“Ai de vós, que juntais casa a casa e que acrescentais campo a campo, até que não hajas mais lugar e sejais os únicos donos da terra” (Isaías 5,8)
A Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) manifesta sua indignação com mais uma morte de um indígena Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Desta vez, a vítima foi Semião Vilhalva, morto neste sábado, 29 de agosto, com um tiro na cabeça, no tekoha Ñanderu Marangatu, no município de Antônio João.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e com a Aty Guasu, que reúne lideranças Guarani Kaiowá, Simão Vilhalva foi morto por fazendeiros, que tentavam retomar uma fazenda ocupada que é reivindicada como território tradicional da comunidade Ñanderu Marangatu, reconhecida e homologada desde 2005.
Entretanto, a suspensão dos efeitos da homologação, seguido por uma ordem de despejo, retirou os indígenas de suas terras, estendendo a situação de conflito.
A morte de Semião Vilhalva não deixa de ser o resultado da paralisação, por parte do governo federal, dos procedimentos de demarcação das terras indígenas, e da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender os efeitos da homologação da Terra Indígena Ñanderu Marangatu, submetendo estas famílias indígenas a uma crise humanitária reconhecida por organismos internacionais como uma das mais graves do mundo.
Assim, o mínimo que podemos esperar do Ministério da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal é rigor na apuração dos fatos e punição aos responsáveis por mais essa vida ceifada. Além disso, reafirmamos a urgência de medidas que garantam os direitos constitucionais dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, Estado que concentra o maior índice de indígenas mortos no país. Que também carrega denúncias de ação de forças paramilitares, que agem sob o comando de ruralistas, em ataques contra povos indígenas, ferindo o Estado Democrático de Direito.
A CESE se solidariza com a família de Simão Vilhalva, como o povo Guarani Kaiowá, com os demais povos indígenas do Mato Grosso do Sul. Não se calarão as vozes dos guerreiros e guerreiras dessa terra, não se acovardarão os defensores e defensoras dos direitos humanos.
Vilhalva, presente!