Desmatamento à vista

“Os dados sobre desmatamento na Amazônia divulgados pelo governo federal devem ser tomados como sinal de alerta. O aumento de 35% na destruição da floresta, um mês antes de encerrar-se o período de medição, indica que já se reverteu a tendência de queda”, afirma o editorial “Desmatamento à vista”, do jornal Folha de S. Paulo, 05-08-2011. Eis o texto.

Os dados sobre desmatamento na Amazônia divulgados pelo governo federal devem ser tomados como sinal de alerta. O aumento de 35% na destruição da floresta, um mês antes de encerrar-se o período de medição, indica que já se reverteu a tendência de queda.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, encarregado de fazer o monitoramento do desmate para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), utiliza dois sistemas baseados em imagens de satélite.

O Deter usa fotografias menos detalhadas, mas é mais rápido e tem a função de orientar a fiscalização, ao indicar áreas sob ameaça presente. As estatísticas oficiais saem doProdes, que analisa imagens de melhor resolução e só publica resultados meses depois.

As cifras ora apresentadas são do Deter, portanto ainda precisam ser confirmadas. Cobrem só o período de agosto de 2010 a junho deste ano. Julho, o 12º mês, tem muito desmate, e os dados faltantes só podem agravar a tendência.

O alarme tem endereço certo: o Senado, que inicia o exame da polêmica versão doCódigo Florestal aprovada na Câmara. Pivô da maior derrota do governo Dilma Rousseff no Congresso, em maio, o novo código é acusado pelo MMA de incentivar o desmate.

A simples expectativa de aprovação da lei levaria proprietários rurais a intensificar a derrubada de matas, alertavam preservacionistas. A alta dos índices de destruição reforça a hipótese, mas será difícil separar os efeitos do código e os do incentivo econômico mais direto para a abertura de áreas agropecuárias representado pela alta dos preços de commodities, como grãos e carne bovina.

O Código Florestal precisa de uma revisão, ninguém discute. Até ambientalistas concordam que a realidade do agronegócio conflita com várias de suas provisões. Não se trata, contudo, de abrir a porteira para a destruição, mas de chegar a um regramento moderno que concilie duas vocações óbvias do país: produção agrícola para atender a demanda crescente de alimentos e matérias-primas e valorização da biodiversidade contida em suas matas.

Nenhum outro país no mundo concentra tantas vantagens comparativas, em ambos os setores, quanto o Brasil. O Senado tem a responsabilidade de desbastar os exageros e desequilíbrios do novo código, tarefa que só realizará a contento com base no melhor conhecimento científico disponível.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=46041

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