CE – Sem Teto: Movimento desocupa terreno, mas conquista promessa de construção de moradias

ocupação fortalezaNatasha Pitts, Adital

A ocupação realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em um grande terreno desabitado em Fortaleza, Estado do Ceará, no último dia 05 de julho, rendeu aos representantes da entidade uma reunião com a Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), a Secretaria de Cidades do Estado e representantes do Ministério das Cidades. No encontro, que aconteceu na manhã desta terça-feira, 15, ficou acordada a criação de um grupo de trabalho entre governo e movimento, além da construção de moradias para as famílias ocupantes.

Conforme explicou em entrevista à Adital, Dóris Soares, coordenador nacional do MTST, além desse ponto, outros foram debatidos e devem ser respeitados por todas as partes. “Nós concordamos em sair da área e pedimos um prazo até a próxima segunda-feira, 21, para realizar a desocupação. Isso leva um pouco de tempo, pois algumas famílias já estavam instaladas, morando. O terceiro ponto acordado foi com relação às famílias que não têm para onde ir. Muitas vão ficar na rua se saírem daqui. Diante disso, ficou garantido que serão mapeadas casas já construídas para assegurar que as famílias saiam da ocupação e tenham um teto”, explicou.

No momento, o MTST está realizando o cadastramento das famílias que estão em situação mais precária e vai passar a informação nesta quinta-feira, 17, em nova reunião com a Habitafor e a Secretaria das Cidades. O encontro também servirá para manter as negociações em aberto e reforçar o que foi definido na reunião de segunda-feira.

Outra garantia dada às famílias e ao movimento foi de que não haverá intervenção policial durante a desocupação. “A partir do momento em que houver coação ou violência, nós voltamos para a rua; esse é nosso jeito de protestar. Não aceitamos coação, nem descumprimento dos acordos. Existe dinheiro para a construção das casas e o dinheiro está voltando para o governo federal porque não são apresentados projetos. A única coisa que queremos é a construção das casas no Programa Minha Casa Minha Vida, na faixa I, Entidades, para famílias com renda entre zero e três salários mínimos”, esclarece Dóris.

No último dia 05 deste mês, 400 famílias ocuparam um terreno desabitado entre a BR-116 e a CE-040. Após uma semana, já havia 2 mil famílias no local, que reivindicavam a construção de unidades habitacionais por meio do programa do governo federal.

Na manhã de sexta-feira, 10, os integrantes do movimento e as famílias realizaram uma grande manifestação, que fechou a BR-116. Após o ato, o MTST foi chamado pela Habitafor para uma reunião. Da mesma forma, o governo federal também mostrou disposição para negociar. Apenas o poder público estadual indicou postura contrária ao diálogo. O secretário das Cidades, Carlo Ferrentini, ameaçou realizar a desocupação do terreno.

Como reação à atitude do secretário e com vistas a VI Cúpula de Chefes de Estado e Governo do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que acontece até esta quarta-feira, 16, em Fortaleza e Brasília, o Movimento dos Trabalhadores sem Teto novamente saiu às ruas e logo no primeiro dia de encontro, 14 de julho, aproveitou a oportunidade para chamar a atenção.

A ocupação, batizada de Copa do Povo, foi realizada em um terreno de propriedade do governo estadual, no bairro Paupina, que há anos estava desocupado e não cumpria sua função social. Assim como as 2 mil famílias ocupantes, outras milhares vivem o drama de não terem onde morar ou de serem obrigadas a viver em habitações precárias. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que, em Fortaleza, o déficit habitacional na capital e região metropolitana seja de 250 mil famílias sem moradia, número que pode ter crescido após os despejos realizados para viabilizar as obras da Copa do Mundo.

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