Indígenas do Vale do Javari (AM) sofrem com falta de atendimento à saúde

Karol Assunção

Adital – Os alertas dados pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) de Atalaia do Norte, no Amazonas, não foram suficientes para chamar atenção das autoridades sobre a situação da saúde indígena no município. Terça feira (14), após cinco meses sem receber salários, profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), do Vale do Javari, decidiram parar os serviços.De acordo com Jorge Marubo, presidente do Condisi Vale Javari, os funcionários estão paralisados desde ontem, afetando o atendimento de pacientes da Casa de Apoio do município de Tabatinga e da Casa de Apoio à Saúde Indígena de Atalaia do Norte, além de prejudicar a entrada e saída de equipes multidisciplinar nas comunidades indígenas do Vale do Javari. “Agora só funciona atendimento emergencial”, afirma.

Marubo revela que a situação é ainda mais grave por conta do bloqueio dos cartões de fornecimento de combustíveis e lubrificantes, o que impede o deslocamento de pacientes em situação grave nas comunidades do Vale do Javari. “Duas indígenas já foram a óbito por falta de combustível”, denuncia.De acordo Marubo, as autoridades já foram avisadas sobre a situação. Na última segunda-feira (13), o próprio presidente do Condisi enviou um ofício ao Ministério Público Federal do Estado do Amazonas – com cópia para o Departamento de Saúde Indígena (Desai-DF), Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde no Amazonas (Core-AM), e Dsei Vale do Javari – destacando os problemas enfrentados pelos indígenas em relação ao atendimento à saúde.

No mesmo dia, o aviso de paralisação das atividades do Dsei Javari foi dado pelo Chefe do Distrito, José Bezerra de Souza, através de memorando. No documento, Souza ainda alertou sobre a possibilidade de “revolta das lideranças indígenas do Vale do Javari” e até mesmo de “invasão dos indígenas ao Dsei até que se resolva o problema”.

Ontem, o Conselho Distrital de Saúde Indígena enviou outro ofício denunciando o caso. Dessa vez, o documento foi destinado ao Ministério Público Federal de Tabatinga-Amazonas. Entretanto, ao que parece, nada ainda foi resolvido. “Enviamos documentos para o Ministério Público, Funasa e até agora não tivemos resposta de ninguém”, comenta Marubo.

O presidente do Considi aproveita para lembrar que, caso a situação não for solucionada logo, os indígenas “tomarão uma posição mais séria” nos próximos dias. De acordo com ele, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari está articulando uma mobilização para chamar atenção sobre o descaso com a saúde indígena. “Não dá para brincar. Estamos pagando com a nossa vida”, indigna-se.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=50959

Comments (1)

  1. Essa situação é histórica. A negligência e corrupção que reina na área da administração pública relacionadas com as populações indígenas – FUNASA, FUNAI e o que mais for – só podem ser explicadas pelo racismo e pela conivência com uma política que visa deixar morrer essas populações incômodas. Quando compararmos essa ineficiência administrativa com a agilidade em leiloar, arrecadar fundos e iniciar uma obra como o Belo Monstro, podemos concluir que há vontade política que conduzem a um e a outro resultado tão diferentes, na mesma administração pública, no mesmo Estado.

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