Moradores e comerciantes de Guaratiba lamentam prejuízos com transferência de eventos da JMJ

_DSC6792Vladimir Platonow* – Agência Brasil

Rio de Janeiro – O cancelamento da vigília e da missa final da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Campus Fidei (Campo de Fé) em Guaratiba, causou prejuízos e um sentimento de frustração nos moradores e comerciantes do bairro, na zona oeste do Rio. A chuva ininterrupta transformou a área em um imenso lamaçal, forçando na última hora a transferência dos eventos para a Praia de Copacabana. Muitos investiram dinheiro para reforçar os estoques de comidas e bebidas, a fim de atender aos milhares de peregrinos que participariam do encontro no local.

“A gente ficou triste. Foi como levar uma rasteira. Estamos muito frustrados e sentidos. Eu me preparei como pude para garantir um estoque de comida e bebida para os peregrinos. Agora tenho de vender tudo a longo prazo”, lamentou o comerciante Marcus Fernando dos Santos, que gastou cerca de R$ 5 mil em mantimentos, na expectativa de uma grande movimentação de visitantes em seu pequeno comércio, à beira da estrada, a poucos metros do Campus Fidei. Foram mais de 120 quilos de comida, que agora ficarão estocados por um bom tempo.

Situação semelhante passa o casal de comerciantes Raimundo e Antonia Soares. Já idosos, eles investiram R$ 3 mil em estoques de comidas e bebidas e na reforma de uma casa, que seria alugada para os peregrinos. “O prejuízo foi imenso. Fizemos um plano e acabou que foi outro. Gastei o que eu não tinha para poder reformar a casa, para alugar, e deu esta zebra toda. Agora estamos aqui, esperando, para ver como vamos nos recuperar. Quando fiquei sabendo da notícia [da transferência do evento], não tive um infarte porque eu sou firme. Olhava para a televisão e não acreditava”, disse Antonia.

_DSC6818“Foi muito frustrante, o pessoal chorou e chorou muito. Estávamos esperando há meses por este evento. De repente, acabou tudo”, desabafou o motorista aposentado Manoel Rodrigues, morador do bairro, que sonhava em ver o papa de perto.

Frustração também foi o sentimento que marcou um grupo de 22 peregrinos vindos da pequena cidade de Reduto, na Zona da Mata de Minas Gerais. Eles conseguiram dinheiro para a viagem com uma rifa e estavam estrategicamente alojados na casa de uma amiga, próximo do terreno onde ocorreriam a vigília e a missa de encerramento da JMJ. Mas viram tudo ir por água abaixo quando o evento foi transferido para a zona sul da cidade. Como vieram com pouco dinheiro, muitos não tinham sequer o valor para pagar a tarifa de dois ônibus para ir a Copacabana e outras duas passagens para voltar, o que totaliza R$ 11.

“Saímos de lá, na quinta-feira (25), ansiosos com a presença do papa, chegamos aqui e fomos surpreendidos com a notícia de que ele iria só a Copacabana. Para nós, [isso] está sendo um transtorno. Vai ser difícil nos deslocar para lá”, contou José Gonçalves de Oliveira. “Nós não viemos preparados. Agora temos que nos deslocar para lá e isso é um gasto a mais”, reclamou Renata da Conceição. “Eu só tenho R$ 7 no bolso. Mal dá para comer uma coxinha”, lamentou o estudante Gabriel Hott, mostrando a carteira praticamente vazia. Mesmo assim, o grupo garantiu que fará o possível para ver o papa de perto: “Nem que eu tenha de ir a pé”, completou Gabriel.

*Edição: Talita Cavalcante

Comments (1)

  1. Incrível como uma área de 1,8 milhões de metros quadrados, sendo Área de Preservação Permanente (APP), foi destruída da forma mais irresponsável, sob as vistas de toda a sociedade. Além de ilegal, há indícios de que o aterro usado no O Campo da Fé tinha lixo hospitalar e coisas piores. Árvores abatidas e manguezal soterrado. Olhando o mapa, a cicatriz é 5 vezes que o estado do Vaticano. Amém!

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