Simpósio Linguagem e Identidade – Línguas e Literaturas Indígenas

Apresentação

Ao longo desses nove anos de sistemática realização do Simpósio Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental temos criado espaços de debates e reflexões em torno das temáticas que envolvem a multiplicidade cultural amazônica, buscando consolidar uma rede integrada de estudiosos da/na região e articular organicamente ativistas de movimentos sociais, artistas, grupos indígenas, comunidades quilombolas e de agricultores e deslocados de toda parte, que se territorializam nessa região ou para ela voltam seus olhares.

Nessa esteira e assumindo uma perspectiva dialógica na relação entre o local e o global, entre os “de dentro” e os “de fora”, entre o “eu” e o “outro”, com o evento propomos o desafio de produzir outras narrativas, re-escrever histórias e revisitar literaturas com o objetivo de abrigar outras imaginações, pensamentos e ideias acerca de certa “realidade” que tem (con)formado, descrito, reificado e, na maior parte das vezes, condenado os diferentes sujeitos dessa região a permanecer tratados pelos cristalizados adjetivos do olhar colonizador e colonizatório, isto é, “vazios de civilização”.

Na narrativa hegemônica (jornalística, literária, historiográfica, acadêmica, etc.) produzida sobre e para as Amazônias, homens e mulheres são categorizados em rótulos genéricos como caboclos, índios, brancos, cearenses, pretos, ribeirinhos, seringueiros e outros que, ao mesmo tempo, lhes constatam a existência e promovem o apagamento de sua condição humana, de suas diferenças, suas culturas, seus direitos à vida em todos os sentidos. Sujeitos esses que, identificados com identidades obturadas e carentes de tempo e espaço próprios, vivenciam certa condição latinoamericanizada na coexistência diária com as contradições do “modernismo sem modernização”, no dizer de Canclini (2008).

Nossa proposição parte da necessidade de pontuarmos sua incompreendida condição do ser “sendo”, que lhes permite ser o “eu” e o “outro” misturando-se na tensa experiência da relação, sem que isso signifique o diluir-se de qualquer uma das partes, como pensado por Glissant (ano). Na condição de seres “sendo” nascidos de uma mãe-terra indígena e marcados pelo contato assimétrico e conflituoso com as muitas diásporas da mãe-África e outras culturas atlânticas, ser/estar na Amazônia é ser/estar aqui e também lá, em um contínuo trânsito de múltiplas temporalidades e espacialidades, não obstante aos “olhares etnocêntricos” que insistem em conferir existência única e atemporal aos seres “sendo”, como forma de justificar projetos de “des-envolvimento” que pavimentam, no dizer de Hall (2003), a estrada da “longa marcha para o progresso”, contra-senha para mercantilizar ou eliminar a natureza e os seres humanos de lugares “exóticos” e abundantes das matérias primas que interessam ao mercado capitalista em suas formas “tradicionais” e “modernas”.

No âmbito desse universo de múltiplas faces ou desse pluriverso, ao incorporarmos a proposta de eleger as “Línguas e Literaturas Indígenas” como tema central do IX Simpósio Linguagens e Identidades o fazemos como parte de todo um amadurecimento das reflexões provocadas pelos próprios intelectuais do movimento indígena e outros militantes dessa causa, acerca da necessidade de pautarmos a inserção do estudos da descrição das línguas indígenas e do estudo de suas literaturas orais e escritas nos currículos dos cursos de formação de professores da Universidade Federal do Acre. Nessa direção, a escolha tem um caráter essencialmente político, chamando a atenção para questões propostas por Carlos Mariategui (2007) ao enfatizar que “el problema indígena, tan presente em la política, la economía y la sociología no puede estar ausente de la literatura y del arte” e, acrescentamos, da formação acadêmica e da pauta de nossas lutas diárias, posto que não há mais espaço para a sacralizada defesa de uma narrativa nacional de exclusão e, muito menos, uma unidade linguística ou literária.

As marcas da colonialidade que categorizam as línguas e literaturas indígenas como línguas e literaturas menores, como dialetos ou subliteraturas, que compreendem os universos indígenas como mera questão étnica, racial, moral ou de educacional, continuam a colaborar com os discursos civilizatórios a serviço da conquista, da expansão e do genocídio contra essas populações, suas línguas, suas culturas.

Nesses quase dez anos de realização do Simpósio Linguagens e Identidades, o debate e a reflexão sobre as línguas e literaturas indígenas sempre esteve presente em nossas sessões temáticas, grupos de trabalhos e espaços de exposições artísticas. Este ano, como temática principal, buscamos articular estudos/publicações e compor uma rede de professores e pesquisadores com o objetivo de fortalecer a produção de um discurso contra-hegemônico que coloque a questão indígena, em especial, a luta contra o apagamento e desconhecimento de suas línguas e literaturas, como um problema político-social em torno da luta pela defesa de suas terras demarcadas e retomada de outras que foram invadidas pelo latifúndio ou pela expansão da “sociedade nacional” que, em outras palavras, significa uma luta contra o genocídio indígena, ainda em curso no Brasil.

