Mineração em Carajás: interdição de estrada continua

Protesto de trabalhadores(as) rurais da Colônia Marajuara, município de Rio Maria, no sul do Pará.
Famílias de trabalhadores(as) rurais da Colônia Marajuara, município de Rio Maria, no sul do Pará, continuam acampados na estrada conhecida como vicinal Babaçu. O acampamento iniciou dia 22 deste mês com o objetivo de paralisar o tráfego de veículos das mineradoras Reinarda Mineração Ltda e Mineração Floresta do Araguaia, e que elas venham a atender as exigências das famílias.

Representantes das mineradoras já estiveram no local, conversaram com a comissão representativa das famílias, mas não concordaram em atender suas exigências. Apresentaram propostas de abertura de poços artesianos e de molhar a estrada com carros pipas, mas a comissão rejeitou, porque esta proposta já foi feita no ano de 2009 e não foi cumprida, e o que as famílias querem mesmo é o asfaltamento da estrada, porque só assim o problema será resolvido.

As famílias aguardam a chegada do dono da empresa Mineração Floresta do Araguaia, que está vindo de Belo Horizonte, para uma possível negociação.
À Mineração Floresta do Araguaia e Reinarda Mineração Ltda.

Acampamento dos trabalhadores(as) rurais na estrada conhecida como vicinal Babaçu.
Compreendemos a necessidade que há de extração dos recursos minerais para superação das necessidades da humanidade, mas não podemos admitir que este processo seja realizado de forma a beneficiar um pequeno grupo de pessoas e causar prejuízos para um grande número que vivem no entorno dos projetos.

No caso da exploração do minério de ferro, no município de Floresta do Araguaia, desde o ano de 2007, o que percebemos é o prejuízo para as populações que vivem no entorno do projeto, principalmente no nosso caso da comunidade Vitória da Conquista e outros que moram ao longo da estrada que dá acesso da mina, a Br-155.

Os problemas que enfrentamos:

1. RUÍDOS

Somos incomodados durante 24 horas pela poluição sonora provocada pelos veículos de transporte de trabalhadores, e principalmente provocada pelos Bi-trens que transportam minérios. O incômodo maior se dá à noite, quando deveríamos aproveitar do silêncio para dormirmos e descansarmos do dia de labuta, mas não podemos porque o barulho chega a ser insuportável. Os animais também são incomodados com o barulho.

2.POEIRA

A poeira produzida pelo tráfego dos veículos, que chegam até 3 Km de distancia, causam vários danos, na produção, criação de animais,  vegetação, impregnação nas roupas e utensílios domésticos, e prejuízo para a saúde das pessoas e dos animais, com alteração do ar e das águas.

a)      A PRODUÇÃO de frutas e hortaliças fica prejudicada pela quantidade de poeira  que atinge os produtos, alterando seu formato e sua qualidade, fazendo com que deixemos de produzir.

b)      A CRIAÇÃO DE ANIMAIS fica prejudicada pela alteração da qualidade das pastagens que chegam a ser rejeitadas pelos animais influenciando na redução do peso e na quantidade de leite. As águas de açudes e represas para criação de peixes são alteradas, sem que possa ser alcançado o desenvolvimento dos alevinos. Até os poços tem que estar bem  fechados para que a água não seja totalmente alterada.

c)      A VEGETAÇÃO  vai perdendo a capacidade de fotossíntese devido o excesso de poeira que impregna as folhas das plantas e das pastagens.

d)   OS MÓVEIS e utensílios das residências estão constantemente impregnados de poeira, não tem como manter limpos. As roupas, cobertas, toalhas no varal ficam impregnadas de poeira, e também dentro de casa.

e)       O  TRÁFEGO na vicinal se torna um grande risco tanto pela forma como os motoristas dos Bi-trens tomam conta da estrada, sem sinalização, quanto pela quantidade de poeira que dificulta a visibilidade, principalmente para quem trafega de motocicleta. Vários acidentes já ocorreram e vários prejuízos já foram causados para as pessoas. Vários acidentes já ocorreram também na BR, com morte e causando deficiências irreparáveis.  Para citar alguns: com morte, o caso do Edmilsom Ferraz e Lourival Soares de Oliveira; com deficiência, dona Joana e Fernando da FETAGRI, está até hoje em tratamento, com pouca recuperação.

f)       PROBLEMAS DE SAÚDE, afetam diretamente as pessoas, mesmo sem saírem de casa, os mais afetados são crianças e idosos. As crianças além de serem atingidas em casa também são quando se deslocam para a escola, porque tem que ficar na beira da vicinal aguardando o transporte escolar, por este ser aberto as crianças recebem poeira em todo o percurso de ida e volta da escola. Tem crianças que tiveram que tirar da escola porque não conseguem viver com saúde.

Principais casos que podem ser comprovados, a partir de declarações feitas pela família:

a)      Dona Ana Paula Pereira Guimarães Lopes, declara que o filho Victor Guimarães Lopes, não sara a gripe, já foi ao médico várias vezes, mas não tem resultado. Durante a noite fica impossível de respirar, pois é muita poeira.

b)      Dona Rosa Santos Feitosa, declara que o filho Cássio ficou doente devido a poeira. Fez raio-x e acusou mancha nos pulmões e pneumonia. Ela fala que a poeira faz mal para as visas, causa irritação nos olhos.

c)      Dona Elizete P. de Sousa, declara que o filho Ian Carlos tem bronquite alérgica, e não pode sentir poeira, mas não tem condições de ficar um dia sem poeira, pois os Bi-trens passam 24 horas, ele falta o ar e precisa fazer aerosol e fica com as amídalas inflamadas. Ele precisa estudar e tem que pegar o ônibus na estrada.

d)      Dona Eliane Miranda Feitosa, 35 anos, sofre de bronquite asmática e nesta época tem crises muito fortes, com dias de cama, tomando remédio, até usando uma bombinha. Às vezes tem que passar dias na cidade.

e)      Dona Osdânia Soares da Silva, declara que o filho Gabriel Silva Carvalho, de 2 anos, tem problemas de irritação da vista, por isto tem que usar colírio quase o tempo todo, e sua filha Kevillin, de 5 anos, tem problema respiratório que se agrava com a poeira. Ela leva-os ao médico e sempre tem que está comprando remédio e sem condições.

f)       Sr. Antonio Lopes da Conceição, declara que vive com o corpo sempre doído, sempre indisposto. Diz que a poeira além de prejudicar a saúde ainda prejudica os poucos pastos que tem para os animais.

g)   Dona Érica Talaça Lopes, declara que seu filho, João José Talaça Conceição, 3 anos, está sempre gripado e nariz escorrendo. Leva-o sempre ao médico, dá remédios, gasta muito, mas não resolve.

Portanto, nós da comunidade Vitória da Conquista, Colônia Marajoara, município de Rio Maria, não aguentamos mais, por isto exigimos da empresa:

Paralisação do tráfego até que seja providenciado o asfaltamento da estrada, sinalização e controle de velocidade.

Rio Maria, 26 de setembro de 2011.

CEPASP – CPT – Associação de Moradores da Colônia Marajuara.

http://rogerioalmeidafuro.blogspot.com/2011/09/mineracao-em-carajas-interdicao-de.html

 

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