Desgraça política no Brasil

Emilio Azevedo

Maranhão, 30 de outubro de 2010, um sábado. Véspera do segundo turno da eleição no Brasil. No pequeno município de São Vicente Férrer, ocorreu mais um assassinato de um trabalhador rural a mando do latifúndio. A vítima é Flaviano Pinto Neto, 45 anos, pai de cinco filhos. Uma liderança quilombola do povoado Charco. Um dos principais articuladores da resistência pela terra e da luta para garantir a posse da área onde vive a sua comunidade. Uma semana antes de morrer, ele esteve na sede da FETAEMA (a Federação dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Maranhão). Estava angustiado. Flaviano foi morto às 21h por dois homens, quando se encontrava em um bar, à margem da BR 014. Foi atingido por oito tiros de pistola, calibre 38. Todos na cabeça. Os assassinos fugiram em um carro e uma moto. Não houve o registro das placas. A comunidade ficou aterrorizada. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou que foi uma tragédia anunciada.

O conflito fundiário em São Vicente foi denunciado pela entidade diversas vezes para os mais diferentes setores do poder público no Maranhão. Como sempre, nada foi feito. No dia seguinte ao crime, 31 de outubro, Dilma Rousseff se elegeu para presidente da República. Em seu primeiro discurso, naquele mesmo dia, falou sobre o respeito aos Direitos Humanos. Entre os presentes na hora da fala, o desmoralizadíssimo senador maranhense José Sarney (PMDB-AP), ex-comandante da ARENA, o partido da mesma ditadura que prendeu e torturou Dilma.

Então, na hora do discurso, estava lá, ao lado da presidente eleita, um dos maiores aliados do latifúndio assassino. Ele, que por conta de um indescritível abuso de poder político e econômico ocorrido nesta eleição, mantém sua filha Roseana no governo do Estado.  No mesmo governo que há várias décadas é cúmplice da violência rural e da impunidade que atinge os quatro cantos desta esquecida província brasileira. Hoje, passado o clima da campanha eleitoral, com a derrota da aliança neoliberal/fundamentalista capitaneada por José Serra, seria interessante que Chico Buarque, Leonardo Boff, Oscar Niemeyer, Marilena Chauí, Frei Beto, Aldir Blanc, Emir Sader e muitas outras figuras públicas se manifestassem sobre desgraças sociais como a que ocorreu com Flaviano.  Sobre o Maranhão e sua oligarquia latifundiária. Sobre a grave situação política deste longínquo pedaço do país que, distante dos aristocratas de Brasília, vive num selvagem (e muitas vezes trágico) cotidiano de luta política e social.  Um lugar onde a opressão pós-64 ainda está longe de acabar.


Caros amigos existe algo de muito podre no “nosso” reino da Dinamarca. A futura presidente da República falar em Direitos Humanos com José Sarney a tira colo é algo que vai muito (muito!) além da contradição. Por isto, no Maranhão, por conta de muitos e muitos Flavianos, não tivemos tempo para comemorar “a vitória” sobre o atraso…

P.S Hoje, em vários pontos do Maranhão, existem lavradores jurados de morte. Na mesma São Vicente Férrer, tem um chamado Manoel. No povoado de Quebra-Pote (zona rural de São Luís) tem outro chamado Joseli. A lista é muito longa… E Roseana Sarney, que continua mumificada no Palácio do Governo, não tem interesse, legitimidade, formação, nem equipe para tratar destes problemas. Os latifundiários e os grileiros são aliados históricos do grupo que ela representa e faz parte.

http://www.viasdefato.jor.br/index.php?option=com_content&view=article&id=243:desgraca-politica-no-brasil

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.