Atingidos ocupam usina em Santa Catarina

Município de Águas do Chapecó - Imagem da Internet
Município de Águas do Chapecó – Imagem da Internet

Mais de 300 atingidos ocuparam o canteiro da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó para cobrar do consórcio responsabilidades pelas enchentes que afetaram milhares de pessoas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul no último mês.

MAB

Nesta quarta-feira (23), uma manifestação denunciou mais uma vez que a culpa das cheias não é simplesmente das chuvas. Mais de 300 atingidos pelas enchentes que assolaram Santa Catarina e Rio Grande do Sul no último mês ocupam o canteiro da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó, localizado no município de Águas de Chapecó.

Atingidos de mais de 10 municípios denunciam que grande parte dos estragos causados pela enchente é resultado do armazenamento de água no reservatório da usina, fenômeno também observado no Paraná (Usina Hidrelétrica Salto Caxias) e Rondônia (Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau) desde o início do ano.

Os manifestantes cobram a reparação dos danos causados às milhares de famílias atingidas, assim como a criação de um plano participativo de gestão das águas das barragens incidindo sobre a decisão da abertura e fechamento das comportas.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) espera uma reunião conjunta com a Secretaria Geral da Presidência da República, o Consórcio Foz do Chapecó Energia S.A., Ministério de Minas e Energia e Ministério da Pesca e Aqüicultura.

Apenas em Santa Catarina são estimados mais de 12 mil atingidos pelas enchentes do último mês. 

A culpa não é da chuva

O determinismo tem justificado há tempos as chamadas “catástrofes naturais”. Muitas vezes é difícil definir se as imagens veiculadas pelos grandes meios de comunicação são inéditas ou apenas reproduções do último grande desastre causado pela última grande chuva.

“Quem está na chuva é para se molhar” aparece freqüentemente como um mantra compartilhado por todos na grande mídia, que convergem sistematicamente na responsabilização de São Pedro por todas as tragédias advindas dos céus, tanto pelo excesso como pela falta de generosidade. Entretanto, esse discurso vem desmoronando desde o início do ano.

 Após alcançar seu maior volume histórico e atingir aproximadamente 25 mil pessoas entre os estados do Acre e Rondônia, o rio Madeira, principal afluente do rio Amazonas, esteve envolvido em uma decisão judiciária inédita.

No dia 10 de março, a Justiça Federal de Rondônia determinou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e as empresas responsáveis pelos consórcios das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, ambas localizadas no rio Madeira, refaçam os estudos e o relatório de impacto ambiental (EIA – RIMA) das obras.

O juiz Herculano Martins Nacif tomou a decisão de obrigar a realização de novos estudos para confirmar possíveis envolvimentos da elevação das águas nos reservatórios das hidrelétricas com as inundações vividas pela população.

Desde o início do ciclo de chuvas na região, o MAB denunciou que a acumulação nos reservatórios e o aumento da vazão dos vertedouros das usinas Santo Antônio e Jirau potencializaram os alagamentos naturais do período, afetando áreas que antes não sofriam alagamento com as cheias do rio. Na época, atingidos saíram às ruas com faixas e cartazes: “Não é só culpa da chuva! Barragem a culpa também é sua!”.

Simultaneamente, a população atingida pela Usina Hidrelétrica Belo Monte, em fase de construção no Pará, também sofreu com a “chuva”. Mais de 200 famílias perderam suas casas em decorrência da enchente do rio Xingu, e tiveram que se alojar em estábulos na cidade de Altamira.

Menos de três meses depois, o “dilúvio” chegou também ao sul do país. Enchentes atingiram milhares municípios, deixando milhares de pessoas desabrigadas. Levantamentos preliminares apontam 09 mil atingidos espalhados em 70 municípios do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina são aproximadamente 12 mil pessoas, moradoras de 40 municípios afetados. E no Paraná, são 42 mil famílias atingidas e talvez o caso mais emblemático dos verdadeiros culpados pelas enchentes.

A (ir)responsabilidade da COPEL

A Usina Hidrelétrica Salto Caxias, construída sobre o rio Iguaçu, decidiu abrir todas as 14 comportas de uma vez no dia 08 de junho, devido o aumento do nível do Rio Iguaçu, alagando áreas dos municípios da região do Baixo Iguaçu. Na ocasião, a assessoria de imprensa da usina, controlada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), declarou que “não houve tempo de avisar as famílias”.

Após diversas mobilizações, o levantamento realizado pela Defesa Civil e Copel mostrou que a abertura das comportas atingiu 315 famílias, dos municípios de Capitão Leônidas Marques, Capanema, Nova Prata do Iguaçu e Realeza. Das 315, 57 famílias tiveram suas casas arrastadas ou destruídas.

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