Parlamentares conhecem potencialidades e descaso do Governo nas regiões da TI Raposa Serra do Sol

TI serra do solAssessoria de Comunicação/CIR

Em continuidade com a agenda junto os povos indígenas de Roraima, no dia 7, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Indígena acompanhada pela Coordenação Geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR) seguiu para Terra Indígena Raposa Serra do Sol em visita as regiões do Surumu e Serras.

Na região do Surumu, na comunidade indígena Barro os parlamentares visitaram o Centro Indígena de Formação Cultural Raposa Serra do Sol (CIFRSS), onde foram recepcionados pelas lideranças, jovens, mulheres, professores e demais membros das comunidades indígenas da região.

Na visita ao Centro Indígena, um local destinado a formar jovens indígenas para atuarem em suas regiões, a partir do ensino teórico e prático, e adquiridos com base nos conhecimentos tradicionais, os parlamentares tiveram a oportunidade de conhecer os campos de experiências do Centro. Entre eles, o campo da produção de adubo orgânico, a criação de avicultura, o viveiro e o campo agroflorestal. Além disso, conheceram também as atividades desenvolvidas pelo CIFRSS em parceria com as organizações e instituições públicas, como por exemplo, a Feira de Sementes Tradicionais.

De forma coletiva, os alunos Charles Gabriel, Sidney Andre, Altair Aberlado, e Josenildo Estevão apresentaram à Comissão as funcionalidades de cada campo experimental. Diante do contexto de desenvolvimento sustentável e gestão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o estudante Charles Gabriel, da etnia macuxi, comunidade Maturuca fez a exposição do campo agroflorestal. Conforme o estudante, o sistema agroflorestal existente ha seis meses, esta localizado em uma área de 60 metros, dispondo de diversas plantas e madeiráveis, como macaxeira, milho, banana, cana, buriti, açaí, mandioca, batata e outros diversos tipos de plantas, que num período de cinco a dez anos, estarão bem desenvolvidas e a disposição das comunidades indígenas.

viveiroSidney Andre, da etnia Macuxi apresentou o setor viveiro e explicou a importância que tem para as comunidades indígenas e o próprio Centro dispor de um campo dessa natureza. O estudante explicou que o setor viveiro é um local onde concentra as plantas, mudas de sementes adquiridas no campo do Centro ou trazidas pelas comunidades indígenas, por meio do intercâmbio de sementes. Disse ainda que a experiência vem para contribuir não somente com a produção nas comunidades, mas também no reflorestamento das áreas degradas, que o caso de algumas áreas da TI Raposa Serra do Sol devido a plantação de arroz na região.

O Coordenador do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, Anselmo Dionísio Filho registrou que espera resultados positivos com a visita dos parlamentares. Segundo ele” esperamos que a vinda dos parlamentares venha fortalecer o nosso trabalho, e que também, eles possam levar ao conhecimento das demais autoridades em Brasília o trabalho que é desenvolvido no Centro, nas comunidades indígenas de Roraima e deem respaldo a essas atividades e a nossa luta”.

Visita no Maturuca – Região das Serras

Após cumprir agenda na região do Surumu, os parlamentares seguiram para região das Serras, onde também tinham um encontro na comunidade indígena Maturuca, coração da TI Raposa Serra do Sol. Além da expectativa pela chegada da Comissão, a região realizava a Feira de Produção e a Festa em comemoração a conquista da terra.

Por meio de apresentações culturais, danças e cantos tradicionais pelos jovens e crianças dos centros regionais Caraparu, Maturuca, Pedra Branca, Pedra Preta e Willimon, somando um total de 475 pessoas, a Comissão e os convidados foram recepcionados no malocão da homologação.

recepção serra dos solaDurante a solenidade de recepção, era visível a emoção das crianças, dos jovens, principalmente das lideranças indígenas que lutaram pela demarcação e homologação da TI Raposa Serra do Sol. A emoção se unia a revolta contra o Estado brasileiro, ali representado, que sempre foi omisso às questões indígenas no Brasil e a emoção de conquista sobre a terra, que no momento era festejada. Além também, do apoio de uma bancada parlamentar, constituída para defender os direitos indígenas nos poderes constituintes, visto que, existe uma bancada ruralista fortemente armada, com interesses políticos e econômicos, cujo objetivo é acabar com tais direitos indígenas.

