Entrevista Luiza Bairros

Priscila Chammas – Redação CORREIO

A nova ministra da Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, é gaúcha, mas teve todo o seu histórico de militância negra e feminista construído na Bahia, estado onde ganhou a Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi), em agosto de 2008.

Conhecida do movimento negro, sua indicação para assumir o Ministério da Promoção da Igualdade Racial foi muito comemorada pela comunidade afrodescendente baiana.

Luiza é pós-graduada em Sociologia e mestre em Ciências Sociais, com vários livros publicados sobre as lutas dos negros e das mulheres. A ministra falou com exclusividade ao CORREIO do significado da eleição de Dilma e da indicação de nove ministras para a luta pela igualdade entre os gêneros, masculino e feminino.

Falando como socióloga, o que significa a eleição de Dilma e a nomeação de tantas mulheres para ocupar ministérios, para a luta pela igualdade de gêneros no Brasil?

Acho que a decisão de eleger uma mulher para presidente responde a uma bandeira histórica dos movimentos femininos pela paridade entre os sexos. Definir meta de 30% de mulheres na política foi um passo importante para a democracia, afinal, uma democracia sem mulheres não é  uma democracia.

E agora, qual será o próximo passo?

Precisamos avançar na aplicação da lei de 30% nas candidaturas dos partidos políticos. Não houve sanções para quem descumprisse. Também precisamos garantir o cumprimento do decreto que estabelece uma cota do fundo partidário para a formação política de mulheres. Os partidos ficaram à vontade para descumprir a lei.

A forma de governar feminina é diferente da masculina? Tem algum diferencial?

A gente espera que seja. Homens e mulheres são criados de formas diferentes, então a cultura influencia muito. Mas não temos como estabelecer limites. Não dá pra dizer que as mulheres são mais humanas, mas o lugar que tradicionalmente elas ocupam na sociedade as obriga a agir diferentemente do que se espera do homem.

Você acha que haverá mais cobrança da população, pelo fato de serem mulheres?

A possibilidade existe, mas há dois motivos diferentes. Temos o caso dos conservadores da sociedade, os machistas que podem dizer: “Tá vendo? Vocês não queriam assumir o poder? Agora mostrem que são capazes”. E tem também a expectativa de que as questões sejam tratadas de forma diferente, mais coerentes com as necessidades da população, já que elas sofrem mais do que os homens, pelo preconceito e pela falta de espaço na sociedade, e entendem melhor o sofrimento das pessoas.

Apesar de ser mulher, Dilma tem uma postura mais ‘durona’, o que é considerado pouco feminino por algumas pessoas. Você acha que isso ajudou ou atrapalhou a eleição dela?

As pessoas tradicionalmente associam o lugar de poder ao homem. É como se a posição fosse ‘natural’ aos homens e ‘inadequada‘ às mulheres. E, quando uma mulher chega lá, ela tem que ser firme, ter opiniões, discutir e batalhar por elas. Por essa postura, muitas vezes a mulher é considerada pouco feminina. Esse negócio de brigar, de dar ordem, os homens fazem sempre, mas ninguém repara. É como se o poder tivesse que ser necessariamente masculino.

Que planos você tem para o ministério?

2011 foi considerado pela ONU o Ano Internacional do Afrodescendente. Pretendo aproveitar essa data propícia para propor, no governo federal, ações emblemáticas em prol dos negros.

No Rio Grande do Sul, você chegou a se graduar em Administração Pública. Já era um plano seguir a carreira política?

Não, eu cheguei a fazer também Administração de Empresas. Queria trabalhar no serviço público, mas não necessariamente seguir uma carreira política.

E sua vinda para a Bahia? Teve algo a ver com o fato de o movimento negro ser forte aqui?

De certa forma sim. Eu fazia parte do movimento estudantil e vim a Salvador pela primeira vez participar de um encontro de estudantes de Administração. Chegando aqui eu percebi a predominância da população negra, além dos atrativos turísticos da cidade, e resolvi vir morar aqui. Ser negra numa sociedade majoritariamente negra, como Salvador, é bem diferente de ser negra numa sociedade de brancos em Porto Alegre.

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Comments (2)

  1. Muito sussesso à Ministra Luiza Bairros à frente da SEPPIR,onde
    após muita luta conseguimos com o ex-Ministro Edson Santos a
    Secretária Indígena coordenada pelo Professor Alfredo Silva,
    indígena do povo Wapixana de Roraíma.Esperamos que a Ministra Luiza,mantenha o Prof.Alfredo na Coordenadoria Indígena/SEPPIR,
    e fortalece o Movimento Indígena Brasileiro.Edson C. Karcará-Urú/Arachás Presid.Assoc.Indígena “ANDAIÁ”(34)3662-1528 [email protected]

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