29 de diciembre, 2015.- La madrugada del 28 de enero del 2015, Rita Catashunga, alertada por sus vecinos de la ciudad amazónica de Nauta, corrió del puerto hacia su casa. Ahí encontró a la policía, la fiscalía y un cuadro estremecedor al ver muerta a su hija de 15 años. “Dorita” se había suicidado.
Este caso se suma a otros reportes de suicidios de adolescentes en Nauta e Iquitos. Nauta está a 100 kilómetros de Iquitos, en la región de Loreto, al noreste del Perú. (mais…)
Para entender as altas taxas de suicídio entre os jovens indígenas, registradas no Mapa da Violência de 2014, é preciso levar em conta os ciclos de violência que essa população enfrenta
Tímido, ele não olha diretamente para a câmera. Tem uma lanterna na mão para iluminar a densa noite na beira do rio Negro. Ali, quando não há lanternas, só se veem as estrelas que se apagam nas cidades grandes. Enquanto responde às perguntas de Miguel Seabra, um adulto, ele liga e desliga a lanterna, um pouco constrangido pela posição de interlocutor. (mais…)
Dadme, por favor, un pedazo de pan… / pero dadme / en español.
César Vallejo (1892-1938) – La Rueda del Hambriento
Por que hoje é tão alto o índice de suicídio entre os índios que originalmente desconheciam tal prática? Segundo o estudioso da língua Tukano, padre Casimiro Béksta, aqui citado na semana passada, não existe sequer tradução para tal palavra na maioria das línguas indígenas. Os pesquisadores que estudaram o suicídio de índios citam diversas causas relacionadas à terra, religião, economia, políticas de saúde e de educação, entre outras. Destacamos aqui uma delas vinculada às línguas e a seu uso na escola. (mais…)
Por volta das 14h45 do dia 27 de julho de 2015, enquanto muitos brasileiros assistiam a rede Globo de Televisão, ou acessavam seus facebooks, ou ainda tomava café no trabalho, a Polícia Civil de Guaíra, município do oeste do Paraná, foi comunicada pela Unidade Central de Saúde, que uma jovem indígena havia se suicidado. (mais…)
“Vivemos um problema ético no Brasil, porque o não reconhecimento dos direitos indígenas e dos direitos sociais, em geral, é uma questão que só pode ser discutida e colocada no âmbito da ética”, afirma a antropóloga
“O número de casos de violações e violência contra indígenas aumenta, diminui, aumenta, diminui, mas o padrão da violência contra os indígenas não se modifica”, diz Lucia Helena Rangel à IHU On-Line, na entrevista a seguir, em que comenta o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2014, lançado pelo Conselho Indigenista Missionário – Cimi no dia 19-05-2015, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em Brasília. De acordo com a antropóloga, que há anos trabalha em conjunto com o Cimi na avaliação dos dados do Relatório, é “bastante delicado” buscar as causas desta violência, porque a relação de causa e efeito “não é tão nítida, na medida em que há uma série de fatores que contribuem para essa situação”. (mais…)
A onda de suicídios e de automutilações entre indígenas foi levada à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York [Estados Unidos]. A tendência atinge todas as regiões do mundo e, em especial, o Ártico, as Américas e o Pacífico. Entre as causas desses atos extremos estariam: a crise gerada pelo afastamento das raízes culturais, os conflitos de terra e a negação de direitos humanos aos indígenas. A ONU recomenda uma série de ações aos países para lidarem com a questão.
Na abertura do Fórum Permanente da ONU sobre Assuntos Indígenas, realizado recentemente, o vice-secretário-geral da organização, Jan Eliasson, afirmou que 2015 representa um ano fundamental para a segurança e a prosperidade dos povos indígenas no mundo. “Agora, é o momento dos povos indígenas estarem na vanguarda de uma agenda transformadora, que não deixa ninguém para trás”.
Em entrevista à Adital, Cleber Buzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), faz uma avaliação positiva do Fórum. Segundo ele, que esteve presente no evento, as lideranças tiveram a oportunidade de exporem suas demandas, resultando numa série de articulações entre as organizações.
Buzatto cita que os suicídios indígenas estão acima das médias nacionais e são uma questão preocupante. “Estão associados a uma condição de vulnerabilidade social e cultural”, explica. Ele destaca que situações como a alta densidade populacional, os conflitos de terra e o isolamento de algumas comunidades, como é o caso da tribo Guarani-Kaiowá, no Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil, potencializam o suicídio.
De acordo com o secretário, o Brasil vive uma situação emblemática nos últimos quatros anos quanto aos direitos territoriais indígenas. “Está havendo uma reinterpretação restritiva das terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas”, denuncia. Para ele, os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) têm promovido “ataques” por meio de instrumentos administrativos, movidos por interesse econômicos pelas terras indígenas. A PEC [Proposta de Emenda Constitucional] 215 seria um exemplo. Esta Proposta tenta transferir do Executivo para o Legislativo a prerrogativa constitucional de autorizar a demarcação de terras indígenas.
