Théa Rodrigues* – Portal Vermelho / Adital
Na última sexta-feira (9), o jornalista, escritor e tradutor italiano Gordiano Lupi escreveu e divulgou uma carta aberta, direcionada a Yoani Sánchez, denunciando a blogueira cubana como mercenária. Lupi passou os últimos seis anos traduzindo textos da midiática contrarrevolucionária para o jornal La Stampa.
“Yoani Sánchez encerrou o contrato com o La Stampa e fez de mim um homem livre, que até ontem não podia dizer o que pensava por ser o tradutor seus textos. Agora que já não tenho qualquer ligação [com ela] e que os interesses da blogueira mais rica e premiada do mundo são administrados pela sua agente, Erica Beba, posso tirar as pedras de meus sapatos. Elas estavam me fazendo mal”, desabafa Lupi.
O jornalista demonstra sua frustração ao descobrir o verdadeiro rosto de uma mulher que anteriormente havia lhe convencido ser uma “companheira de lutas” por ideais democráticos. O texto faz uma espécie de “mea culpa” por ter “ajudado” Yoani a convencer os leitores italianos de que Cuba vivia uma situação apocalíptica.
“Eu cometi o erro de acreditar na luta Yoani Sánchez, vendo nela uma luta de David e Golias, uma luta que partia de baixo para combater o poder, uma luta idealista pela liberdade de Cuba. Percebi – ao som de amargas decepções – que a oposição de Yoani era letra morta, para não dizer que era por conveniência, para fazer o mundo acreditar que em Cuba não há liberdade de expressão”, afirma Lupi.
Yoani foi apresentada como uma “jornalista independente”, que mantém um blog (Generación X) com milhões de acessos e que enfrenta, com muitas dificuldades materiais, a suposta “tirania comunista”, que a persegue e censura.
Sua farsa começou a ser desmascarada quando foram comprovados seus vínculos com o governo dos EUA. O próprio WikiLeaks vazou 11 documentos da diplomacia norte-americana que registram as reuniões da “dissidente” com os “agentes” do Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Havana (Sina, em sua sigla em inglês) desde 2008.
“Comecei a duvidar que Yoani fosse não uma agente da CIA – como diziam seus detratores”, diz o texto do jornalista do La Stampa. “Eu percebi estar envolvido com uma pessoa que dá prioridade a interesses em nada idealistas. Um blogueira que leva a sua vida com tranquilidade, que em Cuba ninguém conhece e ninguém incomoda, que não vive ameaçada, aprisionada, silenciada, que não tem nenhum problema para entrar e sair de seu país”, reforça Lupi.
Não se pode negar a honestidade de Lupi na denúncia a Yoani Sanchéz, contudo, apesar de reconhecer seus erros, ele ainda segue uma linha crítica ao governo cubano. Portanto, e conforme alerta feito pelo jornalista Vincenzo Basile no jornalCuba Información, é preciso ter um olhar mais crítico à carta divulgada. Segundo Basile, “para [a denúncia] resultar completamente autêntica, seria preciso pelo menos ser acompanhada de mais duas cartas; uma direcionada a todos os leitores italianos e a todas as pessoas, cujas opiniões foram forjadas – e manipuladas – com notícias absolutistas resultantes de um erro de avaliação do jornalista e impostas por vínculos editoriais; e outra dirigida a todos que, nestes últimos seis anos, tentaram intercambiar as contradições sobre a blogueira com Gordiano Lupi e que receberam – e ainda recebem – a anacrônica e redutiva etiqueta de pró-castristas”.
Leia abaixo a íntegra da carte de Gordiano Lupi:
(Traduzido do original em italiano por Rafael Zanvettor, na Caros Amigos)
“Yoani Sánchez encerrou o contrato com o [periódico italiano] La Stampa e fez de mim um homem livre, que até ontem não podia dizer o que pensava por ser o tradutor seus textos. Agora que já não tenho qualquer ligação [com ela] e que os interesses da blogueira mais rica e premiada do mundo são administrados pela sua agente, Erica Beba, posso tirar as pedras de meus sapatos. Elas estavam me fazendo mal.
