Vladimir Platonow* – Agência Brasil
Rio de Janeiro – O cancelamento da vigília e da missa final da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Campus Fidei (Campo de Fé) em Guaratiba, causou prejuízos e um sentimento de frustração nos moradores e comerciantes do bairro, na zona oeste do Rio. A chuva ininterrupta transformou a área em um imenso lamaçal, forçando na última hora a transferência dos eventos para a Praia de Copacabana. Muitos investiram dinheiro para reforçar os estoques de comidas e bebidas, a fim de atender aos milhares de peregrinos que participariam do encontro no local.
“A gente ficou triste. Foi como levar uma rasteira. Estamos muito frustrados e sentidos. Eu me preparei como pude para garantir um estoque de comida e bebida para os peregrinos. Agora tenho de vender tudo a longo prazo”, lamentou o comerciante Marcus Fernando dos Santos, que gastou cerca de R$ 5 mil em mantimentos, na expectativa de uma grande movimentação de visitantes em seu pequeno comércio, à beira da estrada, a poucos metros do Campus Fidei. Foram mais de 120 quilos de comida, que agora ficarão estocados por um bom tempo.
Situação semelhante passa o casal de comerciantes Raimundo e Antonia Soares. Já idosos, eles investiram R$ 3 mil em estoques de comidas e bebidas e na reforma de uma casa, que seria alugada para os peregrinos. “O prejuízo foi imenso. Fizemos um plano e acabou que foi outro. Gastei o que eu não tinha para poder reformar a casa, para alugar, e deu esta zebra toda. Agora estamos aqui, esperando, para ver como vamos nos recuperar. Quando fiquei sabendo da notícia [da transferência do evento], não tive um infarte porque eu sou firme. Olhava para a televisão e não acreditava”, disse Antonia.
“Foi muito frustrante, o pessoal chorou e chorou muito. Estávamos esperando há meses por este evento. De repente, acabou tudo”, desabafou o motorista aposentado Manoel Rodrigues, morador do bairro, que sonhava em ver o papa de perto.
Frustração também foi o sentimento que marcou um grupo de 22 peregrinos vindos da pequena cidade de Reduto, na Zona da Mata de Minas Gerais. Eles conseguiram dinheiro para a viagem com uma rifa e estavam estrategicamente alojados na casa de uma amiga, próximo do terreno onde ocorreriam a vigília e a missa de encerramento da JMJ. Mas viram tudo ir por água abaixo quando o evento foi transferido para a zona sul da cidade. Como vieram com pouco dinheiro, muitos não tinham sequer o valor para pagar a tarifa de dois ônibus para ir a Copacabana e outras duas passagens para voltar, o que totaliza R$ 11.
“Saímos de lá, na quinta-feira (25), ansiosos com a presença do papa, chegamos aqui e fomos surpreendidos com a notícia de que ele iria só a Copacabana. Para nós, [isso] está sendo um transtorno. Vai ser difícil nos deslocar para lá”, contou José Gonçalves de Oliveira. “Nós não viemos preparados. Agora temos que nos deslocar para lá e isso é um gasto a mais”, reclamou Renata da Conceição. “Eu só tenho R$ 7 no bolso. Mal dá para comer uma coxinha”, lamentou o estudante Gabriel Hott, mostrando a carteira praticamente vazia. Mesmo assim, o grupo garantiu que fará o possível para ver o papa de perto: “Nem que eu tenha de ir a pé”, completou Gabriel.
*Edição: Talita Cavalcante
Incrível como uma área de 1,8 milhões de metros quadrados, sendo Área de Preservação Permanente (APP), foi destruída da forma mais irresponsável, sob as vistas de toda a sociedade. Além de ilegal, há indícios de que o aterro usado no O Campo da Fé tinha lixo hospitalar e coisas piores. Árvores abatidas e manguezal soterrado. Olhando o mapa, a cicatriz é 5 vezes que o estado do Vaticano. Amém!