MG – Operários dormem no chão e passam fome em alojamento

Compaixão. Aluguel do barraco não foi pago, mas dono ficou com pena de expulsar trabalhadores. Foto: Daniel Iglesias

Após denúncia de maus-tratos, 22 trabalhadores da construção civil foram resgatados pela Polícia Militar, na manhã de ontem, em um alojamento improvisado no bairro Olhos D’Água, na região Oeste de Belo Horizonte.

Militares do 5º Batalhão encontraram os trabalhadores em situação de exploração. Segundo a polícia, todos foram trazidos do município de Rio Casca, na Zona da Mata, por Leandro Rodrigues Chaves, 31, com a promessa de trabalho em uma obra em Belo Horizonte.

Após trazer os trabalhadores, Rodrigues, que se identificou como empreiteiro, alugou um barraco na região Oeste da capital, para servir de alojamento. No local, os operários foram instalados em condições precárias.

Os maus-tratos foram descobertos após a proprietária de um restaurante ter ido à casa, na esperança de receber pelo fornecimento de alimentação. “Ele me contratou para fornecer comida e me pagou com um cheque sem fundo”, disse a proprietária do restaurante, que não quis se identificar.

José Paula Vieira, um dos trabalhadores, está na capital desde 29 de março. “No primeiro dia, recebemos comida, mas tivemos que dormir no chão. Não desconfiamos de nada porque no outro dia já tinha até colchão”, disse.

Os operários desconfiaram quando o comerciante que entregou os colchões retornou à casa para recolher o material. “Ele disse que o Leandro tinha pago com cheque sem fundo. Voltamos a dormir no chão e sem comida”, contou o pedreiro Sergio Honorato.

De acordo com a PM, alguns operários chegaram a vender objetos pessoais para comprar comida. “Eles venderam alguns colchões antes de serem recolhidos pelo dono da loja e também alguns pertences”, contou o capitão Luiz Cláudio da Silva.

Osmar Lima, dono do imóvel, disse que foi ao local cobrar aluguel, mas não teve coragem de cobrar nem de expulsar os trabalhadores da residência. “Nem eles sabem o que está acontecendo. Estão desde sexta-feira sem comer e não têm documentos nem dinheiro para voltar para casa”, disse o proprietário da casa.

O Ministério do Trabalho acompanhou a ocorrência e encaminhou os trabalhadores a um abrigo.

Sindicato garante suporte

Os operários procuraram suporte no Sindicato da Indústria de Construção Civil para tentar conseguir a documentação e o retorno para Rio Casca. O diretor do sindicato, Vilson Valdez, disse que o caso será analisado e providências serão tomadas. “Faremos o que for possível para ajudá-los”, afirmou.

Segundo o advogado especialista em direito trabalhista Eric Salgado, práticas de falsários com oferta de trabalho são recorrentes. “Infelizmente, essas pessoas se aproveitam da pouca instrução e da dificuldade de renda e trabalho encontradas em algumas regiões para exploração”, disse.

De acordo com Salgado, a melhor forma de fugir das falsas promessas é buscar informações sobre o trabalho oferecido. O candidato deve ainda procurar mais detalhes, como o papel que irá desempenhar, onde irá morar e o salário. Além disso, explica o advogado, é preciso verificar se o transporte de uma cidade para outra será reembolsado pela empresa.

Salgado alerta para a prática da retenção de documentos, sem a garantia de que o empregado terá a carteira assinada. “Os documentos não podem ser retidos por mais de 48 horas. Caso isso aconteça, o trabalhador pode denunciar ao Ministério do Trabalho”, disse. A recomendação é acionar a polícia em caso de maus-tratos. (GS)

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