Fazendeiros contratavam matadores no período de ocupação das terras no final do século 19 e foi expulsando os indígenas, conta Edson Fernandes
Por Rita de Cássia Cornélio, em JCNet
A região de Lençóis Paulista começou a ser ocupada no século 19 [sic], entre 1940 e 1950 quando aqui havia uma população indígena formada por tribos caingangues, guaranis e otis ou xavante. A tribo oti era do campo e os caingangues das matas. Os primeiros embates ocorreram entre índios e mineiros que vieram para a região a partir da decadência da mineração, explicou o professor doutor Edson Fernandes.
Os embates tiveram início quando os mineiros ocupam as terras em nome do desenvolvimento e os índios ficam sem a caça. “Os mineiros conquistavam as terras e pediam ao governo para dar um jeito nos índios que atrapalhavam o desenvolvimento, na visão deles.”
As autoridades locais e estaduais da época, lembrando que era uma província, tentaram resolver a questão, enviando os padres para catequizar os índios. “Um deles foi Monsenhor Claro que veio com a essa missão, mas foi morto pelos índios. Não só esse religioso veio tentar evitar que os indígenas fossem massacrados pelos mineiros. Outros vieram tentar a catequização.”
Na sequência vieram os fazendeiros e começaram a criar gado. “E a caça dos índios foi desaparecendo. O índio começou a caçar o gado do homem branco. Ai os fazendeiros contratavam expedições, jagunços para dar cabo nos índios. Nesta época ficaram famosos alguns bugreiros como Adãozinho, Antonio Caetano dentre outros. Eles usavam arma de fogo enquanto os índios, arco e flecha.”
A intenção dos fazendeiros ao procurar as autoridades ia além da catequização. “As autoridades locais da região pediam ajuda ao governo do estado para trazer os padres para catequizar, mas pretendiam transformar os indígenas em mão de obra, porque a agricultura estava em expansão. Era a época do café.”
A ação de bugreiros ocorria em toda a região noroeste e oeste do Estado. Há registros de grupos que atuavam em Campos Novos Paulista, Platina e Assis, conforme fotos de 1880 a 1900 obtidas por Luiz Carlos de Barros, da cidade de Assis, repassadas ao JC pelo casal de memorialistas Celso e Junko Prado de Santa Cruz do Rio Pardo.
Nômade
Os indígenas da região tinham uma vida de nomadismo. Quando esgotava a caça e a pesca de um local, eles iam para outro. Ficavam circulando. Ocupavam uma enorme área entre o rios Tietê e o Paranapanema. Na serra de Agudos também tinha índios. Eles ficavam à beira dos rios. Passavam um tempo numa terra até esgotar os recursos.
Plantio de milho, do café e criação de gado geram o confronto entre fazendeiros e indígenas
Havia muitas capivaras, tatus, anta, macaco ou porco do mato, além de frutas para a alimentação dos indígenas. “Quando o homem branco chega e começa a plantar café, milho e a criar gado, a caça vai acabando. Os índios começaram a furtar o gado e esse foi o ponto usado pelos fazendeiros para dizimar as tribos.”
Segundo o pesquisador Edson Fernandes, há cartas de autoridades locais endereçadas ao governo do Estado reclamando que uma família de fazendeiro foi dizimada. “Há muitos relatos disso. Aqueles que moravam na boca do sertão especialmente. Há casos de fazendeiro atacado por índio em que a família ia embora. Os índios atacavam e os brancos revidavam, dezenas de pessoas foram mortas.”
A tribo oti começou a caçar o gado e os fazendeiros os matava. “Hoje eles não existem mais. Esse grupo desapareceu. Os caingangues ficaram recolhidos em reservas. Alguns nas cidades de Arco-Íris e Promissão. O governo criou reservas. Alguns poucos em Avaí. Os otis foram dizimados. O último grupo tinha uns 50 indivíduos. Eles foram diminuindo. Houve casos de mulheres que ficavam de lá para cá nas matas perdidas.”
A construção da ferrovia Noroeste foi um embate entre os trabalhadores e os índios que os atacavam até serem pacificados. Em 1912 foram os caingangues ou coroado. Eles tinham o nome da tribo e outro que o branco dava. Os caingangues ofereceram mais resistência na construção da ferrovia. Muitos morreram.”
Enterro de índios
Uma urna funerária indígena de barro infantil decifrou o modo usado pelos índios da região para enterrar suas crianças, explica a coordenadora Educacional e das Ações Culturais e Pedagógica do Museu Alexandre Chitto, Conceição Langone. “As crianças eram enterradas com o corpo no formato da igaçaba. Os adultos ficavam com o corpo em pé.”
Onça pintada
No acervo do museu de Lençóis, uma onça pintada empalhada em tamanho natural chama a atenção das crianças. Ela foi doada na década de 80. O doador conservava o animal empalhado em sua propriedade. A onça pintada não existe mais na região, graças ao desmatamento. Só são encontradas a onça parda, essa também enfrenta risco de extinção por não ter mais seu habitat natural.
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