ES – Obra da Jurong avança a passos largos deixando rastro de destruição

Foto: EJA
Foto: EJA

O alerta é do técnico ambiental da Fase, Paulo Henrique Oliveira, um dos organizadores do III Pedal, que denunciou os impactos ambientais da obra

Any Cometti, Século Diário

Não é novidade que o Estaleiro Jurong de Aracruz (EJA) provoca, desde o início de sua instalação, no ano de 2012, uma intensa degradação ambiental e social na região da Barra do Riacho, em Aracruz, no norte do Estado. A situação foi confirmada, no final do mês de janeiro, pelos cicloativistas que pedalaram desde vitória até o distrito de Regência, em Linhares, nas atividades do III Pedal contra o Pré-sal no Espírito Santo.

Segundo Paulo Henrique Oliveira, técnico ambiental da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) no Espírito Santo e um dos organizadores do Pedal, o trabalho na construção do EJA, que já toma as formas de um enorme estaleiro, está muito adiantado. “Essa aceleração representa uma questão séria de precarização do trabalho. Pode-se ver nitidamente pelas movimentações dos trabalhadores, que fizeram uma greve no período em que passamos por lá. Por serem trabalhadores temporários, dificilmente se articulam e, se isso aconteceu, é porque a situação está realmente ruim”, relatou.

Paulo Henrique também descreveu o local por onde o pedal passou. Segundo ele, as obras de terraplanagem estão avançadas, há aterro de riachos, perda visível da biodiversidade terrestre e marinha, além de muito trabalho de máquinas grandes, produzindo muita poeira. Em Barra do Riacho, descreveu, é possível notar o medo expresso dos moradores mais antigos devido à ocupação desordenada que levou a região pacata ao aumento da criminalidade e do êxodo, dentre vários outros problemas estruturais e sociais. “Há toda uma pressão do governo para que esse estaleiro saia do papel”, considera.

Os cicloativistas que participaram do Pedal também mapearam vazamentos de petróleo próximos à comunidade Cabloco Bernardo, que já vem sofrendo inúmeras dificuldades decorrentes da exploração de petróleo no local. Há, até mesmo, ameaças direitas da empresa União Engenharia, Fabricação e Montagem, conforme registrado na ata da 557ª Reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, realizada em outubro, em Vitória. O Pedal obteve êxito, como indicam os organizadores. Os cicloativistas já planejam dar prosseguimento ao protesto na região metropolitana Grande Vitória, para garantir o mapeamento contínuo e o acompanhamento local, e também em expandi-lo com pedaladas ao sul do Estado.

Transtornos

O EJA é um empreendimento da Jurong do Brasil, empresa que recebeu apoio dos órgãos públicos para garantir sua participação no processo de licitação de empresas construtoras de sondas e navios de perfuração para a Petrobras. A Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema) denunciou, em 2010, que o estaleiro não realizou Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para o licenciamento do empreendimento, como determina a lei.

O acordo para a implantação do estaleiro Jurong em Aracruz foi firmado em 2008 entre a Jurong do Brasil e o governo do Estado. A instalação é composta de plataformas de petróleo, de sondas e de reparo naval e atividades de intenso impacto ambiental, que podem provocar colapsos na biodiversidade local, uma vez que parte do terreno onde o estaleiro é instalado é Área de Preservação Permanente (APP) e próximo ao terminal da Portocel, que pertence à Aracruz Celulose (Fibria), e já gera inúmeros impactos à pesca local.

Apesar dos danos que serão levados ao local pela empresa, a prefeitura do município fez a doação da área onde será instalado o estaleiro, que tem 825 mil m² e foi estimada em R$ 25 milhões. A doação aponta para a criação de uma lei municipal, que entrou em vigor simultaneamente aos interesses da construção do estaleiro, em 2009. Como tentativa de legitimar a doação de área pública ao empreendimento, o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) já havia decretado o estaleiro como de utilidade pública.

Desde 2010, a região recebe trabalhadores de diversas partes do País, atraídos pelas falsas promessas de emprego oferecidas pela Jurong e pela Petrobras na região. Os que não foram contratados pela Petrobras ficaram, como uma população flutuante, aguardando os serviços da Jurong. Enquanto isso, após a fase de obras, esses trabalhadores não são absorvidos, o que gera um grande problema social.

