A violência contra a mulher e o mar de lama em Mariana

Por Mônica Francisco*, no Jornal do Brasil

Iniciamos a semana com as notícias de violência contra a mulher em diversos níveis. Isso após uma semana pulsante de engajamento e compreensão do lugar da mulher como sujeito da sua própria história.

Mas, ao terminarmos esta semana, a força e o poder do capital dão demonstração do seu alcance e do quanto e onde o racismo ambiental, uma de suas nefastas atuações, pode ir e fazer na sua fúria monetária.

Mariana, nome de mulher, violada pelo poder do capital e a cegueira que a ganância acomete aqueles que a veneram. Como não se desesperar e entristecer diante das cenas desesperadoras da “lava” de barro que fazia sumir histórias de tantas vidas que fizeram Mariana, a cidadezinha que sumia em um piscar de olhos.

Não sei por que, me lembrei de um trecho do romance de Érico Veríssimo, “Olhai os Lírios do Campo”, que fazia parte de meu livro de Moral e Cívica. O trecho é exatamente o próprio título que dá nome ao romance e que é inspirado em um fragmento do Sermão da Montanha, proferido por Jesus Cristo, que ainda me era desconhecido.

Talvez porque o romance falasse da segurança ou melhor das facilidades pressupostas pela posse de dinheiro, em detrimento da felicidade. E assim quando os interesses, o dinheiro, a ganância e a ambição, se tornam fundamentais na vida de alguns exemplares da raça humana, acabam produzindo consequências nefastas.

Não sei como foi a noite dos donos da mineradora, dos gestores das empresas e instituições que avalizaram e abalizaram tal empresa. Talvez suas rotinas não tenham sido alteradas em níveis perturbadores como foi a dos moradores da histórica cidade das Minas Gerais.

Talvez isso seja muito bem evitado ante o exército de advogados que pagam para que suas noites não sejam intranquilas, caso algo possa parecer ou tiver a intensão de fazê-lo. Mas creio, como alguém que tem fé e sabe que uma vida, seja ela de homens, mulheres, animais e toda a fauna e flora que povoam nosso planeta, são obras únicas e magníficas, que devem ser preservadas sempre, que ninguém passa impune por essa vida, tendo nas mãos e na biografia, a responsabilidade de tal feito.

Na esperança de que os gananciosos leiam o sermão do Cristo  e a obra do querido Veríssimo, e que nossos irmãos e irmãs das Gerais tenham, no fragmento que diz que aqueles que tem fome e sede de justiça serão saciados, sua força para continuar.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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