AM – Indígena de 13 anos da comunidade Kambeba ganha medalha de ouro com uma semana de treino no arco e flecha

Nelson encontrou no tiro com arco um grande estímulo para a vida. Foto: Érica Melo
Nelson encontrou no tiro com arco um grande estímulo para a vida. Foto: Érica Melo

Jovem de 13 anos de comunidade indígena do baixo Rio Negro sonha com Olimpíadas

Por Lorenna Serrão, em A Crítica

Este ano o tiro com arco amazonense alcançou um feito inédito. O estudante Nelson Silva de Moraes, de 13 anos, conquistou a medalha de ouro no Campeonato Brasileiro Escolar da modalidade – e o Estado ficou em primeiro lugar no ranking geral. O menino, que competiu pela categoria infantil-masculino, faz parte da comunidade indígena Kambeba (baixo Rio Negro) e representou o Clube de Arqueria Floresta Flecha na etapa regional do torneio organizado pela Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO).

Com apenas uma semana de treino, Nelson – que na língua tupi-guarani se chama Inha – desbancou vários atletas de outros Estados da Federação ao atingir 263 pontos e conquistar a medalha de ouro na competição. “Nelson tem um talento espantoso. Ele treinou apenas uma semana em Manaus e mesmo assim ficou em primeiro lugar. Isso não é sorte de iniciante, é talento”, disse Roberval Santos, técnico da Federação Amazonense de Tiro com Arco (Fatarco).

Com o intuito de ter um atleta amazonense nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) criou o projeto Arqueria Indígena na Amazônia. Durante vários meses a coordenadora Márcia Lot saiu em busca de talentos pelas comunidades indígenas e selecionou 12 jovens de 14 a 17 anos. “Quando o projeto chegou a nossa comunidade, Nelson não deu muita atenção, na verdade ele não quis fazer parte, até porque ainda tem 13 anos. Mas depois começou a praticar tico com arco ao lado dos meninos selecionados”, contou Neurilene Cruz da Silva, que é mãe do campeão.

Ainda segundo Neurilene, após a conquista do ouro no Campeonato Brasileiro Escolar, o pensamento de Nelson mudou. “Ele ficou mais responsável e agora sabe que através do esporte pode conquistar muitas coisas. Ele sonha em estudar medicina e agora está ainda mais animado com os estudos”, completou.

Em 2014, apenas seis meninos dos 12 selecionados permanecerão no projeto da FAS, que conta com a parceria da Sejel e apoio da Coipam e da Seind.

“Os meninos vão ficar morando na Vila Olímpica. A ideia é que eles treinem pela parte da manhã e estudem a tarde”, explicou Roberval dos Santos.

Para que Nelson possa integrar esse grupo, só precisa que os pais autorizem.

“Eu já conversei com ele, ele disse que quer ficar e eu vou apoiar. Acredito que participar desse projeto será muito importante porque ele vai ter uma vida disciplinada. A saudade vai ser grande, mas eu virei visitá-lo sempre”, revelou Neurilene.

Com a autorização da mãe, Nelson está empolgado com a possibilidade de fazer parte do grupo. “Fiquei muito feliz em conquistar uma medalha e quero aprender mais e participar de outras competições também”, comentou o competidor.

O superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgilio Viana é o idealizador do projeto. Ele conta que um dos objetivos é valorizar os indígenas por meio do esporte. “É claro que o Brasil quer conquistar muitas medalhas nas Olimpíadas de 2016. E se tivermos um atleta do Amazonas, um indígena, nessa festa será muito bom. O esporte envolve disciplina, e os jovens que forem selecionados terão além do treinamento do técnico, apoio emocional, que é algo fundamental para o crescimento de qualquer pessoa”, diz Viana.

No futuro

O projeto Arquearia Indígena na Amazônia é uma iniciativa inédita que pretende colaborar para a formação de atletas de alto rendimento e o fortalecimento da equipe brasileira de tiro com arco para competições locais, nacionais e mundiais, incluindo os Jogos do Rio 2016.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.