Desde janeiro de 2012, quando o empreendimento se instalou na localidade da Barra do Riacho, em Aracruz, os pescadores locais estão impedidos de realizar suas atividades. Os pescadores querem que a verba arrecadada com a venda do calcário que será extraído nas escavações do estaleiro seja integralmente revertida à comunidade pesqueira. Segundo Vicente Buteri, presidente da Associação de Pescadores, a própria Jurong estimou o valor da rocha em R$ 350 mil, verba que seria obtida pela associação e dividida entre os pescadores prejudicados pelo empreendimento. As famílias da região perderam toda a sua área de pesca com a instalação do estaleiro. A área, que antes tinha uma rica biodiversidade e ampla disponibilidade de lagostas, camarões e diversos outros animais marinhos, hoje se encontra completamente devastada.

No final de janeiro, o Ministério Público Estadual (MPES) e o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) enviaram três equipes de trabalho para avaliar a avaliar a rocha de calcário da região onde está sendo construído o EJA.

A Jurong também recorreu da decisão da Justiça que determina que a empresa de Cingapura indenize, no valor de um salário mínimo (R$ 724), as 200 famílias prejudicadas pelos impactos da instalação do estaleiro. Enquanto o recurso não é julgado, afirma Butteri, a Jurong está depositando o valor total das indenizações em uma conta da Justiça Federal.

O valor dessa indenização, segundo Buteri, é claramente insuficiente para indenizar os pescadores por tamanha perda. Além do pagamento que começou a partir da decisão judicial, em janeiro de 2014, os ribeirinhos querem indenização por todo o período de instalação do empreendimento, ou seja, querem que a decisão judicial seja revista e passe a ser retroativa, indenizando-os, também, pelo período em que foram impedidos de pescar, desde a implantação do EJA no local, em 2010.

Comments (3)

  1. Concordo plenamente com o Sr. Marcos! é incrível o poder de parecer técnico empírico dos revoltados! Eu depois de tanto estudo, não tenho a capacidade de descrever o que está escrito! Como falar de perca de diversidade marinha sem ler os Rt técnicos?! É NOTÓRIO o impacto visual do empreendimento, no entanto, estes possuem regularidades, e são fiscalizados pelos técnicos competentes do IEMA. Sem dar méritos a politicagem, acredito que os envolvidos fazem SIM um bom trabalho, mitigando o máximo possível dos impactos. Para quem não sabe, as condicionantes ambientais executadas pelo EJA, são de grande importância para a vida marinha da costa das Algas, a citar pelo projeto incumbido ao EJA de construir o sistema de tratamento de esgoto da Barra do Riacho! Até o presente momento meus amigos, o SAAE, responsável pelo esgotamento sanitário do município deliberava todo efluentes domésticos no mar,IN NATURA!!!! ou seja, o esgoto da Barra do Riacho vai parar no mar sem tratamentos adequados! Por fim, acredito sim em formas de sustentabilidade, acredito no IEMA bem como acredito na maioria dos envolvidos em meio ambiente! Bom fica minha opinião sobre o texto publicado.

  2. Meu nome é Marcos Pratti e sou filho adotivo de João Neiva essa terra querida que me adotou e que amo.
    Queridos Amigos do Capitão planeta, vamos as considerações, a obra do estaleiro só foi liberado após interminável briga entre o estado e os órgãos ambientais que creio assim o fizeram dentro da legalidade, as pessoas que hoje estão com medo sãs as mesmas que outrora ficaram com medo nas diversas vezes que a atual fibria (antiga Aracruz celulose ) passou por modernizações e construção de nova plantas, esse filme eles já viram e sobreviveram.
    Uma pergunta pra vocês, por que o MPES e o IEMA só se manifestaram agora depois da obra já em curso?
    Não foi feito um levantamento de impacto antes da liberação?

  3. MALDITOS!!! ESTOU REVOLTADO!!! AQUELE ERA UM LOCAL LINDO CRIADO PELA NATUREZA, RICO EM VIDA E AGORA, POR CAUSA DE UM PROGRAMA FANTASMA DE EXPLORAÇAO DE PETROLEO FAJUTO, TEMOS TUDO DESTRUIDO SEM DÓ NEM PIEDADE!!!
    E MUITO REVOLTANTE!!!! ISSO E RIDICULO!!!!

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