A capital das margaridas

Em encontro com as mulheres, presidente Dilma Rousseff promete melhorias nas áreas de saúde, crédito e civil

A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem, no encerramento da Quarta Marcha das Margaridas, uma série de medidas nas áreas de saúde, crédito e civil para as trabalhadoras do campo e da floresta.  Confirmou ainda a criação de um grupo interministerial, com reuniões semestrais, para acompanhar as melhorias prometidas.  O encontro da presidente com as manifestantes ocorreu no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, que estava repleto de trabalhadoras rurais vestidas de roxo.  Dilma mostrou-se simpática, colocou um chapéu de palha e encerrou sua fala avisando: “Quero deixar um abraço caloroso para vocês e dizer que também sou uma presidente Margarida”, disse ela, para delírio das presentes.

O atraso de Dilma, contudo, incomodou as manifestantes.  O horário inicialmente previsto para a solenidade era 16h, mas a presidente só chegou pouco depois das 17h.  “Ô, Dilma, cadê você?  Eu vou embora sem te ver”, gritavam as manifestantes.  Quando Dilma chegou, vestida com um tailleur roxo — mesma cor símbolo da marcha —, toda a animosidade foi embora e ela foi recepcionada como a “primeira mulher presidente eleita no país”.

Segundo ela, a presença no encontro representava um momento especial — “não apenas como presidente, mas como mulher e cidadã”.  Dilma disse que estava muito emocionada por participar, “no primeiro ano de governo da primeira mulher eleita presidente do Brasil para responder às reivindicações das mulheres do campo”.

Elogio

A presidente admitiu que a vida “das mulheres do campo, de fato, não é fácil”.  Elogiou as margaridas, dizendo que diariamente elas são obrigadas a mudar a história e lutar contra a desigualdade.  “Ser mulher, brasileira e militante do movimento popular precisa ter muita grandeza de alma”, completou.

Saudada como uma “guerreira por ter sobrevivido às torturas durante os tempos de ditadura”, Dilma afirmou que o país conta com as mulheres e depende do exemplo feminino “para melhorar o país e acabar com as desigualdades”.

Entre as medidas anunciadas pela presidente Dilma estão ações nas áreas de saúde, crédito e civis.  Dilma ampliou o número de instituições que injetarão recursos no PAS (Programa de Agricultura Sustentável) — além da Fundação Banco do Brasil, o BNDES e o Sebrae vão incentivar a criação de hortas e galinhas para atender a população rural brasileira.  “Vamos também aumentar a participação feminina na administração financeira das famílias.  A partir de agora, 30% do crédito rural serão destinados exclusivamente para mulheres”, disse a presidente.

Ela anunciou também a construção de 16 unidades fluviais — oito em 2011 e a outra metade no ano que vem — para atendimento das mulheres ribeirinhas.  Além disso, será promovida uma campanha nacional contra o câncer de colo de útero e de mama e a elaboração de uma mapa da saúde da população rural (veja quadro).

O governador Agnelo Queiroz esteve no encontro ao lado da presidente Dilma e de mais seis ministros.  “As metas de vocês, que também se ajustam à de todos os brasileiros, e toda a sociedade, estão fortalecidas.  Recebemos todas as margaridas com muito carinho e solidariedade.  O Distrito Federal também é a casa de vocês.  Estamos aqui para ouvi-las.  Tenho a certeza absoluta de que este ato não foi em vão”, disse.

Direito reconhecido

Debaixo do sol escaldante, uma mulher com batom rosa-claro usava a placa de reivindicação para fazer sombra.  A mensagem pedindo emprego e renda abrigava a trabalhadora rural, que teve que lutar pela terra onde hoje planta milho, feijão e mandioca.  Solange Maria da Rocha Souza, 36 anos, lavradora, estava assentada pelo Incra desde 1988, mas até conseguir o direito ao pedaço de chão precisou conviver com jagunços, humilhação e o assassinato de um companheiro.  “Vim lutar pela saúde e educação no campo”, disse a cearense.

“Educação é progresso”

Uma enorme bandeira do Brasil estirada na grama do Congresso Nacional chamou a atenção na Marcha das Margaridas.  De longe, era possível ler a substituição dos tradicionais dizeres “Ordem e progresso” por “Educação é progresso”.  Quem se aproximava, via camuflada entre o verde e o amarelo uma mulher de sorriso aberto.  A funcionária pública Marlene Celestino, 59 anos, matogrossense, mas moradora de Brasília, explica o traje.  “Nossa bandeira está errada.  Só a educação traz progresso.  Eu, que não estudei, sei disso.”

Avanços

Algumas medidas anunciadas pela presidente na Marcha das Margaridas:

» Realização de mutirões com três barcos para tirar documentos das mulheres ribeirinhas;

» Os imóveis rurais obtidos por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário terão escritura conjunta do casal;

» Construção de 16 unidades básicas fluviais de saúde;

» Até 2012, construção de 10 unidades de referência de saúde para as trabalhadoras do campo e da floresta;

» Ações para a redução da mortalidade materna e infantil para as mulheres no campo;

» Campanha contra o câncer do colo de útero e de mama para mulheres do campo;

» Construção do mapa de saúde das populações do campo;

» Aumento do limite de venda de cada agricultor familiar para R$ 200 mil;

» Trinta por cento da merenda escolar devem ser adquiridos da agricultura familiar;

» As trabalhadores rurais terão direito a R$ 3 mil do Crédito de Apoio à Mulher, disponibilizado em uma parcela.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=392082

 

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