Por Lauro Veiga Filho
Do Valor
A perda da cobertura natural vem influenciando o delicado equilíbrio ambiental na região, com reflexos sobre o clima no restante do país, aponta o renomado biólogo americano Philip Fearnside, pesquisador e coordenador de pesquisas em ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “Entre outros serviços, a floresta recicla água, o que é crítico para as chuvas em São Paulo, inclusive; armazena carbono, evitando o agravamento do aquecimento global; e mantém a biodiversidade, que tem muitas utilidades econômicas, além de valores não econômicos”, anota Fearnside.
Agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007, juntamente com a equipe do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Fearnside afirma que “a economia da região está quase toda baseada na destruição da floresta”, menosprezando o fato de que o valor dos serviços prestados pela mata ao homem é muitas vezes maior do que “o retorno da destruição”. Ele aponta o agronegócio como um dos principais “motores do desmatamento”, que tem apresentado índices decrescentes num período mais recente, mas ainda avança principalmente sobre regiões no entorno da “área indígena Parakanã, ao lado de Tucuruí, e das barragens do Rio Madeira e de Belo Monte, na rodovia BR-163, na Terra do Meio, no Sul do Amazonas e em Roraima”, diz ele.
Francisco Oliveira diz que o avanço dos sistemas de monitoramento por satélite, com o desenvolvimento do projeto TerraClass, executado em parceria pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio de seu Centro Regional da Amazônia (CRA), Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Informática Agropecuária, tem assegurado uma leitura mais precisa da dinâmica do uso do solo na região, permitindo classificar as áreas desmatadas em categorias diversas, de acordo com o tipo de exploração ou ocorrência de vegetação.
O mapeamento, realizado em 2008 e 2010 e com sua terceira edição já em fase de auditoria dos dados, apurados ao longo de 2012, toma como base áreas desflorestadas já mapeadas pelo projeto Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), e xpermitiu determinar, entre outras informações, que a agricultura anual ocupa uma área equivalente a 5% da região, concentrada em Mato Grosso. O trabalho mostra ainda a participação relevante da atividade pecuária no processo de destruição da floresta ao indicar que 66% das matas derrubadas foram substituídas por pastagens, “muitas vezes somente para a consolidação de grilagem de terras”, observa Oliveira.
A comparação entre os dados coletados nos dois primeiros levantamentos, que trouxeram uma radiografia mais detalhada das áreas em processo de desmatamento, indica tendências que, de acordo com Oliveira, ainda vêm se mantendo e devem a ser confirmadas pelo mapeamento realizado em 2012. Entre 2008 e 2010, o TerraClass mostrou que uma fatia de 6,811 mil km2 de pastagens degradadas na Amazônia Legal havia sido convertida para a exploração agrícola, dado o estímulo representado pela alta dos preços dos grãos no período, enquanto a área reservada ao plantio de culturas anuais avançou de 31 mil km2 para 39,977 mil km2. No total, as áreas com vegetação secundária avançaram de 136 mil km2 para 165,3 mil km2, dos quais 15,990 mil km2 haviam sido desmatados para a implantação de pastagens.
Os dados do Prodes mostram uma queda nas taxas de derrubada da floresta, saindo de 27,772 mil km2 em 2004, recorde na série levantada pelo MMA, para 4,571 mil km2 em 2012, numa queda de 83,5%. Mas o ritmo se intensificou em 2013, atingindo 5,891 mil km2, num avanço de 28,9%. Os primeiros números de 2014, coletados até julho deste ano pelo Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), que ajuda a orientar a fiscalização, mas não tem a mesma precisão do Prodes, sugerem uma “estabilidade” na velocidade de derrubada da floresta. A expectativa de Oliveira é de que o desmatamento mantenha-se em torno de 5,9 mil km2.