Caciques Krahô comunicam que a etnia não participará dos Jogos Mundiais Indígenas: “A organização do evento não respeita o nosso povo”

Por Nayara Rodrigues, Conexão Tocantins

Os indígenas da etnia Krahô do Tocantins não participarão dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI) que acontecerão em Palmas do dia 23 de outubro até 1º de novembro próximos. A informação foi confirmada por meio do ofício de n° 03/2015 encaminhado nesta última quinta-feira, 10, ao articulador dos JMI, Carlos Terena, informando a decisão da União dos Caciques Krahô. Os caciques justificam que a organização do evento não respeita o povo indígena e ainda, que os organizadores do evento usam o nome e a imagem do povo indígena para se promover. “Para promover a sua própria imagem como gestores que apoiam o nosso povo e a causa indígena, o que não é verdade”, posiciona a União dos Caciques em ofício.

De acordo com os representantes do povo Krahô, as instalações que estão sendo construídas são vulneráveis à chuva e há necessidade de informações mais detalhadas sobre e para os indígenas quanto ao evento.

A União dos Caciques informa ainda que não há como participar de um evento promovido pela ministra Kátia Abreu: “Como podemos participar de um evento financiado por um governo que está promovendo o genocídio de nossos parentes Guarani-Kaiowa no Mato Grosso do Sul, e em várias outras regiões do País? Como podemos participar de um evento promovido pela senadora Kátia Abreu, uma das principais responsáveis pelo avanço do movimento anti-indígena no nosso País?”, questionam.

A União dos Caciques Krahô aproveitou para informar sobre os Jogos Tradicionais Krahô, promovidos pelos próprios indígenas, com realização anualmente no mês de agosto, ao qual incentiva os jovens a praticarem os esportes tradicionais da etnia. “Esse evento, inclusive, acontecido no interior de nossa terra, foi realizado sem apoio algum dos órgãos governamentais que estão financiando esses Jogos Mundias Indígenas”, afirma.

A etnia não poupou críticas e afirmou não poder permitir que o povo indígena Krahô sirva de vitrine. “Nós não pintamos nossos corpos para sairmos bonitos na foto, pintamos para representar nossa história, nossas conquistas e tradições, portando, quem quiser fazer foto do povo Krahô, venha participar de nossos Jogos Tradicionais Krahô, desta forma, qualquer cidadão do mundo poderá conhecer melhor nossa cultura e nosso jeito”, afirmam.

O documento da União dos Caciques Krahô exige que os organizadores do evento retirem as imagens e o nome dos Krahô de qualquer meio de comunicação que sirva de promoção aos Jogos Mundiais Indígenas. O documento é assinado por 28 caciques da etnia.

Representante

Segundo informações repassadas ao Conexão Tocantins pelo professor, representante da etnia e um dos organizadores dos Jogos Tradicionais Krahô, Renato Yahe Krahô, os organizadores dos Jogos Mundiais Indígenas não ouviram as comunidades que irão participar e ainda informou que nem todos os indígenas do Estado do Tocantins foram convidados. “Foram convidados somente os Xerentes, Karajá, Javaé da Ilha do Bananal e os Krahô, deixando de foram outros indígenas do Estado que na nossa opinião deveriam todos participar como as anfitriãs dos jogos, que são os Karajá Xambioá, Apinajé e Krahô-Kanela”, afirmou.

Segundo Renato, foi criada a Secretaria Extraordinária dos Jogos Indígenas da Prefeitura de Palmas, no entanto, a equipe da secretaria nunca foi nas comunidades esclarecer sobre os jogos. “Com esse jogos, nosso povo não será beneficiado em nada. Na verdade quem vai ser beneficiado é a cidade de Palmas, restaurantes, hotelarias, comércios, bares e etc., enquanto o nosso povo não terá nenhuma perspectiva de vida após jogos”, frisou

Jogos Mundiais Indígenas

A primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas pretende, segundo os organizadores, ampliar a convivência já instituída na edição nacional – que acontece desde 1996 – entre os diferentes grupos étnicos, dando oportunidade para que os povos se conheçam, interajam e se socializem com seus costumes, hábitos e culturas, por meio de atividades esportivas e culturais.

Cada País poderá inscrever até 50 participantes, totalizando 2.200 indígenas, sendo 1.100 de etnias nacionais e 1.100 internacionais. A programação será diversificada, com atividades esportivas (jogos nativos de integração, jogos tradicionais demonstrativos e jogos ocidentais), atividades culturais (shows e apresentações), passeios turísticos, gastronomia diversificada e feira de artesanato. A estimativa é que aproximadamente 300 mil pessoas circulem pelas arenas durante o evento.

Palmenses, internautas e vereadores, demonstraram preocupação quanto a realização do evento na Capital.

Prefeitura de Palmas

O Conexão Tocantins tentou diversas vezes falar com o secretário extraordinário dos jogos indígenas da Prefeitura de Palmas, Hector Franco, nos seus números de telefone, mas todas as ligações ou foram para a caixa de mensagem em um caso, ou não foram atendidas noutro.

Kátia Abreu

Conexão Tocantins também entrou em contato com a assessoria de imprensa da senadora e ministra Kátia Abreu que encontra-se em viagem no Estado do Piauí onde acompanha a presidente da República Dilma Rousseff em visita às obras da Ferrovia Transnordestina. A assessoria adiantou que Kátia Abreu não está promovendo o evento como é afirmado no ofício.

Confira aqui o ofício da União dos Caciques Krahô informando a não participação nos Jogos Mundiais Indígenas

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