O destino chocante de vítimas do tráfico humano na Europa Oriental

Em seu livro, Stella clicou mulheres de costas, presas em seus mundos, com efeitos colaterais graves no psicológico, devido a toda a tortura que passaram (Foto: International Organisation for Migration)
Em seu livro, Stella clicou mulheres de costas, presas em seus mundos, com efeitos colaterais graves no psicológico, devido a toda a tortura que passaram (Foto: International Organisation for Migration)

Elas não foram apenas vendidas. Mas também espancadas, estupradas, torturadas e passaram fome. É assim o destino de 25 mil moldavos todos os anos. Em novo livro, britânica mostra o resultado do que viu e ouviu em sua pesquisa

Igor Zahir, Glamour

Na Moldávia o tráfico humano é um problema grave, com cerca de 25 mil pessoas “vendidas” no exterior a cada ano, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística do país. Os homens são levados para trabalhos escravos em fazendas, enquanto as mulheres são mandadas para casas de prostituição de lugares como Turquia, Rússia, Chipre e Emirados Árabes. O pior: os números apontam que 10% das vítimas são crianças na faixa etária de 12 anos.

Victoria é uma delas. “Um amigo de infância me disse que trabalhava em uma boutique em Dubai e poderia me conseguir um emprego. Me colocou em contato com um cara que organizou minha viagem para Odessa (na Ucrânia) e de Kiev para Dubai. Em Dubai, fui recebida por uma mulher de língua russa, Oxana, que me levou para um apartamento com outras seis meninas da Europa Oriental. Oxana revelou que eu tinha sido vendida e tomou meu passaporte. Recusei-me a ver os clientes e, como resultado, cortaram minha comida. Meus gritos e apelos de desespero por causa da fome foram respondidos com socos e chutes”, disse a garota em depoimento para o livro Bessarabian Nights, de Stela Brinzeanu.

Victoria é uma das 25 mil vítimas do crime na Moldávia (Foto: International Organisation for Migration)
Victoria é uma das 25 mil vítimas do crime na Moldávia (Foto: International Organisation for Migration)

A britânica pesquisou essa e outras histórias das vítimas de tráfico humano e, surpreendentemente, muitas mulheres nem consideram que suas histórias sejam incomuns. Elas se adaptaram com o mal que tomou conta da Moldávia. É o caso de Irina, que quando achou que fosse ficar em paz após o pai violento ser preso, veio o pior. “Depois que minha mãe morreu de câncer e meu pai foi para a cadeia por me estuprar, fiquei sozinha e grávida. Minha madrinha ofereceu-me ajuda para abortar e disse que ia dar um jeito de me mandar para a Turquia.

Segundo ela, ‘as condições lá eram melhores e iam cuidar bem de mim’. No aeroporto de Istambul, fui recebida por dois homens, que me levaram a uma propriedade onde havia três outras garotas, moldavas e ucranianas. Fui obrigada a conhecer caras velhos e até tentei evitar, dizendo que estava grávida. Eles não se comoveram: me estupraram na sala ao lado, segurando-me pela barriga de grávida.”

Para essas garotas, o desemprego, violência doméstica e alcoolismo só agravam ainda mais o problema e tornam-nas mais vulneráveis ao tráfico humano. O impacto da tortura, então, faz com que elas acabem cedendo, como disse Victoria no livro: “Trancada e vigiada, não havia saída para mim. Após passar fome e ser estuprada sempre que me recusava a servir os clientes, que outra alternativa eu tinha? Fui obrigada a trabalhar nas ruas e boates todos os dias, às vezes saindo com 12 homens ou mais por dia”. O mais triste nessa história toda é que o problema na Moldávia só tende a piorar, já que a pobreza e o desemprego parecem desenfreados. Em seu livro, Stela Brinzeanu alerta sobre o problema: “Alternativas como oportunidade de emprego precisam estar disponíveis no país. Caso contrário, homens, mulheres e crianças continuarão sendo traficados para o exterior. A ignorância, tanto quanto o desespero, é o que os envia ao exterior”.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

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