Jilwesley Almeida – Adital
O assassinato do haitiano Fetiere Sterlin, de 33 anos, na cidade de Navegantes, Estado de Santa Catarina, revelaria a urgência de se combater a xenofobia, o racismo e o ódio no Brasil. Quatro adolescentes e um homem de 24 anos foram detidos pela Polícia Civil de Navegantes, suspeitos de matarem Sterlin, na noite do último dia 17 de outubro.
Conforme depoimentos da brasileira e esposa do haitiano, Vanessa Nery Pantoja, enquanto o casal ia a uma festa no bairro de Nossa Senhora das Graças, em Navegantes, juntamente com outros amigos também de nacionalidade haitiana, três garotos que passavam de bicicleta os chamaram de “Macici”. O termo significa “homossexual” em crioulo haitiano. Sterlin respondeu da seguinte forma: “Macici são vocês”, o que os teria motivado a ameaçarem o imigrante de morte. Pouco tempo depois, os três teriam voltado com mais sete pessoas, munidos de paus, pedras, facas e pás, para agredirem os haitianos.
Sterlin teve ferimentos nos braços, peito, abdômen, rosto e nas costas. Chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu e morreu após várias paradas respiratórias, na ambulância a caminho do hospital. Um dos amigos da vítima teve ferimentos leves durante o ataque e os outros conseguiram se proteger das agressões e correram.
Para a Regional Sul 3 da Pastoral da Mobilidade Humana, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em entrevista à Adital, o caso representa a falta de educação dos brasileiros com os povos de fora. “O Estado e a União têm lavado as mãos no que diz respeito à proteção dos imigrantes. O governo precisa tomar uma decisão. Se abrimos as fronteiras para outros países, devemos oferecer um melhor acolhimento”, afirma a Pastoral.
O Grupo de Apoio a Imigrantes e Refugiados de Florianópolis (Gairf) observa que as violações aos direitos trabalhistas, sociais, humanos e também ao direito à vida são, infelizmente, práticas comuns no Brasil. “O triste caso de Sterlin nos mostra que a escalada de violações desses direitos nos encaminha para uma situação muito perigosa, de xenofobia contra os novos imigrantes em Santa Catarina, especialmente os haitianos”, diz o GAIRF em nota.
De acordo com o Grupo de Apoio, as agressões contra o haitiano atingem todos que vêm para o país em busca de melhores condições de vida; e também aqueles que lutam para desenvolver mecanismos de atendimento, acolhida e acompanhamento desses imigrantes.
O Gairf afirma ainda que, enquanto não se desenvolverem mecanismos de proteção, como a criação de um Centro de Referência a Imigrantes e Refugiados e de uma Secretaria Estadual de Direitos Humanos, os imigrantes continuarão em situação de vulnerabilidade.
Leia a declaração de repúdio do Gairf
No último dia 21 de outubro, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff [Partido dos Trabalhadores – PT] também lamentou por meio da sua conta no Twitter a morte de Fetiere Sterlin.
Conforme a Pastoral do Migrante de Florianópolis, os haitianos, de modo geral, estão assustados com o que houve com Sterlin e temem o que pode acontecer no futuro. “O governo precisa realizar ações de integridade local para garantir a segurança e o bem estar dos imigrantes”, afirma a Pastoral.
O Ministério da Justiça disse em nota que a morte do haitiano ofende a tradição histórica de acolhida e respeito aos imigrantes que vêm ao Brasil construírem vidas, e que ajudam no desenvolvimento socioeconômico do país. O MJ assegura que irá implementar políticas que respeitem a integração dos estrangeiros na sociedade brasileira.
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Foto: De acordo com a esposa do haitiano, o sonho de Fetiere era se mudar, em 2016, para os Estados Unidos, onde mora parte de sua família