Programação

09 de novembro de 2015, segunda-feira

MANHÃ

09h às 12h – Credenciamento

09h – Apresentação Musical com Ibã Huni Kuin

09h30 – Exposição de Pôsteres

09h30 – Exposições Fotográficas

  • “Arte e ação: tecidos de identidade”, por Márcia Silva Pereira – Universidad Nacional, Costa Rica

  • “Povo Apurinã: povo do Awiry” e “Abril indígena”, por Ana Patrícia Ferreira – COMIN

10h – Lançamento de Livros

  • “IIRSA: a serpente do capital”, de Daniel Iberê

  • “Una Isi Kayawa: livro da cura do povo Huni Kuin do Rio Jordão”, por Agostinho Manduca, Mateus Ika Muru, Alexandre Quinet (organizadores)

  • “Desde as Amazônias: colóquios”, de Gerson Rodrigues de Albuquerque e Maria Antonieta Antonacci (organizadores)

  • “Superdotação: imagem reflexa de Narciso”, de Silvio Carlos dos Santos

LOCAL: Hall do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

TARDE

14h – Apresentação Musical “Alleggiu”, com Leonardo Vieira Feichas (violino), Letícia Porto Ribeiro (violoncelo), Marcello Messina (compositor)  – UFAC

14h30 – Solenidade de Abertura

15h30 – Sessão Especial – “Perfil fonético-fonológico do falante do Português Brasileiro: contribuição dos estudos descritivos”, Dermeval da Hora – UFPB

  • Mediação: Lindinalva Messias do Nascimento Chaves – UFAC

NOITE

19h – Exibição do Curta “Awara Nane Putane”, direção de Sérgio de Carvalho.

19h30 – Conferência de Abertura: “Literatura indígena: vozes da ancestralidade”, Cristino Wapichana.

  • Mediação: Ana Patrícia Ferreira – COMIN
  • LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

21h – Show Musical “Indocumentados”, com o Grupo Aguadeiro. Artistas: Amanda Schoenmaker, Joana Dias, João Alab, Juliana Albuquerque, Maiara Rio Branco, Marilua Azevedo, Quilrio Farias e Victor Onofre.

  • LOCAL: Hall do Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

10 de novembro de 2015, terça-feira

MANHÃ

08h às 12h – Grupos de Trabalho e Sessões de Comunicações Livres

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

TARDE

14h às 18h – Oficinas e Minicursos

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

NOITE

19h – Sessão Temática “Estudos e descrição das línguas indígenas amazônicas: desafios dos tempos presentes”

  • “As línguas e as cosmologias indígenas”, Gersem Baniwa

  • “Os povos originários do Acre e língua Hãtxa kui”, Joaquim Maná Kaxinawá

  • Mediação: Selmo Azevedo Apontes – UFAC
  • LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

11 de novembro de 2015, quarta-feira

MANHÃ

08h às 12h – Grupos de Trabalho e Sessões de Comunicações Livres

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

TARDE

14h às 18h – Oficinas e Minicursos

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

NOITE

19h30 – Sessão Temática “Intercâmbios oralidades/escritas em patrimônios linguísticos e literários amazônicos-latinoamericanos”

  • “Línguas minorizadas da Amazônia: a diversidade linguística como patrimônio”, José Ribamar Bessa Freire – UERJ/Uni-Rio

  • “Tránsito de oralidad a escrituras amazónicas latinoamericanas”, Ana Pizarro – Universidade de Santiago do Chile

  • Mediação: Gerson Rodrigues de Albuquerque – UFAC
  • LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

12 de novembro de 2015, quinta-feira

MANHÃ

08h às 12h – Grupos de Trabalho e Sessões de Comunicações Livres

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

TARDE

14h às 18h – Oficinas e Minicursos

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

NOITE

19h – Sessão Temática “Línguas e literaturas indígenas: o ensino e o papel das instituições”

  • “As línguas indígenas e ‘as tarefas da linguística’ na região”, Selmo Azevedo Apontes – UFAC

  • “O Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) no horizonte das políticas de patrimônio cultural.” Marcus Vinícius Carvalho Garcia -Departamento do Patrimônio Imaterial, o Inventário Nacional da Diversidade Linguística – INDL/DPI/Iphan

  •  “Literatura e protagonismo indígena: interface com a educação escolar indígena diferenciada”, Edson Kayapó – IFBA

  • Mediação: Coordenação de Educação Escolar Indígena – SEE / AC
  • LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

13 de novembro de 2015, sexta-feira

MANHÃ

09h às 12h – Sessão Temática “Entre práticas culturais e representações míticas”

  • “Juan Díaz Sanita: de guerrero asháninka a héroe mítico”, Marcela Orellana – Universidade de Santiago do Chile

  • “La conservación del canto asháninka como resistencia cultural”, Paula Giovanetti – Universidade de Santiago do Chile

  • “Desde la piedra: Representaciones de animales mitológicos en el arte amazónico antiguo”, Rocío Casas Bulnes – Universidade de Santiago do Chile

  • Mediação: Carlos André Alexandre de Melo – UFAC
  • LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

TARDE

14h às 18h – Oficinas e Minicursos

  • LOCAL: Salas de aula da UFAC (ver caderno de programação)

NOITE

19h – Exibição do Documentário “O sonho do Nixi pae”, direção de Amilton Pelegrino de Mattos

20h – Sessão Temática: “É tudo vivo, tudo fica olhando, tudo escutando: o Movimento dos Artistas Huni Kuin”

  • Ibã Huni Kuin (Isaias Sales) – MAHKU

  • Bane Huni Kuin (Cleber Sales) – MAHKU

  • Isaka Huni Kuin (Menegildo Paulino) – MAHKU

Mediação: Amilton Pelegrino de Mattos – UFAC/LABI

LOCAL: Auditório do Bloco da Pós-Graduação da UFAC

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ana Patira.

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