Após a apresentação dos parlamentes e um discurso breve, a Comitiva participou do almoço coletivo no malocão da demarcação. Durante o almoço, os jovens e as crianças continuaram a dançar e cantar as belezas da mãe terra, mãe natureza e a conquista da terra.

Com uma agenda breve, a região convidou a comissão para conhecer o contexto de vida da comunidade indígena Maturuca, Centro Regional da Serras, por meio das estruturas existentes no local e o seu funcionamento. Os parlamentares visitaram as estruturas da igreja, recentemente construída pela própria comunidade, o posto de saúde, o centro regional de educação, a escola estadual, a oficina, marcenaria, o clube de mulheres indígenas e a secretaria executiva da região das Serras.

Saúde

Dois pontos críticos foram observados pelas lideranças indígenas, a saúde e educação na região. Na visita ao posto de saúde, o Presidente do Conselho Local de Saúde da região das Serras, Dionito José de Sousa fez considerações em relação ao atendimento prestado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), através do Distrito Sanitário Especial do Leste de Roraima

Dionito José de Sousa,  Presidente do Conselho Local de Saúde da região das Serras
Dionito José de Sousa, Presidente do Conselho Local de Saúde da região das Serras

O Presidente apresentou a estrutura precária do local, sem salas adequadas para atendimento de pacientes, estruturas construídas pela própria comunidade, a falta de transporte adequado para o deslocamento de pacientes, falta de medicamento e outras necessidades.

Diante das manifestações solicitou a melhoria no atendimento da saúde indígena nos 36 polo base existentes no estado de Roraima, assim como a construção de um Hospital Indígena para atender a demanda existem em todo Estado e o acesso nas estradas. Porem, considerou o avanço na saúde quanto a formação de agentes indígenas nas diversas áreas de atendimento,a valorização da medicina tradicional e o esforço dos agentes de saúde em prestar um bom atendimento aos pacientes indígenas, apesar de toda dificuldade enfrentada nas regiões.

Educação

Na área da educação, o alvo de reivindicação foi o Centro de Formação de Educação Escolar Indígena da região e a Escola Estadual José Allamano. A Diretora do Centro, a professora Rosilda da Silva, da etnia Macuxi, apresentou a Comissão e ao próprio Vice-governador, Chico Rodrigues presente na ocasião, as condições precárias da estrutura tanto no Centro quanto na Escola Estadual, fazendo refletir assim, o descaso e a falta de assistência do Estado com as escolas indígenas. De acordo com a Diretora ” ate agora o governo do estado não construiu a estrutura física, para que possamos trabalhar melhor”.

Quanto às condições de deslocamento às escolas indígenas, a professora relatou que foram entregues pelo governo duas motocicletas, para que realizassem as entregas de materiais didáticos, acompanhamento pedagógico, questões administrativas e outras atividades na região. Rosilda disse que, embora o governo tenha disponibilizado o transporte, o mesmo não presta o serviço de manutenção necessária, deixando por conta dos gestores indígenas. A Diretora manifestou dizendo” com a moto nos não conseguimos fazer nada e a manutenção é por nossa conta”.

Rosilda da Silva, da etnia Macuxi, Diretora do Centro de Formação de Educação Escolar Indígena da região
Rosilda da Silva, da etnia Macuxi, Diretora do Centro de Formação de Educação Escolar Indígena da região

Um exemplo lamentável de descaso, na comunidade Maturuca relatado pela Diretora foi o fechamento da Escola Estadual Indígena Jose Allamano, que desde a sua construção nunca houve reforma e recentemente está sendo invadida por morcegos. Rosilda durante o relato se emocionou ao dizer que ficou alérgica devido o contato com o local infectado.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelas comunidades indígenas em relação ao funcionamento das escolas, a educação escolar indígena no Estado, especificamente na Raposa Serra do Sol teve um grande avanço, com a formação de professores indígenas, através do Magistério Indígena Tami’Kan e Licenciatura Intercultural, uma formação voltada a educação especiífica e diferenciada.

Como reflexo de conquista, de organização política e social dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, neste caso, da educação escolar indígena, a arma de luta dos professores indígenas e das comunidades sempre esteve voltada para o contexto ” que educação nos temos, que educação nos queremos’. Diante desse contexto, a professora Tereza Pereira de Souza reforçou dizendo que” a estrutura está precária, mas a nossa educação escolar indígena está viva” .

Fotos: Arquivo/CIR.

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