Eu cometi o erro de acreditar na luta Yoani Sánchez, vendo nela uma luta de David e Golias, uma luta que partia de baixo para combater o poder, uma luta idealista pela liberdade de Cuba. Percebi – ao som de amargas decepções – que a oposição de Yoani era letra morta, para não dizer que era por conveniência, para fazer o mundo acreditar que em Cuba não há liberdade de expressão. Comecei a duvidar que Yoani fosse não uma agente da CIA – como diziam seus detratores – mas da família Castro, paga para lançar fumaça em nossos olhos. Mas mesmo que não fosse nada disso, bastaria o fato de que eu percebi estar envolvido com uma pessoa que dá prioridade a interesses em nada idealistas. Um blogueira que leva a sua vida com tranquilidade, que em Cuba ninguém conhece e ninguém incomoda, que não vive ameaçada, aprisonada, silenciada, que não tem nenhum problema para entrar e sair de seu país. Por seu belo rosto recebi ofensas e ameaças de castristas e de comunistas italianos, por participar de uma luta inexistente, um sonho de liberdade esperado por muitos, mas certamente que não por ela, que pensava apenas no dinheiro proveniente de prêmios e contratos. Nesse ponto, eu não sei se Yoani Sánchez é uma agente da CIA ou da Revolução Cubana. Eu não sei e não me importo em saber. Só sei que não é a pessoa que eu pensava ser. E isto é suficiente para mim.
Um episódio que deveria ter me abrido os olhos à realidade ocorreu há mais de um ano, quando eu mandei a minha sogra à casa de Yoani para pedir esclarecimentos sobre uma viagem à Itália. Bem, eles a fizeram esperar na escada. Nem sequer a deixaram entrar para a sala. Um comportamento muito estranho para um cubano do povo. Eu deveria ter acreditado na minha sogra, quando ela me disse: “Essas pessoas não lutam pela liberdade de Cuba. Elas estão interessadas apenas em encher os bolsos”. Eu não acreditei na minha sogra e errei. Acreditei em uma luta ideológica que não existia. Na verdade, o objetivo de Yoani Sánchez foi sempre a de se tornar rica e famosa. Agora, ela conseguiu. Agora poderá ficar longe de mim, que perdi o direito de voltar a Cuba, enquanto a princesa dos blogueiros pode entrar e sair, como se fosse uma mosca que fica zumbindo um pouco em Havana e um pouco em Miami. A palavra borboleta não combina com ela. Mosca-varejeira é o termo mais apropriado. Agora Yoani Sánchez vai abrir um periódico farlocco (falso) , como os chamamos aqui na Itália, que poderá ser traduzido por outra pessoa, pois eu não o farei. Um falso jornal como o La Avanti de Lavitola, com todo o respeito com Lavitola. Yoani vai abrir um jornal, junto com seus amigos, que ninguém em Cuba vai ler, porque só estará disponível online. Mas o que isso importa para Yoani? Ela apenas quer alguém para financiá-lo, e que seja lido em Miami ou na Espanha, onde a comunidade cubana continua a se iludir com uma paladina inexistente.
Até agora, viajamos juntos, querida Yoani. Agora basta. Continuarei minha jornada sozinho, longe de suas ambições. Ela também toca Cuba é claro, que faz parte da minha vida, embora muitos cubanos tenham me desiludido. Vou tentar não pensar sobre isso, por respeito à minha esposa, que é uma cubana do povo e não tem nada a ver com a sua arrogância burguesa. E, como disse Fidel Castro, a história decidirá. Veremos quem por ela será absolvido”.
*Com informações do Cuba Debate, Caros Amigos e de agências.