Paramilitares dominam territórios e expulsam comunidades negras e indígenas

Natasha Pitts

Adital – A atuação de um grupo paramilitar nos limites e no território coletivo de Calima, na Colômbia, está perturbando e prejudicando a vida de populações afrocolombianas e indígenas que residem na localidade. Desde julho, os paramilitares estão realizando operações armadas, amedrontando e ameaçando a população, realizando despejos forçados, isolando famílias e cometendo assassinatos. Dois meses depois, nenhuma resposta foi dada, por parte do Estado, sobre a grave situação.Na tarde do dia 12 de julho, um grupo formado por 30 paramilitares começou a se espalhar pelos pontos de Cabeceras, El Coco e Palestina e pelo rio San Juan. Os paramilitares iniciaram sua atuação oferecendo dinheiro aos jovens que quisessem se juntar a eles.

Durante uma semana, o grupo consumiu drogas e provocou desordem no território coletivo de Calima. Diversas famílias foram obrigadas a sair de suas moradias. Os paramilitares também provocaram a morte de Murillo Juan Bautista, que foi assassinado no povoado de Palestina com golpes na cabeça.

Por não suportar mais a situação de medo e dominação, no dia 23 julho algumas famílias do povoado de Palestina tentaram fugir. Segundo relatos da Comissão Intereclesial de Justiça e Paz, poucas famílias conseguiram sair do território, pois a infantaria da Marinha e os paramilitares impediram a fuga coletiva. Em informe, a Comissão Intereclesial também denunciou que dois dias antes da chegada dos paramilitares a infantaria da Marinha abandonou o povoado de Palestina.Com o passar das semanas, a situação foi ficando cada vez pior. Os paramilitares anunciaram que tinham em mãos uma lista dos que deveriam ser assassinados e este anúncio provocou um grande impacto psicológico na população dos povoados. O temor era generalizado, as pessoas não podiam se deslocar, nem se reunir e teve início uma séria crise econômica e alimentar. A impossibilidade de deslocamento impedia que a população fizesse qualquer tipo de denúncia sobre sua situação.

Teve início o mês de agosto e a atuação paramilitar se tornou cada vez mais dura. Jovens e adultos passaram a ser assassinatos, alguns, inclusive, na presença da infantaria da Marinha. 97 pessoas da comunidade indígena Nonam foram obrigadas a sair de Santa Rosa de Guayacán e pedir abrigo em Buenaventura. O mesmo ocorreu com diversas outras comunidades. Há o temor de que a atuação dos paramilitares possa expulsar 2.000 afrocolombianos e indígenas de suas terras.

Em 22 de agosto, a Comissão Justiça e Paz recebeu denúncias de que as investidas criminosas se estenderam contra os membros do movimento Jovens Unidos pelo Bem-estar de Calima – JUBCA, que foram impedidos de denunciar os abusos e de manter qualquer contato com a Comissão Intereclesial. Os paramilitares afirmaram que os jovens, homens e mulheres afrocolombianos do JUBCA eram investigadores e que não permitiam a atuação do grupo.

De acordo com denúncias colhidas pela Comissão Justiça e Paz, a estratégia paramilitar faz parte de um plano maior de dominação social e territorial nos limites de San Juan e Calima, que deve ser totalmente executado até o fim de outubro. “Estamos aqui e não vamos sair. Primeiro vão vocês, e isso vai ser tudo nosso, em outubro”, assegurou um paramilitar dos grupos Águias Negras para os moradores da comunidade de La Colonia.

As suspeitas mais fortes são de que os paramilitares têm interesses basicamente econômicos e que desejam controlar os territórios para proteger as operações extrativas e de infraestrutura. As táticas criminosas de intimidar, expulsar e matar são mais rentáveis e menos trabalhosas do que garantir direitos sociais, ambientais e políticos.

Mais de dois meses após o início desta guerra injusta, o Estado permanece em silêncio e não proporciona uma resposta integral à situação enfrentada pelas comunidades negras e indígenas. Em virtude disto, a Comissão de Justiça e Paz está apelando por medidas humanitárias e políticas que garantam a vida e os direitos destas populações.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=50955

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