Conversão ou morte social, pela cruz e pela bala

Por Leo Moreira Sá, especial para os ‪#‎JornalistasLivres‬

Depois da bizarra propaganda pela intervenção militar que se assistiu dentro do ato pelo impeachment do dia 15/03, a artilharia pesada da bancada da bala (políticos ex-policiais e militares), aliada aos fundamentalistas religiosos, volta a mirar as populações socialmente vulneráveis.

Pessoas LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) sempre foram os alvos prioritários dessa turma, mas, desta vez, é a comunidade Trans que está mais fortemente na linha de tiro, depois que apenas alguns poucos direitos foram conquistados a duras penas.

O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) acaba de protocolar um projeto contra a resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos LGBT, publicada no Diário Oficial em 12/03/15, que oficializa o uso do nome social em instituições de ensino público e particular, para travestis e transexuais.

Segundo inFeliciano, seu projeto visa “sustar os efeitos dessas resoluções” a fim de evitar que “pais que tenham filhos e filhas nas escolas não sejam constrangidos a assistirem seus filhos serem vilipendiados em sua educação.”

Travestis e Transexuais serem violentad@s todos os dias nas salas de aula, não só em seu direito de autodenominação, mas sofrerem discriminação e violência em consequência de discursos de ódio e ensinamentos religiosos, tudo bem…, isso é “natural” para inFeliciano.

Na irracionalidade fundamentalista, pessoas Ts merecem esse tratamento cruel porque seriam “abominações”, “viveriam em pecado”, seriam “amaldiçoadas” e precisariam ser “curadas” e “exorcizadas”. Portanto, não mereceriam a convivência em sociedade e talvez nem mereceriam existir.

O resultado da vivência dessa rotina de ódio é que muitos membros da comunidade Trans terminam abandonando as escolas e, sem educação ou qualificação profissional, são empurradas para as margens sociais.

Para se ter uma idéia da agenda de ódio que inFeliciano cultua, ele já se posicionou a favor da PEC 171/93, que pretende reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos –como se o encarceramento em massa de meninos fosse a solução para a violência. Já em 2011, o mesmo pastor inFeliciano postou no twitter que “africanos são amaldiçoados”. Depois de ser bombardeado nas redes sociais, e processado por racismo, o pastor reafirmou que “paira sobre os africanos uma maldição divina” que deve ser curada nos “caminhos do Senhor”. Loucura!

Jair Bolsonaro (PP-RJ) também apresentou o Projeto de Decreto Legislativo 18/15, que visa derrubar não só a decisão do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT sobre nome social em instituições de ensino, mas também a do ano passado, que inclui “orientação sexual”, “identidade de gênero” e “nome social” nos boletins de ocorrência policial.

Mas o ataque mais violento veio no dia 26/03, quando o deputado Eros Biondini (PTB-MG), católico carismático, apresentou um projeto de lei com a mesma matéria, só que –desta vez– com o apoio de quase 80 parlamentares, integrantes da bancada católica e evangélica, e a bancada da bala.

Outro projeto que na prática questiona os direitos recém-conquistados pelos LGBTs é o chamado Estatuto da Família, apresentado pelo deputado federal Anderson Ferreira (PR-PE), que tramita em comissão especial, e só reconhece como família a união entre homem e mulher (cisgêneros) e faz a diferenciação das pessoas por gênero, além de instituir que os estados e municípios terão de que incluir disciplinas nas escolas para ensinar os valores da família…(!!?!!?)

A Câmara dos Deputados no dia 11/03 lançou uma enquete perguntando se a pessoa é a favor ou contra o conceito de família como núcleo formado exclusivamente “a partir da união entre homem e mulher”.

Até o momento –infelizmente– o sim está ganhando. Como se LGBTs não pudessem amar e criar com esmero uma criança. Aliás, ainda é tempo de votar. Basta entrar no link a seguir: http://www2.camara.leg.br/…/101CE64E-8EC3-436C-BB4A-457EBC9…

O “Estatuto da Família”, se for aprovado, também anularia o recente acórdão do STF que garantiu o direito à adoção conjunta do casal Toni Reis e David Harrad, fundadores do Grupo Dignidade, e que denominou casais homoafetivos como família, criando jurisprudência que será válida para todos os casais homoafetivos do país que busquem adotar filhos.

Outro propagador de discursos de ódio é o pastor MALafaia, que adora passar as tardes de sábado promovendo tuitaços com seus fiéis contra pessoas LGBTs.

O BuzzFeed Brasil fez um levantamento no twitter do pastor entre 3 de março a 3 de setembro de 2014 e constatou que a cada dois tuítes de MALafaia sobre Deus, há um sobre gays.
http://www.buzzfeed.com/…/tuites-sobre-gays-do-silas-malafa….

Recentemente, MALafaia reagiu ao beijo lésbico das atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela “Babilônia”, com uma enxurrada de declarações lesbofóbicas e moralistas:

“A Rede Globo tem contribuído para a destruição de valores morais fundamentais para o bem-estar da sociedade, isso é uma afronta a família, uma afronta às crianças e aos adolescentes”, disse ele.

Com quase 1 milhão de seguidores no twiter e mais de 3 milhões de curtidas em sua página no Faceboock, além de milhões de telespectadores de seu programa na Bandeirantes, “Vitória em Cristo”, o pastor tem conseguido mobilizar um boicote à novela que tem caído de audiência.

InFeliciano também se uniu ao ataque, propondo boicote à patrocinadora da novela, a empresa de cosméticos Natura.

Por fim, a Frente Parlamentar Evangélica, presidida pelo tucano João Campos, divulgou uma nota de repúdio contra a novela, convocando os fiéis ao boicote.

Fundamentalistas religiosos, políticos ex-policiais e militares ligados à indústria armamentista, ruralistas e aqueles que já foram acusados publicamente de “achacadores” em geral estão dominando o Congresso, que já provou ser o mais conservador desde 1964.

Eles aproveitam a onda para atacar direitos conquistados e aprovar leis fascistas.

Precisamos reagir.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.