UMBANDA: vizinhos colocam culto em xeque em Rio Claro, SP

Pai Henrique de Oiá (à direita) recebe apoio solidário da comunidade afro-religiosa, após audiência judicial no Fórum de Rio Claro

Rodrigo Salles

O líder religioso Pai Henrique de Oiá, da Tenda de Umbanda Lúcia Oiá e Caboclo Sete Cachoeiras, é alvo de uma ação penal pública incondicionada por perturbação do sossego. O processo foi aberto pelo Ministério Público a pedido de moradores do Bairro do Estádio, vizinhos do centro religioso.

A audiência judicial preliminar, em que o juiz ouviu as duas partes do processo, aconteceu na tarde da última quinta-feira (17). A partir dessa data, a lei determina que a sentença seja divulgada a partir de 10 dias. Caso seja condenada, a tenda de umbanda poderá ter suas atividades encerradas.

A disputa teve enorme repercussão e lideranças de centros afro-religiosos de toda a região manifestaram apoio a Pai Henrique. Praticantes e simpatizantes de umbanda e candomblé fizeram um protesto pacífico na Praça da Liberdade, em frente ao Fórum de Rio Claro, enquanto a audiência judicial era realizada.

Pai Eduardo, líder de candomblé em Piracicaba, classifica o episódio como intolerância religiosa. “Pregamos o respeito inter-religioso e, mesmo assim, somos agredidos. A cultura africana é muito rica e sempre foi um importante componente da nossa sociedade, mesmo sendo por ela renegada”, comenta.

A Ekedi Edna, também de Piracicaba, afirma que a discriminação contra as religiões afro se faz presente de forma velada. “A lei diz que o Estado é laico, mas na prática não é. Trabalhei por quatro anos na Assembleia Legislativa de São Paulo sob um enorme crucifixo. Isso é uma constante nas repartições públicas.”

Mãe Liliane, que trabalha com Pai Henrique no referido centro religioso, conta que a tenda umbandista tem mais de 40 anos. “Os reclamantes são os mesmos que nos pedem ajuda quando estão em dificuldades espirituais. Não podemos mais nos esconder. É tempo de semeadura para quebrar o preconceito. Espero que o juiz enxergue que se trata de um caso claro de intolerância religiosa.”

Para a presidente do Conselho da Comunidade Negra de Rio Claro (Conerc), Divanilde de Paula, a situação é lamentável. “Para uma cidade que foi pioneira na abolição da escravatura, é vexatório que casos assim ainda aconteçam”, declara.

As manifestações religiosas e culturais de origem africana são legítimas e devem ser preservadas, defende Kizie de Paula Aguiar Silva, da Assessoria da Integração Social, órgão ligado ao Gabinete do Prefeito. “Vários terreiros enfrentam problemas semelhantes na cidade. O debate deve ser amplo, pois a liberdade de culto é garantida pela nossa Constituição”, argumenta.

Depois de horas de depoimento, Pai Henrique de Oiá desceu as escadarias do Fórum visivelmente cansado. Agradeceu por todo apoio que vem recebendo e fez declarações. “O momento é de afirmação das religiões afro-brasileiras. Embates como este fazem parte do processo. Talvez o status quo da sociedade esteja incomodado, porque é cada vez maior a frequência de jovens nos terreiros.”

Procurados pela reportagem, os moradores que alegam perturbação do sossego por parte da tenda de umbanda não foram encontrados ou não quiseram se manifestar.

No sábado (26), a Câmara Municipal de Piracicaba sediará encontro do Movimento de Defesa da Liberdade Religiosa. O evento pretende reunir lideranças de mais de 15 religiões e denominações em prol do respeito e tolerância entre os diferentes credos.

Fonte: http://jornalcidade.uol.com.br/rioclaro

http://africas.com.br/site/index.php/archives/9940

Comments (1)

  1. Enquanto nós,umbandistas,negros,as tão bem ditas minorias não nos unirmos realmente,seremos sempre a risada e a satisfação do intolerante e ainda ignorante…

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