Suicídio é multifatorial
As causas dos suicídios e da autoflagelação estão diretamente relacionadas a questões históricas enfrentadas pelos indígenas, como a desapropriação de suas terras e recursos e a negação dos direitos humanos. Sociólogos afirmam que há a perda do “vínculo sagrado com a terra”, gerando a falta de um “lugar de pertencimento”. Tudo isso, combinado à redução da autentificação e ao afastamento de suas raízes culturais e dos modos de vida, prova o isolamento sociocultural.
É como se o indígena estivesse em um “não lugar”, negociando entre culturas e com a sociedade de entorno. Os estudiosos apontam uma crise na escolha entre a tradição e a modernidade. Alguns índios acabam fugindo de suas tribos para as periferias das cidades. Enfrentam o alcoolismo, a pobreza, violência e a discriminação por serem indígenas.
A falta de oportunidades de trabalho e de representação na política, assim como de reconhecimento da importância dos povos indígenas, geram também altos níveis de pobreza e interferem na estrutura social indígena. Lutas por território e interesses econômicos de proprietários rurais são freqüentes. Há relatos de perseguição, torturas, incêndio de aldeias. Nesse contexto, a falta de esperança e de perspectiva têm levado jovens indígenas ao suicídio.
Entre os métodos mais utilizados para o suicídio estão o enforcamento e o envenenamento.
Em janeiro de 2015, a TV ONU produziu um documentário abordando o drama vivido pelos jovens indígenas brasileiros. Assista ao vídeo:
Recomendações
O Fórum Permanente da ONU exorta todos os Estados a elaborarem programas nacionais para estudarem, investigarem e prevenirem o comportamento suicida e a autoflagelação entre crianças e jovens indígenas. Pede à Organização Mundial de Saúde (OMS) que elabore uma estratégia de combate ao suicídio indígena em nível mundial.
Segundo o Fórum, os Estados devem melhorar a reunião de dados e recursos para desenvolverem programas de conscientização sobre a saúde mental indígena.
Recomenda ainda que a comunidade internacional trabalhe, ativamente, com os indígenas na formulação de indicadores chaves, relativos aos direitos sobre a terra e recursos naturais, ao empoderamento das mulheres indígenas, ao acesso à justiça e a medidas especiais relativas à saúde, educação e ao desenvolvimento socioeconômico indígena.
Estudo
De acordo com o relatório “Suicídio adolescente entre povos indígenas”, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o suicídio de jovens indígenas lidera as taxas entre os diferentes grupos populacionais latino-americanos. Os maiores índices são registrados entre os jovens de 15 e 24 anos de idade. O estudo, publicado em 2014, analisou o suicídio entre os indígenas da Colômbia, Peru e Brasil, especialmente entre as tribos Embera, Awajún e Guarani, respectivamente.
A pesquisa revela que, no Brasil, calcula-se que 38% da população indígena vivam em extrema pobreza, em contraste com os 15,5% da população total; a taxa de mortalidade infantil, em 2000, era de 51,4 por 1 mil habiantes, enquanto a média nacional era de 30,1 por mil.
No Peru, os índios são afetados pela expansão da cultura da coca, pela política de concessões petroleiras e florestais e pelas atividades mineradoras. Segundo o relatório, existem concessões petroleiras de mais de 50 milhões de hectares, cobrindo 72% da Amazônia peruana e já loteadas em sua totalidade. As cifras para as concessões mineradoras e madeireiras superam 2 milhões e 15 milhões de hectares, respectivamente, e o montante das terras desmatadas já supera os 10 milhões.
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Destaque: Entre as causas de suicídio indígena estão a perda de “vínculo com a terra” e o sentimento de não pertencimento, que provocam isolamento sociocultural. Segundo a ONU, existem 370 milhões de indígenas no mundo, sendo mais de 70 milhões de jovens. Este ano, os debates focaram nos esforços dos indígenas pelo reconhecimento dos seus direitos.
Nossa repórter foi até o alto rio Negro, no noroeste do Amazonas, em busca de entender por que o município mais indígena do Brasil é também o que tem o maior índice de suicídios
Faz pouco mais de dois meses que ela se foi, um dia antes do seu aniversário. Maria – vamos chamá-la assim – completaria 20 anos em 2 de março. Ninguém diria que não era uma indiazinha como tantas que colorem as ruas de São Gabriel da Cachoeira, município no noroeste do Amazonas, às margens do rio Negro. Era baixinha, os cabelos negros sobre os ombros, as roupas justas, chinelo de dedos. Mas Maria estava ali só de passagem. No seu enterro os parentes contaram que tinham vindo rio abaixo para passar o período de férias escolares, quando centenas de indígenas de diversas etnias deixam suas aldeias e enchem a sede do município para resolver pendências burocráticas. Ali na cidade, ela arrumou namorado, um militar, e passava os dias com ele, quando não estava entre amigos. Mas nos últimos dias Maria andava triste: o casal havia rompido o namoro. Estava estranha, nervosa. Os parentes contaram que chegou a ter alucinações. (mais…)
Tiago Marley, estudante negro do curso de graduação em Filosofia na Unifesp, se suicidou, causa básica da morte foi racismo. O racismo é um fenômeno que atinge frontal e letalmente a população negra em todos os lugares. (mais…)
Muitos jovens indígenas estão encontrando uma maneira definitiva de escapar do desespero: o suicídio. Por trás dessa tendência perturbadora estão os conflitos por terra. A reportagem é da TV ONU.