Pepe Mujica: “Aos que gostam de dinheiro, fiquem bem longe da política”

Foto: WikiCommons
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Um dos chefes de Estado mais admirados ao redor do mundo nos últimos anos, Pepe Mujica completa 79 anos hoje (20)

Por Vinicius Gomes, Fórum

Ele vive em uma pequena fazenda na região de Rincón del Cerro, uma área rural nas redondezas da capital de seu país. A proprietária da fazenda na verdade é sua esposa. Seu nome é José, mas é chamado por todos de “Pepe”. Possui um salário que chega a mais ou menos 28 mil reais. Guarda para si menos de 10% desse valor e o resto doa para pequenas empresas e ONGs ligadas a projetos de habitação. Além de sua casa no pequeno sítio, seus únicos patrimônios são um Corsa, dois tratores e um Fusca de estimação de 1978 avaliado em pouco mais de mil dólares. Tem também uma outra companheira: uma cadela de três patas chamada Manuela.

“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo porque para viver não preciso muito mais do que tenho… Minha maneira de viver é consequência da evolução da minha vida. Lutei até onde é possível pela igualdade e equidade dos homens” – diz ele. “Se tivesse muitas coisas, acabaria por ocupar-me delas. A verdadeira liberdade está em consumir pouco.”

De liberdade – e, principalmente, da falta dela – Pepe entende bem: décadas atrás lutou contra a ditadura militar no Uruguai, e por isso passou 14 anos como preso político. Perdeu sua liberdade individual lutando pela do seu país. Diz que nessa época conversava com rãs e formigas para tentar não enlouquecer e que por muitas noites, tudo o que mais desejava era um colchão. Talvez por isso tenha dito há pouco tempo que “o mundo está prisioneiro hoje da cultura da sociedade de consumo e o que está se consumindo é vida humana, em quantidades enormes”, pois se perdeu a capacidade de desfrutar o tempo e a ideia de que “estar vivo é um milagre”.

Hoje, ele é diferente, claro. Não mudou, mas não é o mesmo. Tem ideias muito distantes do marxismo que defendia nos tempos de juventude, no entanto, salienta: “Continuo sendo socialista porque sou inimigo da exploração do homem pelo homem”.

Culto e inteligente, ainda bem. Pois esses dois adjetivos só funcionam bem se andarem lado a lado, especialmente em sua linha de trabalho. “A política não é um passatempo, não é uma profissão para se viver dela – é uma paixão com o sonho de tentar construir um futuro social melhor; aos que gostam do dinheiro: fiquem bem longe de política”, sentencia o velho Pepe.

Esse homem que prega não a “valorização da pobreza”, mas sim a “sobriedade do viver”, é um chefe de Estado: o presidente do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano. Ele completa hoje 79 anos, é admirado internacionalmente e, restando dez meses de deixar a presidência do Uruguai, a sensação é de já estar deixando saudades quando deixar o cargo e se dedicar a – segundo ele – plantar tomates, acelgas e ensinar jovens de famílias com poucos recursos o amor pela terra, pois afinal, “o poder não muda as pessoas, apenas revela o que elas verdadeiramente são”.

Em tempo, ele utiliza um iPad para ler as notícias de manhã. Parece que às vezes o jornal não chega até sua vizinhança.

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