BA – Quilombolas prometem paralisar atividades das empresas de celulose caso reivindicações não sejam atendidas

Fotos: Franedir Gois
Foto: Franedir Gois

O Povo News

Mais de uma centena de moradores das comunidades quilombolas do Extremo Sul da Bahia, entre elas Rio do Sul, Volta Miúda, São Sebastião, Juerana e Espora Gato, participaram na manhã desta segunda-feira, 21 de julho, de uma reunião com o representante da Fibria, já que o da Suzano, que também estava sendo aguardado, não apareceu. Essas comunidades ficam em áreas próximas às plantações de eucalipto e dizem sofrer todo tipo de desrespeito por parte das duas empresas de celulose. Durante o encontro, realizado em Volta Miúda, município de Teixeira de Freitas, os moradores apresentaram uma pauta de reivindicações e deram prazo até o dia 8 de agosto para que as exigências sejam cumpridas pela Fibria e pela Suzano.

As solicitações incluem asfaltamento da estrada de uma BR até a outra; cumprimento da distância mínima de plantio em relação às comunidades, conforme consta no Código de Direito Florestal; disponibilização de 500 hectares para o plantio de agricultura familiar; perfuração de 4 poços artesianos nas adjacências; colocação de redutores de velocidade na estrada próxima das comunidades; reflorestamento da mata ciliar para proteção das nascentes; apoio à cultura local, e disponibilização de insumos para a comunidade, entre outras reivindicações.

Caso a pauta não seja cumprida dentro do prazo, as comunidades do Extremo Sul ameaçam paralisar algumas atividades dessas empresas na região. “A matéria-prima principal, que é o eucalipto, sai da terra, e essa terra é território quilombola, reconhecido pelo Decreto 4.887, de 2003, sancionado pelo presidente Lula. Já pedimos demarcação e titulação de terra e até agora nada foi feito”, disse o líder comunitário Valdeir. “Queríamos resolver essa situação com a empresa de forma pacífica, mas a empresa não quer. Tanto que só compareceu a Fibria, a Suzano não veio”, acrescentou.

Ele também mandou um recado para as empresas de celulose, para o Legislativo e para o Executivo dos municípios onde estão essas comunidades quilombolas. “O povo está se organizando e vai ter uma grande revolução no Extremo Sul da Bahia. Não vamos aceitar mais nenhuma proposta indecente, como essas empresas têm feito a vida toda conosco. Quem está invadindo nosso habitat são eles, e não nós. Queremos respeito ao princípio da dignidade humana, ao direito à propriedade, ao direito à vida. Essas empresas só têm nos tirado esses direitos.”

Reunião adiada

A reunião com a Fibria e da Suzano já havia sido agendada para o início de julho, depois da morte, por atropelamento, de um morador da comunidade de Volta Miúda, mas os representantes não apareceram. Eles alegaram, na época, que não sabiam que haveria reunião.

Desde a morte de Lourisvandro Santos Pereira, ocorrida por volta das 23h30min do dia 24 de junho, a tensão aumentou na região. No início de julho, Paulo Sérgio Santos, de 42 anos, foi assassinado no assentamento Nelson Mandela, na comunidade de Rio do Sul, município de Nova Viçosa.  Ele era líder do assentamento.

No dia 14 de julho, dois vigilantes da Gocil Segurança, que presta serviços para empresas de celulose, foram baleados durante uma emboscada em uma área de plantio de eucalipto em Posto da Mata, distrito de Nova Viçosa. Os dois ficaram gravemente feridos.

Atropelamento

Lourisvandro Santos Pereira foi atropelado e morto por uma carreta, por volta das 23h30min do dia 24 de junho, na comunidade de Volta Miúda. O condutor fugiu sem prestar socorro à vítima. Segundo testemunhas, a carreta tinha o logotipo da empresa JSL. Moradores acusam a Fibria de ter responsabilidade no caso, já que, segundo eles, a carreta transportava madeira, mas a Fibria nega que a carreta estivesse a serviço da empresa de celulose. Também dizem que a Polícia esteve no local, mas não sabem porque não existe inquérito policial para apurar o caso.

Um fato que revoltou os moradores da comunidade quilombola foi que os restos mortais de Lourisvandro estariam sendo comidos pelos cachorros, já que foi jogada terra em cima do corpo.

Ao site Opovonews, a Suzano afirmou que “não houve qualquer envolvimento da Suzano Papel e Celulose e/ou de seus fornecedores” nesses fatos.

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