Câmara Federal sob o império do preconceito

Tudo começou com uma pergunta mal entendida que resultou em uma resposta que todo mundo entendeu muito bem. Durante um programa de TV, ao ser perguntado pela cantora Preta Gil sobre como reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) respondeu que não discutiria promiscuidade.

O remendo no dia seguinte saiu ainda pior. Bolsonaro afirmou que entendeu que a cantora havia se referido a um relacionamento homossexual e opinou que ser gay é ser promíscuo. Se a declaração causaria polêmica vinda de qualquer pessoa pública, ao vir de um parlamentar, causou ainda mais surpresa.

Segundo o professor de Antropologia Política da Universidade Federal do Pará (UFPA), Romero Ximenes, o político expressa o pensamento conservador da sociedade, “que é racista e homofóbica em sua maioria”.

“Ele se torna o porta-voz dessas pessoas. Ele é um intelectual da direita com base política conservadora, que desagradou à opinião pública, mas tira proveito dessa maioria silenciosa. Do ponto de vista eleitoral, no mercado político, esses comportamentos influenciam no ganho de votos. É como se ele estivesse posando para sua clientela conservadora. Mas é claro que ele corre o risco de ser punido por racismo, que é crime inafiançável”.

Ainda segundo o professor, a política ultrapassa o legal e prevalece o que a maioria pensa. Para ele, o caso tem gerado muita polêmica pelo fato das declarações terem sido feitas em um programa de TV e por uma pessoa pública. “O preconceito no Brasil tem uma característica específica: ele é praticado e negado. As pessoas efetivamente discriminam, mas negam até a morte. O Brasil que sempre negou o racismo escravizou índios e negros”.

Eduardo Benigno, coordenador do Grupo Homossexual do Pará (GHP), demonstra indignação em relação ao comportamento do deputado, mas acrescenta que o fato não é nenhuma novidade para o grupo LGBT. “Ele já se posicionou várias vezes contra a comunidade e foi eleito democraticamente, podendo até ter recebido votos da gente. Conhecemos ele de longa data e não é o único a ter esse pensamento. Mas, esses que não falam o que pensam são os nossos grandes inimigos.”

O coordenador destaca que no dia 17 de maio a comunidade LGBT se reunirá em Brasília em um seminário que discutirá o assunto no Congresso. E no dia 18 será feita uma manifestação contra Bolsonaro. “Acho ele ridículo, o que ele disse foi grave. Porém, nós não podemos mover nenhuma ação, já que a homofobia no Brasil não é crime. Estamos nos mobilizando para que o projeto de lei que criminaliza a homofobia seja aprovado”.

O MORENO ESCURO

Há algumas semanas, outro deputado federal, Júlio Campos (DEM-MT), se referiu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, como “aquele moreno escuro lá no Supremo”. O ministro não se manifestou e o deputado pediu desculpas alegando que havia esquecido o nome dele.

“A questão racial vem desde o nascimento, já o homossexual passa pela descoberta depois. A carga do preconceito é mais pesada na gente. É muito mais frequente”, pontua a militante do Movimento Negro no Pará, Mariuza Silva.

Sobre o comportamento do deputado, Mariuza acredita que não se pode generalizar, dizendo que os eleitores não estão sendo bem representados, o que acontece é que o próprio político carece de respeito com quem lhe elegeu.  (Diário do Pará)

http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-130204-CAMARA+FEDERAL+SOB+O+IMPERIO+DO+PRECONCEITO.html

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