BA – Mulheres indígenas promovem encontro na Aldeia Baheta, a Aldeia Mãe do Povo Pataxó

Por Alda Maria Oliveira e Ligia Bensadon

Em clima de muita energia e participação coletiva, o movimento das Mulheres Indígenas do Sul da Bahia, COMISULBA, realizou mais uma atividade com as mulheres, desta vez na aldeia Mãe do Posto Indígena Caramuru Paraguassu do Povo Pataxó Hã Hã Hãe – Aldeia Baheta, no dia 25 de julho. Desta vez o movimento conseguiu se superar na organização e mobilização, o mesmo contou com a presença de 150 pessoas, na grande maioria jovens.

A alegria tomou conta do encontro, que foi recheado com mística de abertura, brincadeiras, músicas, depoimentos, testemunhos e troca de experiências muito forte e enriquecedora para o fortalecimento das lutas das companheiras, na percepção de que não estão só nesta árdua caminhada. Se somaram ao grupo, no apoio e participação, a Teia de Agroecologia, Funai, prefeitura de Itajú do Colônia, MST, Paróquia da Piedade Itabuna, Grupos de Mulheres Pataxó Hã Hã  Hãe do Caramuru e Água Vermelha (Pau Brasil), mulheres Tupinambá da Serra do Padeiro, pessoas da comunidade local, estudantes e pesquisadores de universidades do Rio de janeiro e de Salvador; sobre a coordenação da educadora popular Alda Maria Oliveira, do CIMI, e Rizia Muniz, Claudinha, Zezé e Rafaela.

Vale lembrar que houve incontáveis contribuições da comunidade local e de amigos da cidade. Este encontro aconteceu com o objetivo de reanimar as mulheres da comunidade local a partir das experiências dos grupos parceiros presentes, no sentido de fortalecer as mesmas, saindo do isolamento. Confira abaixo alguns trechos do encontro.

“Nós não tínhamos liberdade, éramos mandados pelo chefe de posto, aprendíamos o tempo todo a trabalhar, a ser escravo, não íamos para a escola, éramos discriminados, não tinha direito a dizer que era índio, diziam na rua “olha os bichos”, que não falávamos português direito, que andava descalço, comia carne crua”, relatou Maura Titia Pataxó Hã Hã Hãe-Baenã.

No emocionante relato de vida, Dona Maura trouxe ensinamentos a todas as participantes, dentre crianças, jovens e adultas. Trouxe a lembrança de vários das lutadoras e lutadores que junto com ela fizeram a história da aldeia e da defesa dos direitos indígenas, contra a tirania de fazendeiros e do Estado, e dos ensinamentos dos velhos que contribuíram para que ela se tornasse uma liderança. Analisa que as mulheres são líderes também dentro da aldeia, por elas mesmas, sustentando a família em casa, cozinhando e cuidando dos filhos. Dona Maura é uma das sobreviventes do povo Baenã, que foi dizimada na região, e por conta de seu marido ser Pataxó Hã Hã Hãe sobreviveu, ainda que seu registro de nascimento tenha sido queimado pelos chefes de posto, sem saber ao certo sua data de nascimento. “Hoje temos nossas terras, vamos brigar por elas, vamos aprender com os velhos, vamos ouvir e buscar nossos direitos”.

encontro mulheres ha ha hae  - criancas cartazes

Na seqüência Dona Maria da Glória de Jesus, da aldeia Tupinambá na Serra do Padeiro, colocou que as retomadas de territórios indígenas são garantidas pelas mulheres. “As mães tem que ensinar a cultura, incentivar os filhos a ficar na aldeia, a não tirar o colar e o maracá, a não ser empregado. Vamos sentar com Dona Maura e ouvir as histórias e dar valor a uma terra em que se derramou tanto sangue”, apontou.

A Cacica Ilza Pataxó Hã Hã Hãe complementou dizendo dos desafios em ser uma liderança mulher, da própria comunidade questionar a capacidade de liderança e das jornadas que se acumulam, dentro e fora de casa nesta luta, e assim como as falas anteriores também indica a necessidade de valorizar o saber ancestral: “os anciãos são as nossa faculdade”.

Na parte da tarde Alda, do CIMI, moderou um debate sobre violência contra as mulheres e as desigualdades entre homens e mulheres, partindo de uma canção cantada por todas:

Do tronco da vida, mesmo ferida, nasce uma flor, rindo da dor”.

Nos debates as mulheres puderam perceber como se inserem num processo histórico da sociedade que reproduz a desigualdade dentro de casa, com todas as tarefas domésticas sob as costas das mulheres, jovens ou adultas. Ainda que haja concordância de que todos os seres humanos são iguais, as mães, dentro de casa, acabam criando os meninos de uma forma e as meninas de outra, se colocando a serviço dos maridos e dos filhos homens, com baixa auto-estima, recebendo difamação dos companheiros e até mesmo violência verbal ou física. Esse debate é importante tanto para homens, quanto para mulheres para que esse tipo de ciclo seja quebrado e a consciência possa ser construída para uma sociedade com equidade e justiça, dentro e fora das aldeias.

Durante o encontro houve também um debate, na parte da manhã, sobre a saúde da mulher, com a apresentação dos sintomas e prevenção do HPV, câncer de mama e de útero, assessorado pela equipe médica local/SESAI. E ao final um cântico Toré encerrou o encontro dos vários povos presentes.

encontro mulheres ha ha hae - tore

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Haroldo Heleno.

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