Mais 6 PMs de SP são presos por armar farsa para encobrir execuções de 2 jovens

Ao todo, 11 PMs estão presos por render, soltar e depois atirar contra dois jovens, na tarde de 7 de setembro, no bairro do Butantã. Imagens de câmeras de segurança e de telefone celular desmontaram farsa armada por militares para tentar encobrir execuções

Por André Caramante, Ponte Jornalismo

A Justiça Militar decretou nesta segunda-feira (14/09) a prisão de mais seis policiais militares de SP envolvidos em uma farsa _dividida em dois capítulos_ para tentar encobrir as execuções de dois jovens, no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo.  Agora, ao todo, são 11 PMs presos pelas duas mortes.

Paulo Henrique Porto de Oliveira, 23 anos, e Fernando Henrique da Silva, 18, foram mortos a tiros por PMs  dos 23º e 16º batalhões, na tarde de 7 de setembro.

Os PMs presos nesta segunda-feira têm relação direta com a morte de Fernando da Silva. Imagens gravadas com um telefone celular mostram que o rapaz, assim como o amigo Paulo, foi rendido pela Polícia Militar antes de ser morto com quatro tiros (abdômen, lombar, virilha e mão esquerda, o que indica tentativa de defesa).

Fernando da Silva foi detido por um PM da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) em um telhado e, depois de ser totalmente dominado, foi jogado de uma altura de oito metros. Após a queda de Fernando, é possível ouvir o barulho de tiros.

Na versão que começa a ser desmontada agora pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, os PMs Flavio Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, ambos com 33 anos de idade e da 4ª Companhia do 16º Batalhão da PM, disseram o seguinte:

“Na rua Maria Burgueta Marcondes Pestana, nº xx, os militares foram informados pela moradora que um indivíduo [Fernando Silva] havia entrado na residência. Os militares [Lapiana e Gambale] entraram na casa e, neste momento, o indivíduo, vindo da casa vizinha, pulou no quintal da casa onde os policiais militares estavam. O indivíduo disparou em direção ao policial Lapiana. Os policiais foram obrigados a disparar contra o indivíduo.”

Os PMs Lapiana e Gambale também disseram à Polícia Civil que Fernando da Silva usou uma pistola 9mm para atirar contra ambos, mas os investigadores acreditam que a arma foi plantada junto ao corpo do rapaz da mesma maneira como outros PMs foram filmados fazendo com Paulo Oliveira, morto perto da lixeira onde havia se escondido.

À polícia, a moradora da casa onde Fernando Silva foi morto disse que não viu a ação dos PMs e que apenas ouviu os tiros em sua propriedade.

Na sexta-feira (11/09), outros cinco PMs haviam sido presos após a revelação de imagens de câmeras de segurança que mostraram que Paulo Oliveira, 23 anos, amigo de Fernando da Silva, foi morto quando também estava rendido. O rapaz se rendeu após ter se escondido em uma lixeira comunitária.

Paulo Oliveira e Fernando da Silva, segundo os PMs envolvidos em suas mortes, eram perseguidos porque eram suspeitos de tentar roubar uma moto. Ao ser interrogado pela polícia, o dono da moto disse que os dois jovens não estavam com armas de fogo. Os jovens estariam com uma faca.

Os PMs envolvidos na perseguição, captura e morte de Paulo Oliveira e Fernando Silva também disseram à Polícia Civil que os dois chegaram a atirar contra carros da Polícia Militar durante a fuga, mas um homem que teve seu carro atingido por uma leve batida durante a perseguição disse não ter visto se os jovens atiraram na direção dos PMs. O motorista disse apenas ter visto a moto com os dois rapazes, na contramão da rodovia Raposo Tavares, e um carro da PM atrás deles.

A primeira farsa descoberta

PMs algemaram Paulo Oliveira, o soltaram, levaram para um muro, o deitaram no chão e atiraram duas vezes contra o peito dele.


Depois de atirar contra Paulo Oliveira, um PM vai até um carro da polícia, pega uma pistola no banco traseiro, aciona o rádio para comunicar a central da corporação sobre um tiroteio e volta até o corpo do jovem, onde coloca a arma retirada de dentro do veículo.

Pela versão que apresentaram à Polícia Civil, os PMs Tyson Oliveira Bastante, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, ambos da 3 Companhia do 23 Batalhão da PM, assumiram ter atirado contra Paulo Henrique. Outros três PMs que deram cobertura aos dois também estão presos.

Paulo Henrique Porto de Oliveira, 23 anos, foi morto por PMs de SP após ser rendido
Paulo Henrique Porto de Oliveira, 23 anos, foi morto por PMs de SP após ser rendido

O passo a passo da execução de Paulo Henrique Porto de Oliveira (siga pelo timer)

14:10:47 – Paulo passa correndo, no alto da imagem, e entra na lixeira que está atrás da árvore

14:11:43 – Paulo começa a se preparar para sair da lixeira. Ele levanta a tampa algumas vezes

14:12:15 – Paulo sai da lixeira, com as mãos para o alto, tira a blusa e a camiseta. Veste novamente a camiseta, senta no chão, levanta as mãos para o alto novamente. Vira de bruços, levanta mais uma vez as mãos para o alto. O rapaz deixa com o rosto no chão.

14:12:45 – O rapaz vira de barriga para cima e, ainda deitado, estica os braços para cima.

14:13:36 – O primeiro PM se aproxima de Paulo, que segue deitado no chão. O militar está com a arma empunhada. Ao lado, uma policial também ajuda a render o rapaz, assim como um PM da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas).

14:13:58 – Paulo é algemado pelo primeiro PM que chega perto dele.

14:15:03 – Uma moto com um soldado da Rocam e dois carros da PM chegam para auxiliar os PMs que já renderam Paulo.

14:15:21 – Quatro PMs cercam Paulo, que está algemado de bruços no chão.

14:15:30 – O mesmo PM que algemou Paulo se abaixa e o libera das algemas.

14:15:10 – Com a ajuda de um PM, que o segura pela mão, Paulo é colocado sentado perto do muro.

14:15:45 – Auxiliado por um PM, que o segura pelas duas mãos, Paulo é levantado e colocado em outro canto do muro, dessa vez atrás de um poste.

14:18:30 – PM faz sinal para alguém se afastar da cena do crime.

14:18:33 – Paulo é baleado duas vezes, no peito, e começa a se debater.

14:18:36 – PM que ajuda atirar em Paulo corre até carro da polícia, abre a porta traseira esquerda, pega uma pistola, coloca o carregador, abre a porta dianteira esquerda, fala algo no rádio e volta correndo até o corpo de Paulo, onde a arma é colocada.

A reportagem não conseguiu localizar os advogados de defesa dos PMs Lapiana, Gambale, Tyson e Reis. Os quatro disseram à polícia que foram os responsáveis pelas mortes de Paulo Oliveira e Fernando da Silva.

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