Exposição de fotos traz retrospectiva de mais de 30 anos de lutas pelos direitos indígenas

Índios de diversas etnias fazem vigília no Congresso Nacional para garantir seus direitos na Constituinte (Beto Ricardo-ISA)
Índios de diversas etnias fazem vigília no Congresso Nacional para garantir seus direitos na Constituinte (Beto Ricardo-ISA)

Mostra estreia em São Paulo nesta segunda-feira (31/3) e reúne 43 fotos de momentos e personagens históricos, apresentadas em ordem cronológica, clicadas por 33 fotógrafos, com mapas e textos de apoio, em português e inglês

ISA

Começa oficialmente na próxima segunda, 31/03, na Arena de Eventos do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, a exposição Povos Indígenas no Brasil 1980/2013 – Retrospectiva em Imagens da Luta dos Povos Indígenas no Brasil por seus Direitos Coletivos. A mostra comemora os 30 anos do Apoio Norueguês aos Povos Indígenas no Brasil, os 25 anos da Constituição e os 20 anos do ISA. O projeto é uma realização da Embaixada da Noruega no Brasil e do ISA.

A exposição, que estreou em novembro do ano passado em Brasília, no Museu da República, contou com a presença de lideranças indígenas históricas como Marcos Terena, Ailton Krenak, o cacique kayapó Raoni Metuktire, Almir Suruí Paiter e Davi Yanomami. 

Em São Paulo, a abertura acontecerá às 19h30, no Museu Afro Brasil, também no Parque do Ibirapuera, próximo ao local da exposição e contará com a participação da ministra conselheira Sissel Hodne Steen, da Embaixada da Noruega no Brasil, de Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental (ISA) e curador da exposição e do representante) da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Em seguida haverá a exibição do vídeo sobre os 30 anos do apoio norueguês aos povos indígenas no Brasil, uma apresentação dos índios kuikuro do Parque Indígena do Xingu, e um coquetel.

A mostra é composta por 43 fotos, apresentadas em ordem cronológica, clicadas por 33 fotógrafos, com mapas e textos de apoio, em português e inglês. São 18 totens de 2,39 x 2 m, com imagens de ambos os lados, e a iluminação noturna das peças será feita por coletores solares, no topo dos totens.

Momentos e personagens históricos

A maior parte das imagens foi publicada originalmente na imprensa ou nos volumes da série Povos Indígenas no Brasil, elaborada, inicialmente, pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) e, a partir de 1994, pelo ISA, com apoio do governo norueguês.

A exposição traz momentos e personagens históricos, retratados em um período de 33 anos no qual os povos indígenas saíram da invisibilidade para entrar de vez no imaginário e na agenda do Brasil contemporâneo. O marco desse processo foi o capítulo dos direitos indígenas da Constituição. Entre outros temas, as imagens retratam a participação indígena na Constituinte (1986-1988); a batalha pelo reconhecimento das Terras Indígenas; a resistência às invasões de garimpeiros e madeireiros; o apoio de músicos como Sting e Milton Nascimento; a apropriação das tecnologias do homem branco; as ameaças aos últimos povos “isolados”; as mobilizações recentes pela garantia de seus direitos.“Pretende-se que essas imagens sirvam de referência para as narrativas dos seus protagonistas, assim como para o aprendizado das novas gerações”, explica Beto Ricardo.

Em 1983, a Noruega criou uma linha específica de cooperação internacional para apoio aos povos indígenas e o Brasil foi o primeiro país a receber seus recursos. A Embaixada da Noruega apoia atualmente 12 associações indígenas e organizações indigenistas. A base da iniciativa é a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um dos principais mecanismos internacionais de proteção aos direitos indígenas. A Noruega foi o primeiro país a ratificá-la, em 1990. O Brasil fez o mesmo em 2002.

“A Noruega vem firmando parcerias de longa duração com várias associações indígenas e organizações não governamentais indigenistas no Brasil por meio de seu Apoio aos Povos Indígenas. O foco tem sido o apoio institucional”, informa a ministra conselheira Sissel Hodne Steen.

“Extintos”
A exposição trata de um período histórico recente (1980-2013) marcado pelo protagonismo político dos povos indígenas, depois de terem sido considerados extintos. Essa visão está presente no curioso relato do antropólogo Claude Lévi-Strauss, registrado em seu livro “Tristes Trópicos”, que serve de epígrafe à exposição. Em 1934, pouco antes de viajar ao Brasil, ele questionou o embaixador brasileiro na França sobre como encontrar comunidades indígenas. “Índios? Infelizmente, prezado cavalheiro, lá se vão anos que eles desapareceram”, respondeu o diplomata.

O antropólogo Darcy Ribeiro registrou o decréscimo geral da população indígena e o desaparecimento de mais de 80 etnias, entre 1900 e 1950. Algumas fontes estimam que, em 1500, havia entre dois milhões e seis milhões de índios no que seria mais tarde o território brasileiro.

A trajetória de resistência retratada na exposição, no entanto, coincidiu com a recuperação do crescimento demográfico dessas comunidades, registrada a partir dos anos 1980. Hoje, existem no Brasil 240 povos indígenas, que falam 154 línguas e somam uma população de mais de 896 mil pessoas (IBGE 2010). O número de índios continua crescendo, assim como o de etnias, embora alguns povos estejam ameaçados de extinção. Metade das etnias tem uma população de até mil pessoas; 49 têm parte de sua população habitando países vizinhos; há 60 registros de povos “isolados”.

A exposição estará aberta ao público, com entrada franca, de 1º a 22 de abril e contará com visitas destinadas a escolas, que poderão ser agendadas pelo e-mail [email protected]. As visitas agendadas têm duração de 60 minutos e devem ocorrer das 8h30hs às 18h30, de segunda a sábado.

Serviço

O que: Exposição Povos Indígenas no Brasil
Quando: de 1º a 22 de abril de 2014
Das 5h às 24h (o parque abre às 5h e fecha às 24h), de segunda a domingo.
Onde: Arena de Eventos, Parque do Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral s/n
São Paulo – SP
Entrada franca

Comments (2)

  1. Obrigada, Francisco José. Contamos com pessoas como você para ajudar a divulgá-lo.

  2. Devo dizer que o racismo ambiental é produto do preconceito e da ignorância em relação aos outros povos,etnias e grupos indígenas do Brasil e da América.
    Resultado do etnocentrismo cultural,que aprisiona o homem dentro de uma armadura criado por seu meio e que o torna cego diante das diferenças,culturas e particularidades dos seus semelhantes.Que o transforma em partidário de uma visão evolucionista falsa,que induz superioridade de um povo,de uma etnia em relação às demais.Enfim – que o transforma em um pária de Deus,cego e indiferente ao sofrimento e aos problemas de sobrevivência da Humanidade como um todo.
    Parabéns pelo site!Divulguem no para que possa se transformar em uma ferramenta de resgate dos homens perdidos na ignorância de seus dias!

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