau caráter”. Frustrados e se sentindo vulneráveis, eles postaram: “Esse é o incentivo do poder público. A comunidade constrói e o poder público destrói”.

Demolições na Vila Autódromo

Apesar de títulos legais à terra concedidos pelo governo estadual na década de 1990 e o compromisso público do Prefeito Eduardo Paes com a permanência da comunidade, em agosto de 2013, confirmado com a BBC tão recentemente quanto agosto, e há duas semanas com O Globo, a Vila Autódromo tem sido alvo de uma remoçaoquase total, de forma agressiva. Já removeram 83% da comunidade nos últimos dois anos. Paes afirmou reiteradamente que parte da comunidade irá permanecer, mas um recente video oficial dos projetos do Parque Olímpico mostra a Vila Autódromo completamente removida.

O pequeno grupo de moradores remanescentes na Vila Autódromo exigem respeito e honestidade. As promessas feitas consistentemente pelo Prefeito Paes parecem vazias e os moradores são obrigados a negociar e rever as suas expectativas a cada dia. Cerca de 50 famílias estão certas que permanecerão independentemente de qualquer indenização oferecida. A comunidade continua a planejar seu futuro e com o apoio de duas universidades elaborou um plano de urbanização (agora em sua quarta versão), confirmando que os moradores podem e querem co-existir com a construção do Parque Olímpico.

A demolição da mesa de pingue-pongue, no entanto, veio como um choque devastador para muitos dos moradores remanescentes. A importância do espaço público para os moradores solicitou uma chamada de socorro: “precisamos de ajuda de todos para barrar a violência da prefeitura!” Se o parque infantil for destruído “a comunidade não terá mais nada”, explicou Luiz.

A comunidade, juntamente com professores e estudantes de arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem um evento planejado para o fim de semana de 14-15 novembro, para requalificar o parquinho da Vila Autódromo. O evento, planejado no mês passado, é parte de um programa de extensão à comunidade e vai realizar um mutirão utilizando materiais reciclados recolhidos pelos moradores para regenerar a área.

No mês passado a ONU-Habitat organizou o Outubro Urbano, incluindo o Dia Mundial da Habitação, dia 5 de outubro, que celebrou o tema “Espaço Público para Todos“. Conforme descrito pela ONU: “Os espaços públicos reforçam a coesão da comunidade e promovem a saúde, felicidade e bem-estar para todos os cidadãos, bem como fomentam o investimento, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.” Além disso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon afirmou: “Espaços públicos incentivam as pessoas a se comunicarem e colaborarem uns com os outros, e de participarem da vida pública”. Esta é uma preocupação crucial para a Vila Autódromo, enquanto continuam sua batalha para viver ao lado dos Jogos Olímpicos.

O Secretário-Geral das Nações Unidas salientou que os espaços públicos são “cruciais para os cidadãos pobres e vulneráveis. Melhorar o acesso a eles aumenta a equidade, promove a inclusão e combate à discriminação”. Na Vila Autódromo seu espaço público permitiu-lhes a sediar eventos da comunidade e receber pessoas de fora, incluindo estudantes universitários, grupos agrícolas, bem como o público em geral. A moradora Sandra Damias observou, “até mesmo aquelas pessoas que vêm de fora [da comunidade] se reúnem aqui”. Em face destas pressões crescentes, os moradores continuam a resistir e lutam pela permanência dos seus espaços públicos remanescentes.

Destaque: Crianças da comunidade acompanharam ansiosamente a mesa de pingue-pongue sendo construída pelos adultos da comunidade.

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