Visita de lideranças abre exposição de fotos sobre luta pelos direitos indígenas nos últimos 30 anos

Abertura da exposição, no início da noite de terça, na Praça do Museu da República | Oswaldo Braga de Souza - ISA
Abertura da exposição, no início da noite de terça, na Praça do Museu da República | Oswaldo Braga de Souza – ISA

Comentário de indígenas foi de que, apesar dos inúmeros avanços, povos indígenas precisam continuar unidos na luta em defesa de suas terras e seus direitos. Cerca de 700 pessoas foram à abertura da mostra, no noite de terça

ISA

A exposição Povos Indígenas no Brasil 1980/2013 – Retrospectiva em Imagens da Luta dos Povos Indígenas no Brasil por seus Direitos Coletivos foi aberta, na tarde de ontem (19/11), na Praça do Museu da República, em Brasília, com uma visita de três dos mais importantes líderes indígenas brasileiros dos últimos 30 anos.

Raoni Metuktire, Davi Kopenawa e Marcos Terena, protagonistas de vários dos momentos retratados nas imagens da mostra, rememoraram episódios marcantes das lutas pelos direitos indígenas, desde a Constituinte (1986-1988) até as mobilizações recentes.

Raoni Metuktire vê a sua própria imagem, quase 30 anos depois, puxando a orelha do então ministro Mário Andreazza | Oswaldo Braga de Souza - ISA
Raoni Metuktire vê a sua própria imagem, quase 30 anos depois, puxando a orelha do então ministro Mário Andreazza | Oswaldo Braga de Souza – ISA

O comentário geral foi de que, apesar dos inúmeros avanços conquistados nessas décadas, os povos indígenas precisam continuar unidos na luta em defesa de suas terras e seus direitos.

“Os políticos deveriam ver essa exposição para que eles possam aprender a respeitar os direitos indígenas, para que não aconteça o que aconteceu antes”, afirmou Kopenawa. Ele disse que a exposição o fez relembrar tempos de luta, mas também de violência.

Algumas fotos da mostra retratam consequências da invasão de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami (AM/RR), entre 1985 e 1993. Calcula-se que entre 10% e 15% da população na área tenha sido dizimada no período.

Davi Yanomami vê a imagem da índia Kayapó Tuíra chamando atenção de dirigente da Funai sobre impactos de hidrelétrica. "Deviam fazer mais mulheres como ela", comentou Davi | Oswaldo Braga de Souza - ISA
Davi Yanomami vê a imagem da índia Kayapó Tuíra chamando atenção de dirigente da Funai sobre impactos de hidrelétrica. “Deviam fazer mais mulheres como ela”, comentou Davi | Oswaldo Braga de Souza – ISA

Davi acredita que a nova geração de lideranças indígenas está mais preparada para enfrentar os problemas atuais dos povos indígenas, como a volta das invasões de garimpeiros. “Estão querendo estragar a nossa terra de novo. Não vamos deixar. Estamos mais preparados. Antigamente, muitas lideranças não sabiam defender seus direitos, nem sabiam falar português. Nossos filhos, hoje, sabem escrever, reclamar com o governo e os políticos”, disse o líder Yanomami.

“O maior problema continua sendo nossa terra. Estou preocupado com a futura geração do meu povo”, alertou Raoni Metuktire. Ele afirmou que os Kayapó continuam lutando para proteger seu território das invasões. O líder Kayapó aparece em uma das fotos mais marcantes da exposição, puxando a orelha do então ministro do Interior do governo militar, em 1984, Mário Andreazza. “Aceito ser seu amigo, mas você tem de ouvir o índio”, informa a legenda.

“Esses movimentos que estão retratados mostram situações de avanço, de cooperação, quando todos lutavam por objetivos comuns. Conquistamos espaços, ajudamos a pensar e a elaborar várias mobilizações”, lembrou Marcos Terena.

Para ele, dois dos principais desafios atuais do movimento indígena são a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, que está parado no Congresso há vários anos, e a regulamentação do Capítulo dos Direitos Indígenas na Constituição.

Beto Ricardo fala na abertura da exposição. Desafio de comunicar a luta indígena para as novas gerações | Oswaldo Braga de Souza - ISA
Beto Ricardo fala na abertura da exposição. Desafio de comunicar a luta indígena para as novas gerações | Oswaldo Braga de Souza – ISA

Poder evocativo

“Apostamos no poder evocativo dessas imagens e pelos primeiros indícios parece que vai funcionar. As fotos rendem muitos comentários, muitas histórias”, destacou o curador da exposição, Beto Ricardo, do ISA. Ele comenta que um dos principais objetivos da mostra é comemorar os 25 anos da Constituição e reafirmar seu capítulo dos direitos indígenas.

Beto Ricardo concorda que um dos desafios da iniciativa será mostrar a importância da luta pelos direitos indígenas nos últimos 30 anos para as novas gerações que não viveram o período. “Esperamos que essa exposição possa contribuir para que os direitos indígenas sejam efetivados e consolidados no Brasil e no mundo”, finalizou.

À noite, um coquetel e um show com a cantora Elle Márjá Eira, do povo indígena Sami, do norte da Noruega, animaram as cerca de 700 pessoas que compareceram ao evento. A embaixadora da Noruega, Aud Marit Wiig, a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Assirati, o secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza, e o ex-presidente da Funai Márcio Meira estiveram no lançamento.

A mostra comemora os 30 anos do Apoio Norueguês aos Povos Indígenas no Brasil e os 25 anos da Constituição. O projeto é uma realização da Embaixada da Noruega no Brasil e do ISA.

Composta por 43 fotos, apresentadas em ordem cronológica, clicadas por 33 fotógrafos, com mapas e textos de apoio, em português e inglês, a mostra vai itinerar em 2014 por São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Oslo (Noruega). A maior parte das fotos foi publicada originalmente na imprensa ou nos volumes da série Povos Indígenas no Brasil, elaborada, inicialmente, pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) e, a partir de 1994, pelo ISA, com apoio do governo norueguês.

A exposição traz momentos e personagens históricos, retratados num período de 33 anos no qual os povos indígenas saíram da invisibilidade para entrar de vez no imaginário e na agenda do Brasil contemporâneo. O marco desse processo foi o capítulo dos direitos indígenas da Constituição.

Entre outros temas, as imagens retratam a batalha pelo reconhecimento das Terras Indígenas; a resistência às invasões de garimpeiros e madeireiros; o apoio de músicos como Sting e Milton Nascimento; a apropriação das tecnologias do homem branco para a preservação de sua cultura; as ameaças aos últimos povos “isolados”; as mobilizações recentes pela garantia de seus direitos.

Comments (1)

  1. A exposição cumpre um importante papel ao registrar a história da resistência indígena no país, e o apoio solidário do povo e do governo norueguês nestes 25 anos de conquista dos direitos indígenas na Constituição Brasileira. A lamentar apenas a ausência (pelo menos na matéria) do movimento indígena organizado, através de suas principais organizações como a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), também com quase 25 anos de luta pelos povos indígenas da Amazônia brasileira.

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