Por Narco Rodrigo Almeida, na Folha
A origem de “O Verso dos Trabalhadores” é tão interessante quanto suas histórias. O livro foi produzido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) a partir de multa aplicada a uma empresa de construção civil que infringiu leis trabalhistas – no caso em questão, por conta da terceirização ilícita de mão de obra e condições insalubres. Parte da verba – cerca de R$ 242 mil – foi encaminhada para a elaboração de livro e site sobre o tema.
“Nossa intenção era mostrar para a sociedade alguns casos de exploração do trabalhador, mas não queríamos uma visão jurídica, a nossa visão. Então buscamos um outro olhar, um retrato diferente para essa realidade”, conta José de Lima Ramos, procurador regional do Trabalho e coordenador nacional do combate às fraudes trabalhistas do MPT.
O livro reúne textos inéditos de oito autores: Eliane Brum, José Rezende Jr., Clara Arreguy, Xico Sá, José Luiz Passos, Marcelo Rubens Paiva, Lya Luft e o moçambicano Mia Couto. Apenas o de Milton Hatoum já havia sido publicado antes.
Os relatos são intercalados por fotografias de Geyson Magno, Tibério França, Walter Firmo e dos fotógrafos da Folha Marlene Bergamo e Avener Prado.
Os relatos englobam diversos gêneros: conto, crônica, reportagem, carta. Cada escritor convidado teve liberdade para desenvolver seu tema, desde que retratasse o universo do trabalho. Como suporte à criação, receberam material com os casos de infração mais comuns no país.
A jornalista Eliane Brum centrou seu texto num assunto que pesquisa desde 2001: os trabalhadores do amianto.
Fibra utilizada na fabricação de telhas e outros produtos, o amianto pode causar câncer de pulmão em casos de contato regular sem qualquer forma de proteção.
Brum narra uma visita a uma das vítimas que acompanhou, identificada apenas como T., funcionário que adoeceu após anos de trabalho numa fábrica em que lidava diariamente com a substância.
“Queria fazer algo diferente, no qual pudesse caber algumas memórias e inquietações que não tinham lugar em outras narrativas. A escrita foi um pouco catártica para mim”, diz a jornalista.
José Luiz Passos, romancista e professor de literatura brasileira na Universidade da Califórnia (UCLA) em Berkeley, inspirou-se nos casos de jornada móvel variável na indústria de fast-food – contrato irregular em que os horários de trabalho atenderiam à flutuação de clientes.
No conto “Os Móveis do Mundo”, ele narra as memórias de uma mulher que passou a vida trabalhando em lanchonetes e restaurantes.
“Decidi por uma abordagem mais lírica, para que a dureza do tema não apagasse a grandeza interior do trabalhador”, comenta.
O VERSO DOS TRABALHADORES
AUTOR: VÁRIOS
EDITORA: TERCEIRO NOME